A Volkswagen AG deu continuidade a seu plano de eletrificar carros icônicos e colocá-los à disposição dos interessados providos de uma carteira polpuda.
Acaba de chegar a informação sobre o lançamento de uma Kombi tipo Samba com propulsão elétrica, que foi cuidadosamente restaurada, recebendo várias atualizações mecânicas — verdadeira joia.
Volkswagen e-Bulli Concept
O planejado era lançar esta novidade de interior moderno, mas de corpo antigo, na Techno Classica 2020, megafeira de carros antigos planejada para ser realizada na cidade alemã de Essen de 25 a 29 deste mês. Abrindo um parêntese: esta feira ocupa uma área de 120.000 m² e se desenvolve em 20 pavilhões; com 1.250 expositores e uma previsão de público de 190.000 pessoas nos cinco dias — talvez a maior feira dedicada ao antigomobilismo no mundo. Mas como esta feira foi postergada em razão da presente epidemia , o lançamento do “e-Bulli Concept” foi feito virtualmente no dia 19 de março último.
A responsável por este projeto é a Volkswagen Veículos Comerciais (VWCV, a sigla em inglês), sediada em Hannover. Este veículo-conceito de emissão zero é baseado na Kombi T1, que conhecemos por “Corujinha”, em seu modelo luxo Samba, com 21 janelas e um enorme teto solar de lona, que foi totalmente restaurada.
Uma mensagem importante para todos os fãs da Kombi T1 e da mobilidade elétrica: a combinação de veículos elétricos clássicos e de alta tecnologia estará disponível para compra de verdade! A empresa eClassics, parceira da VWCV, planeja oferecer: ou somente conversões de Kombis T1 para propulsão elétrica, como também veículos completos no estilo do novo e-Bulli.
Tudo começou com a ideia aparentemente audaciosa de alterar um Bulli histórico para um sistema de tração que produza zero emissões na estrada, a fim de alinhá-lo aos desafios de uma nova era. Para isso, os engenheiros e projetistas da VWCV formaram uma equipe, juntamente com especialistas em sistemas de trens de força do Grupo Volkswagen e da empresa eClassics, especializada em conversões de carros elétricos (com ênfase para os clássicos).
Como base para o futuro e-Bulli, a equipe escolheu uma Kombi T1 Samba produzida em Hannover em 1966, que antes de sua conversão passou meio século nas estradas da Califórnia! Uma coisa era certa desde o início: o e-Bulli seria uma Kombi T1 que utilizaria os mais recentes componentes do sistema de propulsão elétrica do Grupo Volkswagen. Agora este plano já foi realizado com o e-Bulli pronto e sendo apresentado. O veículo serve como um exemplo do grande potencial que esse conceito oferece.
Os componentes do sistema de propulsão elétrica
O motor boxer de quatro cilindros de 44 cv deu lugar, no e-BULLI,, a um motor elétrico Volkswagen de 83 cv. Somente a comparação da potência dos motores torna bem evidente que o veículo-conceito possui características de tração completamente novas, pois o motor elétrico é praticamente duas vezes mais potente que o antigo boxer 1500..
Além disso, com torque máximo de 21,6 m·kgf, o novo motor fornece mais que o dobro da força do que o motor da T1 original de 1966 (10,4 m·kgf) podia fornecer. O torque máximo também está — como é típico para motores elétricos — imediatamente disponível. E isso muda tudo. Nunca antes houve um T1 “oficial” tão potente quanto este e-BULLI. Novo desta maneira, torna-se assim um cruzador silencioso que combina o fascínio de um sistema de propulsão de emissão local zero com o estilo incomparável de uma Corujnha clássica.
A transmissão de potência é feita por meio de uma caixa de redução única (todo o controle de velocidade é feito a partir do sistema eletrônico de variação de frequência do motor elétrico de corrente alternada). O sistema de acionamento é comandado pela alavanca de câmbio, que agora está posicionada entre o motorista e o banco do passageiro da frente.
As posições do seletor da transmissão (P, R, N, D, B) são indicadas ao lado da alavanca. Na posição B, o motorista pode variar o grau de recuperação, ou seja, de regeneração de energia ao frear ou usar a função gerador como freio (‘B’ é de freio em alemão e em inglês). O e-Bulli atinge uma velocidade máxima de 130 km/h (limitada eletronicamente). Com seu motor boxer original esta Kombi conseguia atingir uma velocidade máxima de 120 km/h.
Assim como era com o motor boxer da Kombi T1 de 1966, a combinação de caixa redutora e motor elétrico integrado, instalado na parte traseira do e-Bulli 2020, aciona as rodas traseiras.
Uma bateria de íons de lítio é responsável por fornecer energia ao motor elétrico. A capacidade de energia útil da bateria é de 45 kW·h. Personalizado para o e-Bulli em colaboração com a empresa eClassics, um sistema de eletrônica de potência na parte traseira do veículo controla o fluxo de energia de alta tensão entre o motor elétrico e a bateria e, no processo, converte a corrente contínua (CC) armazenada na bateria em corrente alternada (CA) necessária ao motor. Além disso, os componentes eletrônicos de bordo são alimentados com 12 volts através de um conversor CC/CC.
Todas os componentes standard do sistema de propulsão elétrica foram fabricados pelo Volkswagen Group Components (Fábrica de Componentes do Grupo Volkswagen) em Kassel. Além disso, vêm os módulos de íons de lítio projetados na unidade de componentes de Braunschweig. Eles são transferidos pela empresa eClassics para um sistema de bateria apropriado para a Kombi T1. Como no novo veículo ID.3 e no futuro ID.BUZZ, a bateria de alta tensão está alojada centralmente no piso do veículo. Essa disposição abaixa o centro de gravidade do e-Bulli e, portanto, melhora suas características de dirigibilidade.
A bateria é carregada através de um soquete do sistema de carregamento combinado. Ele permite carregar com corrente alternada ou contínua. Corrente alternada: a bateria é carregada através de um carregador CA com carga de 2,3 a 22 kW, dependendo da fonte de eletricidade. Corrente contínua: graças ao soquete de carregamento do sistema de carregamento combinado do e-Bulli, a bateria de alta tensão também pode ser carregada em pontos de carregamento rápido em corrente contínua com até 50 kW de carga. Nesse caso, pode-se carregar a bateria em até 80% em 40 minutos! A autonomia com uma carga de bateria completa é superior a 200 quilômetros.
Novo chassi para mais conforto, maior segurança e comportamento superior
Comparado à T1, andar na e-Bulli é uma sensação completamente diferente. Isso é realçado ainda mais pelo chassi, que também foi redesenhado: suspensões dianteira e traseira independentes multibraço com molas amortecedores ajustáveis concêntricos, mais um sistema direção de pinhão e cremalheira e quatro freios a disco ventilados, tudo contribuindo para que um novo e rápido dirigir seja transferido para a estrada com equilíbrio e elegância.
Uma melhorada no visual
A VWCV modificou o design exterior e interior. Paralelamente ao novo sistema de propulsão elétrica, foi criado um conceito interior para o e-Bulli de vanguarda e elegante. O novo visual e as soluções técnicas correspondentes foram desenvolvidos pelo Centro de Design da VWCV em cooperação com a divisão de Veículos Antigos da empresa e o seu Departamento de Comunicação.
Os designers modernizaram o exterior do icônico veículo com grande sensibilidade e requinte, incluindo a pintura em dois tons, laranja Energético metálica e areia Dourada Metálico fosca. Detalhes como os novos faróis circulares de LED com luzes de rodagem diurna comunicam externamente a transformação para a era moderna.
Do lado de fora, na parte traseira, existem LEDs indicadores de carga. Eles sinalizam para o motorista que se aproxima do e-BULLI quanta carga a bateria de íons de lítio ainda tem antes mesmo dele chegar ao veículo.
Somente quando se olha para o interior de oito lugares é que se percebem algumas coisas que não são se imagina haver numa Kombi T1. Os designers da VWCV reimaginaram muito do interior sem, no entanto, perder de vista por um segundo o conceito original. O banco é um dos novos recursos. De acordo com a pintura externa, é também em duas cores, Saint Tropez e laranja Saffrano.
Posicionada dentro de um console entre o motorista e o banco do passageiro da frente está a nova alavanca seletora da transmissão. O interruptor de energizar/desenergizar o motor elétrico também fica no console.
A madeira maciça na aparência do convés de um navio é usada em todo o piso. Como resultado disso e dos agradáveis tons de couro brilhante, esta Kombi Samba eletrificada assume uma sensação marítima. Essa impressão é reforçada pelo grande teto solar panorâmico corrediço.
O painel também foi bastante modernizado. O novo velocímetro é baseado no original, enquanto um mostrador digital de duas linhas integrado cria um elo para a era moderna. Este mostrador digital no velocímetro analógico fornece ao motorista uma variedade de informações, inclusive a autonomia. Os LEDs também indicam se, por exemplo, o freio de estacionamento está acionado ou o plugue de carregamento está conectado. Há um pequeno, mas adorável, detalhe no centro do velocímetro: um símbolo estilizado do Bulli.
Uma infinidade de informações adicionais é mostrada através de um tablet integrado ao console do teto. Através do Volkswagen We Connect o motorista do e-Bulli também pode acessar informações online pelo aplicativo do smartphone ou por um PC, em um portal da internet correspondente, como carga da bateria restante, autonomia atual, quilômetros percorridos, tempo de viagem, e consumo e regeneração de energia.
A música a bordo vem de um rádio de estilo retrô com aparência antiga autêntica, que, no entanto, é equipado com tecnologia de ponta como DAB + (receptor digital padrão europeu), Bluetooth e USB. O rádio está conectado a um sistema de som com componentes ocultos, incluindo um subwoofer.
O e-Bulli é uma verdadeira “nave espacial” de conforto e tecnologia a toda prova, um sonho de consumo.
Volkswagen e-Cabrio Concept
Em setembro do ano passado, um mês depois do encerramento da produção do Fusca moderno (de 2011) em Puebla, México, foi lançado o e-Cabrio. Este lançamento foi divulgado de tal maneira que muitos tiveram a impressão de que “o Fusca Voltou”, quando na verdade o que ocorreu foi o lançamento, no Salão de Frankfurt, de um carro antigo restaurado e eletrificado oficialmente pela Volkswagen alemã em conjunto com a empresa eClassics e demais empresas do Grupo Volkswagen fornecedoras dos componentes para esta eletrificação. Sim, a mesma eClassics que trabalhou no e-Bulli!
Também neste caso abriu-se a possibilidade da compra de veículos restaurados e eletrificados, bem como várias outras alternativas, como o fornecimento de chassi rodante já adaptado à propulsão elétrica, como mostrado na foto abaixo (mas o trabalho de adaptação tem que ser feito necessariamente ne eClassics na Alemanha):
O e-Cabrio recebeu o conjunto motriz da versão elétrica do up! Nas fotos abaixo podemos ver como os elementos do conjunto motor e os correspondentes módulos eletrônicos foram arranjados de uma maneira compacta que permitiu a sua instalação no compartimento do motor do Fusca.
Como no caso do e-Bulli, os componentes de potência, tanto o inversor (que passa da corrente contínua para uma corrente alternada de frequência controlada para alimentar o motor de corrente alternada) como o próprio motor são arrefecidos a líquido, dada a potência neles dissipada.
A conversão adiciona um pouco de peso: o Fusca Cabriolé clássico convencional pesa em torno de 800 kg, enquanto uma versão eletrificada chega cerca de 1.300 kg.
Mesmo com este peso extra o seu desempenho não diminuiu. Pode acelerar de 0 a 50 km/h em pouco menos de quatro segundos e de 0 A 80 km/h em pouco mais de oito segundos. O Fusca elétrico pode cruzar a 150 km/h, sua velocidade máxima.
Então, quanta energia ele tem? Seu sistema de bateria possui 14 módulos, cada um com capacidade de 2,6 kW·h. Essas baterias de íons de lítio fornecem cumulativamente energia de até 36,8 kW·h. Com uma autonomia de 250 quilômetros, os motoristas podem desfrutar de um dia relaxante na estrada sem se preocupar. Se o Fusca ficar sem energia, ele possui um sistema de carregamento rápido que lhe permite viajar 150 quilômetros após a bateria ser carregada numa estação de carga por apenas uma hora.
Também no caso do e-Cabrio foi criado um velocímetro customizado com um mostrador digital de duas linhas e LED’s indicando a posição da alavanca seletora da transmissão:
O e-Cabrio também é um sonho de consumo, como o é o e-Bulli, mas o preço final destas restaurações e conversões para motorização elétrica, respeitando os estritos padrões de fábrica, gira na casa das centenas de milhares de reais, se aproximando dos 400.000. Mas seguramente são veículos que têm a durabilidade de carros elétricos novos. A eClassics oferece, no caso do e-Cabriolé, a possibilidade de conversão reversa, no caso de um proprietário querer devolver o carro à sua originalidade.
Ambas as conversões mostradas nesta matéria mostram uma tendência na Europa, e atendem à divulgação da linha empresarial da Volkswagen que caminha para o abandono dos motores de combustão interna e passar a abraçar integralmente os veículos elétricos. Tanto o e-Cabrio como o e-Bulli servem muito bem a este propósito empresarial.
Mas… estas conversões certamente chocam aos colecionadores de raiz que, seguramente, preferem manter seus carros de coleção com seus motores originais, talvez soltando algum óleo no chão da garagem.
A eClassics além das conversões em Fuscas e Kombis, está preparando a conversão de um Porsche 356.
Por falar em reformas com padrão de qualidade Volkswagen, convém lembrar que é possível enviar o seu Fusca ou Kombi alemães para serem restaurados pela oficina de antigos da Volkswagen na Alemanha, mas o preço de tais restaurações costuma não ser muito diferente do valor das conversões que acabamos de ver. Sem esquecer que, geralmente, o prazo de entrega fica em aberto, na dependência da necessidade de peças especiais.
AG
Para este trabalho foi necessária uma grande pesquisa na internet, em sites como: NetCarShow.com, My Modern Met, eClassics, This is Money, Wikipedia, etc.
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A coluna “Falando de Fusca & Afins” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.