A GM agiu rápido, suspendeu as vendas e promoveu um recall do novo Onix depois que duas unidades se incendiaram. E explicou para o Ministério da Justiça que o problema é provocado por uma pré-ignição e será corrigido com um reajuste do software. Será que um problema tão grave tem solução tão simples?
Sim e não: o que pode estar provocando o incêndio é o óleo em elevadas temperaturas (e um pouco de gasolina) que vaza do motor que se quebra devido a uma combustão irregular da mistura ar-combustível. Mas não se descartam outras hipóteses, pois a própria fábrica parece perdida ao afirmar que o problema é provocado por pre-ignição
Se mesmo a GM que desenvolveu o projeto e os testes não está muito segura, é difícil estabelecer hipóteses para o incêndio. Mas ela pode estar certa ao atribuir o problema a uma combustão irregular.
Combustão – quando é normal, a faísca na vela inicia a queima da mistura ar/combustível que foi comprimida pelo pistão pouco antes de ele atingir seu ponto morto superior no cilindro. Esta queima gera a energia que empurra o pistão para baixo. A biela, acoplada em cima ao pistão e embaixo ao virabrequim, transforma o movimento linear daquele em rotativo deste.
O problema do motor do Ônix pode ser provocado por uma das diversas combustões anormais possíveis.
Detonação – A combustão se inicia normalmente com a centelha na vela. Mas, antes de a frente de chama queimar toda a mistura, ocorre uma auto-combustão de sua parte final. A detonação provoca um violento aumento de pressão e temperatura dentro da câmara, mas nem sempre danifica o pistão, pois ele já estava iniciando seu movimento de descida.
Pré-ignição – Antes mesmo de o pistão atingir o ponto morto superior, há uma combustão espontânea da mistura ar-combustivel, que pode ser provocada pela baixa qualidade da gasolina (ou álccol), ou por um ponto excessivamente aquecido na câmara, como a própria vela, ou um depósito de carvão na cabeça do pistão, ou pela válvula de escapamento. Neste caso, a pressão e temperatura sobem excessivamente pois as forças provocadas pela queima contrariam o movimento ascendente do pistão.
ONIX – Entretanto, a combustão enquanto o pistão ainda está subindo no cilindro pode ser provocada pela própria faísca na vela disparada quando ele ainda está iniciando seu movimento ascendente de compressão. Neste caso, o problema é da regulagem do ponto de ignição na central eletrônica, ou seja, o momento da faísca na vela foi programado para antes do que deveria e, portanto, encontrou o pistão no meio do caminho, atuando sobre ele com forças violentas em sentido contrário ao seu movimento. O que pode danificar sua cabeça, os anéis de segmento e até entortar bielas, que não demoram a quebrar, provocando então a quebra do bloco do motor e o vazamento de óleo. Que provoca o incêndio.
RECALL – O reajuste no ponto de ignição deve ser a correção imaginada pela GM na central eletrônica dos novos motores de três cilindros do Onix. Seu software não deveria estar programado para enfrentar situações extremas de elevadas temperaturas, baixa umidade e combustível de baixa octanagem ou qualidade. O que será reprogramado? Um “atraso” no ponto de ignição, fazendo a centelha na vela pular um pouco mais tarde, quando o pistão estiver alguns milímetros mais alto. Caso seja este o procedimento, a GM vai enfrentar outro problema: atrasar o ponto de ignição pode reduzir a potência do motor e o carro terá que ser novamente homologado.
TURBO – Para se obter máxima eficiência com motores de menor cilindrada ou com apenas três cilindros, como no novo Ônix, as fábricas se utilizam de turbocompressores que aumentam a pressão interna e a possibilidade de combustões anormais. Outra delas é a LSPI, iniciais em inglês para pré-ignição a baixa rotação, mas apenas em motores turbo com injeção direta, que não é o caso do Onix.
A conclusão é que a GM está com um enorme de um problema e terá que resolvê-lo. Em quanto tempo? A que custo?
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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