A nova Ford Ranger Storm busca atingir o público que precisa de uma picape com melhor capacidade para uso fora de estrada. As versões Limited e XLT já possuem ótimo conjunto mecânico que permitem trafegar por diversos tipos de piso sem muita preocupação. A nova versão teve a adoção dos novos pneus Pirelli Scorpion ATR Plus 2 que aumentou a capacidade de tração em pisos acidentados e escorregadios, além de facilitar a expulsão de lama e pedras dos sulcos.
Foi com essa versão que fui até a região de Atibaia, SP, com o apoio de Luís Fernando Carqueijo, editor 4×4 do AE e proprietário da Trailway, empresa especializada em eventos fora de estrada. O nosso destino era a Pedra do Coração a 1.200 m de altitude, entre as cidades de Atibaia e Bom Jesus dos Perdões, SP.
Para sorte da miniexpedição, tivemos chuva na madrugada do dia escolhido. Se isso deixou o caminho sem poeira, deixou também o piso escorregadio. Essa situação aumenta a dificuldade para os menos experientes, e ajuda a avaliar os recursos técnicos oferecidos pelo veículo.
Mecânica a toda prova
O conjunto motriz é o mesmo utilizado nas versões Limited e XLT, sendo motor Duratorq turbodiesel de 5 cilindros com 3.198 cm³ que entrega 200 cv a 3.000 rpm e 47,9 kgf.m de torque máximo na faixa de 1.750 a 2.500 rpm. O câmbio automático Getrag CR60 de 6 marchas também é o mesmo das versões superiores, e única opção disponível. Através da alavanca de câmbio é possível selecionar o modo S-sport para uma condução mais esportiva, onde as trocas de marcha acontecem em rotação mais elevada, ou a partir dessa posição efetuar as trocas de marchas manualmente.
O sistema de transmissão 4×4 possui caixa de transferência de comando elétrico, com reduzida e bloqueio elétrico independente do eixo traseiro. O controle eletrônico de descida ajudou a transpor algumas situações que encontramos no caminho. (Veja no vídeo anexo a esta matéria)
Suspensão, direção e freios são os mesmos conjuntos avaliado no modelo XLT em setembro/2019 , e trazem segurança e conforto de rodagem.
A adoção dos pneus “borrachudos” Pirelli Scorpion ATR Plus 265/65R17 é o grande diferenciador para esta versão Storm. Antes de andar com a picape havia o receio do ruído de rolagem desses pneus em asfalto. A surpresa foi positiva, pois os pneus rodam silenciosamente, com pouca diferença em relação aos pneus Bridgestone Dueler avaliado na versão XLT.
Obviamente que ao fazer curvas no asfalto, forçando todo o conjunto sobre o pneu, nota-se um maior dobramento e princípio de escorregamento, mas nada que comprometa a dirigibilidade geral do veículo. A distância de parada também não deve sofrer grande influência com a adoção deste novo conjunto.
Foi possível notar menor aspereza de rodagem no asfalto e o novo patamar de conforto de suspensão, obtido desde o lançamento da Ford Ranger 2020 em junho 2019, não foram alterados com esse novo pneu.
Considerando que o pneu 265/65R17 tem apenas 1 mm de diferença no raio dinâmico para o pneu 265/60R18 utilizado na XLT, e o peso da Storm é 2.230 kg contra 2.261 kg da XLT, o desempenho 0-100 km/h de 11,6 segundos deve ser repetido nesta versão, e a velocidade máxima limitada em 180 km/h.
Explorando os recursos 4×4
Desde o início do trecho de terra foi necessário engrenar a tração 4×4 (4H) para transpor a primeira subida. O piso estava molhado e havia pequenas erosões. Com o sistema acionado praticamente não houve escorregamento dos pneus. Primeira boa impressão é a que fica.
A partir desse ponto todo o trajeto foi feito com a tração 4×4 engatada. A primeira parte do trecho com 4H até chegarmos à descida da Pedra Maldita. Nesse ponto foi necessário engatar a reduzida (4L) e acionar o controle automático de descida.
Observando o carro guia descendo foi possível notar o terreno escorregadio pois ele já desceu com a traseira derivando para a esquerda. O mesmo aconteceu com a Ranger Storm. Atravessou para a esquerda, exigindo um leve contra esterço e sentindo a atuação do sistema de controle de descida atuando. Uma leve aceleração foi suficiente para colocar a picape novamente no trilho e descer até transpor a Pedra Maldita.
Essa pedra está situada no meio da trilha e tem uma face lisa que propicia pouca aderência em caso de chuva muito intensa, daí seu sugestivo nome. Por sorte, a chuva da madrugada foi leve e ainda havia uma camada de terra para ajudar na tração de descida.
Como o objetivo era experimentar os atributos da Ranger Storm nessa condição real de uso aventureiro, manobrei o veículo e parti para escalar a Pedra Maldita. Primeiramente, com o bloqueio do diferencial traseiro desligado, não foi possível sair do local. Ocorria o escorregamento dos pneus sobre a pedra. Acionado o bloqueio foi possível aumentar a aceleração e fazer a escalada até encontrar um outro ponto para retorno, repetindo a descida com maior confiança.
A subida final para chegada na Pedra do Coração encontramos pedras e erosões para serem ultrapassadas. Mesmo com os estribos laterais posicionados um pouco abaixo da altura do quadro do chassi, não tivemos dificuldade ou interferência com o solo.
Além dos ângulos de entrada e de saída, uma das características importante para um veículo de uso fora de estrada é o ângulo de transposição, que é influenciado pela distância entre eixos e a altura livre no centro do veículo. Em veículos projetados para uso exclusivamente fora de estrada, os engenheiros buscam “esconder” todos componentes acima da linha inferior do chassi, de modo a protege-los e melhorar esses ângulos. No caso da Ranger o tanque de combustível de 80 litros está situado um pouco abaixo da linha do chassi, e talvez tenha sido essa altura que permitiu instalar os estribos em uma altura que apesar de prejudicar o ângulo de transposição, auxilia a entrada e saída da cabine.
Na descida da Pedra do Coração, optou-se pelo caminho mais íngreme, onde era esperado encontrar mais erosão. Para nosso azar a diversão foi menor, pois a prefeitura da cidade de Bom Jesus dos Perdões, SP fez manutenção recentemente na via, portanto a descida de uma picape com todos os recursos da Ranger Storm foi assim facilitada. Talvez outros veículos com menos recursos teriam maiores dificuldades.
Ao finalizar essa pequena expedição, saindo e regressando a Campinas, o consumo de combustível acumulado nos 199 km percorridos foi de 8,4 km/l. O valor homologado pela Ford junto ao Denatran é 9,4 km/l na estrada e 8,4 km/l em uso urbano.
Interior despojado
Se para o conjunto mecânico a Ford decidiu instalar o que há de melhor em seu portfólio para equipar a Ranger Storm, no acabamento do interior foram buscar a simplicidade da versão XLS.
Os bancos são revestidos em tecido na cor cinza escuro, e no volante multifuncional inexiste o revestimento em couro, mas mesmo assim os comandos do rádio, painel de instrumento configurável e controle de velocidade de cruzeiro estão ali presentes.
O revestimento do interior é completado com carpete no piso, e para facilitar limpeza e manutenção possui tapetes de borracha do tipo bandeja. Na parte traseira o tapete de borracha cobre o túnel central também.
Banco do motorista tem regulagem (mecânica) de altura, distância e inclinação do encosto, proporcionando bom conforto e facilidade de encontrar a melhor posição de dirigir. Teto e colunas são revestidos em tecido de cor clara dando maior sensação de espaço interno. Bancos traseiros acomodam bem a três passageiros em virtude da ausência de descansa-braço central, e conta com engates Isofix para dois bancos infantis.
Ficou faltando o sistema de subida e descida automática em todos os vidros, visto que apenas o da porta do motorista tem essa funcionalidade. A chave de ignição poderia ser do tipo presencial e o espelho retrovisor interno eletrocrômico seria bem-vindo.
Segurança
A segurança não foi deixada de lado pelos engenheiros da Ford nessa versão de menor custo. Sete bolsas de ar inflável são disponíveis (dois frontais obrigatórios, dois laterais, dois de cortina e um para joelho do motorista).
O controle de estabilidade e tração chamado AdvanceTrac® pela Ford incorpora controle eletrônico de estabilidade, controle de tração, assistente de partida em rampas, controle automático de descida, sistema anticapotagem, assistente de frenagem de emergência, acendimento automático de luzes de emergência após frenagem brusca, e controle adaptativo de carga.
Exterior atraente
A ausência de cromados pode ser criticada por alguns e admirada por outros. E essa deve ser a resposta de mercado para a Ranger Storm. Todos os cromados do interior e exterior foram eliminados e substituído por preto fosco. Enquanto outras marcas usam sua versão sem cromado como premium, a Ford fez certo de repassar essa redução de custo ao comprador.
Grade dianteira com a inscrição STORM ao centro, e as faixas decorativas em preto fosco das laterais, capô e traseira, trazem o toque aventureiro esportivo à picape e chama a atenção por onde passa. O emblema-logotipo oval da Ford ficou meio perdido no meio da grade, poderiam ter buscado uma solução mais atraente e harmoniosa.
As molduras plásticas adotadas nas bordas dos para-lamas casaram bem com o efeito visual do veículo, e passam a impressão do veículo ser mais alto e musculoso.
O “santoantonio” instalado na caçamba incorpora a terceira luz de freio e é equipamento de série na versão Storm. O snorkel e capota marítima presentes no veículo testado são acessórios. A instalação do snorkel não melhora a profundidade máxima de imersão de 80 cm para operação do veículo, mas certamente trazem maior confiança ao enfrentar trechos alagados.
Produzido na Argentina, será oferecido com sete cores externas as sólidas vermelho Bari e branco Ártico, a metálica prata Geada e as perolizadas, azul Belize, vermelho Toscana, cinza Moscou e preto Gales.
Conectividade suficiente
Assim como a versão XLT, a Storm não tem todos os recursos de auxilio de condução voltados a segurança relatados na Limited. Porém, o conteúdo oferecido satisfaz a grande parte dos usuários desse tipo de veículo e dão plena segurança na condução.
A central multimídia é a versão mais completa da linha Ford, o SYNC 3®, com câmera de ré incorporada, sendo bem fácil e intuitiva a operação. Igualmente à XLT, possui toca-CD que está incorporado ao console central, componente cada vez mais raro de encontrar.
O sistema de ar-condicionado tem controle eletrônico automático e bizona, porém sem saídas de ar climatizado para o banco traseiro. HÁ duas portas USB e tomada 12-V no console central e para o banco traseiro apenas uma tomada 12-V.
Conclusão
Com preço de lançamento de R$ 150.990 anunciado em março/2020, a Ford já efetuou um reajuste em seus veículos, e hoje a Storm é oferecida no website por R$ 155.990. Surpreende no posicionamento de preço R$ 10 mil abaixo da versão XLS que utiliza motor 2,2-l e tração 4×4. Certamente ainda é um valor atraente para quem busca um carro com a capacidade técnica e conforto proporcionado pela Ranger Storm.
Olhando para a relação custo-benefício, mesmo com a adição dos acessórios descritos, a Ranger Storm cumpre com o objetivo de oferecer um veículo atraente, confortável e com ótima versatilidade para uso na cidade e campo. Vamos ficar de olho para ver como a concorrência vai responder a essa tacada da Ford.
Vídeo
GB
FICHA TÉCNICA FORD RANGER STORM 2020 | |
MOTOR | |
Designação | Duratorq 3,2 L Turbodiesel |
Descrição | 5-cil em linha, dianteiro, longitudinal, bloco e cabeçote de ferro fundido, duplo comando no cabeçote,injeção direta common rrail |
Nª de válvulas por cilindro | Quatro |
Diâmetro x curso (mm) | 89,9 X 100,76 |
Cilindrada (cm³) | 3.198 |
Potência máxima (cv/rpm) | 200/3.000 |
Torque máximo (m·kgf/rpm, | 47,0/1.750 |
Taxa de compressão (:1) | 15,5 |
TRANSMISSÃO | |
Tração | 4×2 traseira, 4×4 e 4×4 reduzida |
Câmbio | Automático epicíclico, 6 marchas Getrag 6R80 |
Relações das marchas (:1) | 1ª 4,171; 2ª 2,342, 3ª 1,521; 4ª 1,143; 5ª 0,867; 6ª 0,691; ré 3,400 |
Relação de diferencial (:1) | 3,73 |
FREIOS | |
Dianteiro (tipo, Ø mm) | Disco ventilado/n.d. |
Traseiro (tipo, Ø mm) | Tambor/n.d. |
Descrição | Hidráulico, duplo-circuito diant./tras;, ABS (obrigatório) e distribuição eletrônica das forças de frenagem |
SUSPENSÃO | |
Dianteira | Independente, braços triangulares superpostos, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem |
Traseira | Eixo rigido, feixe de molas semielípticas e amortecedor pressurizado |
DIREÇÃO | |
Tipo | Pinhão e cremalheira, eletroassistida |
Voltas entre batentes | n.d. |
Diâmetro mínimo de curva (m) | n.d. |
RODAS E PNEUS | |
Rodas | Liga de alumínio 7,5J x17 |
Pneus | 265/65R17 |
Estepe | Igual às demais rodas |
PESOS (kg) | |
Em ordem de marcha | 2.230 |
Carga máxima | 1.040 |
Peso bruto total | 3.200 |
Reboque máximo com freio | 2.720 |
CARROCERIA | |
Tipo | Carroceria em aço sobre chassi, 4 portas, 5 lugares |
DIMENSÕES EXTERNAS (mm) | |
Comprimento | 5.354 |
Largura sem/com espelhos | 1.860/ nd |
Altura | 1.821 |
Distância entre eixos | 3.220 |
Bitola dianteira/traseira | 1.560/1.560 |
Altura do solo | 232 |
CAPACIDADES (L) | |
Caçamba | 1.180 |
Tanque de combustível | 80 |
DESEMPENHO | |
Velocidade máxima (km/h) | 180 km/h (limitada) |
Aceleração 0-100 km/h (s) | 11,6 |
Relação peso-potência (kg/cv) | 11,3 |
CONSUMO DE COMBUSTÍVEL INMETRO/PBEV | |
Cidade (km/l, G/A) | 8,4 km/l |
Estrada (km/l, G/A) | 9,4 km/l |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | |
v/1000 na última marcha (km/h) | 55,1 |
Rotação a 120 km/h em 6ª (rpm) | 2.176 |
Rotação à veloc.máxima em 4ª (rpm) | 3.264 |
GARANTIA | |
Termo | 5 anos |
EQUIPAMENTOS RANGER STORM 2020 |
Advance Track com sistema anticapotagem e controle adaptativo de carga |
Ar-condicionado automático digital bizona |
Assistente de fechamento da caçamba |
Assistente de partida em rampas |
Bolsas infláveis frontais (obrigatórias), laterais, de cortina de joelhos do motorista |
Câmera traseira |
Capacidade de transpor trecho alagado de 800 mm de profundidade |
Controle automático em descidas |
Controle de oscilação de reboque |
Diferencial traseiro bloqueante eletrônico |
Direção aletroassistida com compensação de ventos laterais e rodas desbalanceadas |
Faróis de neblina |
Sensor de estacionamento traseiro |
Sistema Isofix de fixação de bancos infantis |
SYNC 3 com navegador e comando de voz |
Tela do multimídia 8″ |