Quem achava que a briga pelo título de carro mais rápido do mundo estava nas mãos dos fabricantes independentes como Venom e Koenigsegg, errou. A Bugatti voltou a ter oficialmente o carro mais veloz do mundo.
Diferente do recorde do Veyron de mais rápido carro de produção do mundo, a marca desta vez foi sutilmente batizada pela Bugatti como do carro quase de produção, ou nas próprias palavras da empresa, the first near production car.
Vemos este título de carro quase de produção porque o Chiron usado é uma versão modificada do carro vendido pela empresa, que, de acordo com as notas oficiais de impressa, é a base de um modelo que será lançado em breve, provavelmente como uma versão Super Sport ou algo similar.
Desta vez a Bugatti bateu a barreira das 300 milhas por hora, chegando a 304,773 mph (490,484 km/h).
Há mais de dez anos atrás escrevi aqui no AE sobre o Veyron, e logo depois sobre a onda de novos carros que estavam vindo na época. Com a crescente preocupação global sobre poluição e consumo de combustível, parecia que os supercarros estavam condenados, mas graças à Nossa Senhora da Combustão Interna, até hoje temos supercarros e cada dia surgem novos modelos.
O Chiron é um pouco mais do mesmo, é um fato. Os alemães vão falar que é um carro totalmente novo, e que de fato deve ser mesmo em termos de componentes, mas ainda é um derivado aprimorado do Veyron. E isto não é uma coisa ruim, de forma nenhuma.
É impressionante ver que, mesmo com todas as críticas dos ecochatos sobre carros esporte, a Bugatti continua dando de ombros e fazendo carros com motores queimadores de petróleo e 1.600 cv. O motor deste carro do recorde de velocidade tem esta potência (100 cv a mais que o Chiron de produção).
O segredo para tal velocidade, além da potência do motor W-16 quadriturbo, é a aerodinâmica. Este carro é uma espécie de versão cauda longa (longtail como chamam os ingleses) do Chiron. Abaixo podemos ver a comparação dos dois carros, e nitidamente vemos o segmento mais longo do balanço traseiro.
O fluxo de ar é bem mais eficiente com este tipo de construção da carroceria, já conhecida dos projetistas há mais de 50 anos, como o Luiz Alberto Veiga explicou muito bem nesta matéria. Para altas velocidades, o arrasto é muito mais importante que a potência. A dianteira do carro foi levemente redesenhada também para melhor adequação à velocidade proposta.
Como diversos carros modernos, o Bugatti possui controle eletrônico de altura de rodagem, mas neste carro específico um sistema de leitura de altura com laser foi criado para que o carro andasse constantemente o mais baixo possível e próximo ao solo, para melhorar o arrasto aerodinâmico.
Quem esteve ao volante do Bugatti foi o piloto de testes da marca, o inglês Andy Wallace, que tem um longo histórico vitorioso em provas de resistência, como conquistas em Le Mans e Daytona, além de ter sido o piloto que cravou o histórico recorde de velocidade do McLaren F1 nos anos 90.
Esta marca, se o futuro modelo de produção for capaz de reproduzi-la, é importante pois novamente eleva um pouco mais o nível de tecnologia e qualidade dos carros, e como em qualquer competição, os demais vão querer ir atrás da marca para superá-la, e assim todos avançam juntos.
Este sempre foi o grande ponto da Bugatti, que conseguiu fazer não só o carro mais rápido do mundo, mas o carro mais rápido do mundo que tem qualidade e respeita requerimentos, compromissos e regras que valem tanto para o carro de mais de um milhão de euros como para um Volkswagen de cem mil reais.
A Bugatti afirma que, depois de ser a primeira a quebrar a barreira das 300 mph, não vão mais entrar no jogo de quem tem o carro mais rápido do mundo. Nas palavras do alemão Stephan Winkelmann, presidente da marca, “A Bugatti foi a primeira a vencer a barreira das 300 mph e o nome ficará para sempre nos livros de história. Isso mostra o que os engenheiros da Bugatti são capazes de fazer.”
Se entrar em produção e sustentar a marca, espero que este carro seja lembrado pelo marco tecnológico que ele alcançou, e não apenas pelo número de velocidade máxima registrado, pois este carro é muito mais do que isso, da mesma forma que o Veyron foi uma década atrás.
O vídeo da volta de Andy Wallace na pista de testes de Ehra-Lessien, propriedade da VW na Alemanha, pode ser visto aqui abaixo. As duas retas são de 10 quilômetros cada e são unidas por curvas com superelevação.
Assista ao vídeo:
MB