O Chevette chegou ao mercado nacional em abril de 1973. Tinha uma concepção conservadora, com motor dianteiro longitudinal, câmbio de 4 marchas e tração traseira com eixo rígido. O Dodge 1800, lançado um mês antes, era de mesma configuração. Em pouco tempo chegariam novos modelos com motor e tração dianteiros, como o Passat em abril do ano seguinte e o Fiat 147, dois anos mais tarde, em setembro, este inovando na indústria nacional com o motor transversal..
O novo Chevrolet, projeto Opel , o braço alemão da General Motors Corporation desde 1927 (vendida para a PSA em 2017), era o Kadett de terceira geração e foi concebido com o objetivo de fazer um carro pequeno — 4.120 mm de comprimento com entre-eixos de 2.390 mm — e de projeto único para todo o mundo, de maneira que todas as subsidiárias da GM desfrutassem do mesmo projeto. Aqui, a GM, embalada com o sucesso do Opala, apresentado no Salão do Automóvel de 1968 e que se tornou um grande sucesso de vendas, animou seus dirigentes a lançarem um carro menor e mais barato que o Opala e que desfrutassem de uma concepção mecânica similar ao de seu irmão maior. Um dado curioso é o Chevette, ou Kadett C, ter estreado no Brasil seis meses antes do lançamento na Europa.
Claro que o projeto mundial do Chevette caía como uma luva para as aspirações da GM por aqui. O carro tinha um motor que havia sido projetado pela subsidiária inglesa do grupo (Vauxhall), um 4-cilindros em linha com comando de válvulas no cabeçote acionado por correia dentada. Com bloco e cabeçote em ferro, esse motor tinha como grande atrativo o cabeçote de fluxo cruzado: os dutos da admissão ficavam de um lado e os de escapamento do outro, assim os gases, teoricamente, circulavam melhor entrando nos cilindros por um lado e saindo pelo outro.
Além disso, o cabeçote de fluxo cruzado impedia que o excesso de calor do coletor de escapamento aquecesse em demasia o coletor de admissão, o que prejudica o rendimento volumétrico. A atuação das válvulas era indireta por meio de alavancas-dedo. Inicialmente esse motor tinha cilindrada de 1.398 cm³ e desenvolvia 68 cv e torque máximo de 9,8 m·kgf, lembrando que eram números brutos, como se usava na época.
Mas o desempenho do pequeno Chevrolet era limitado pela inércia do pesado cardã e do diferencial traseiro do eixo rígido. Em que pese a boa dinâmica do modelo em frenagens, curvas e mudanças de direção, o Chevette nunca fez muito sucesso nas pistas de competição: frente aos concorrentes da época, seu maior peso e grande inércia da transmissão impediam um bom desempenho. Mas, como um todo, o carro sempre foi muito bom quando o assunto era o consumidor, que gostava da sua dinâmica e design. Tanto é verdade que ele ficou em produção por pouco mais de 20 anos, de abril de 1973 a dezembro de 1993. Na verdade, quem define se um carro é bom ou não é o público consumidor, e um carro produzido por tanto tempo mostra ser do agrado do público.
Ao longo de sua vida, o Chevette teve versões com motor 1,0 e outras com motor 1,6, ambos baseados no projeto inglês original de 1.4 litro. A GM, ao longo desses 20 anos, foi atendendo os anseios do consumidor, criando a versão 1.0 (batizada de Júnior) para quem queria um Chevette mais despojado e econômico, e as versões 1,6 para quem buscava um carro mais completo e veloz. Para melhorar desempenho e até o consumo, o modelo ganhou câmbio de 5 marchas e até mesmo uma versão automática de 3 marchas, ideal para quem queria mais comodidade.
Do projeto original de carroceria 3-volumes, o Chevette ganhou inicialmente uma versão hatch, depois uma perua (chamada de Marajó) e até uma picape (Chevy 500). Claro que essas inúmeras versões, motorizações e câmbios foram também responsáveis pela longevidade do modelo em nosso mercado. No final de 1993, quando saiu de linha, o Chevette abriu espaço para a chegada do novíssimo e moderno Corsa, um projeto arrojado para a época, vindo da Opel alemã, e que deixava o Chevette bem obsoleto.
Sem dúvida, o Chevette tem um espaço de destaque na história da indústria automobilística brasileira e marcou sua época no nosso mercado.
DM
A coluna “Perfume de carro” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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