Da história recente de nossa indústria automobilística, o Ford EcoSport (foto) tem uma das mais interessantes e ricas para ser contada. Oriundo do projeto Amazon, utilizando a plataforma do então Novo Fiesta (que havia chegado em maio de 2002), o suve foi apresentado oficialmente pela primeira vez no Salão do Automóvel de 2002 e já mostrava, graças ao interesse do público pela novidade, que teria um futuro bem promissor.
O lançamento veio alguns meses depois, em abril de 2003, quando o modelo chegou só com tração dianteira e oferecido com três opções de motor e três versões: 1,0 Supercharger (com compressor de deslocamento tipo Roots) de 95 cv (disponível apenas na versão de entrada XL), o já conhecido 1,6 Rocam de 98 cv (presente nas três versões XL, XLS e XLT) e o bom 2-L Duratec de 143 cv na topo da linha XLT. A novidade do suve compacto confirmava as expectativas de sucesso: já no primeiro ano de produção, cerca de 30 mil unidades foram vendidas e ele chegou a ter até fila de espera.
O interessante na trajetória do Ford EcoSport é que, mais ou menos nessa época, outras marcas também pensavam em um carro familiar que não fossem as tradicionais peruas (camionetas de uso misto), nascendo, por exemplo, os monovolumes (carros com carroceria de um único volume): entre eles, Renault Scénic em 1998, Mercedes-Benz Classe A em 1999, Citroën Xsara Picasso em 2001, Chevrolet Meriva em 2002, Fiat Idea em 2005, entre outros.
Mas a Ford pensou diferente e trouxe o conceito de suve, e o fato é que, querendo ou não, os reis do mercado atual são eles, e os monovolumes já saíram de moda há alguns anos. Foi aí que a Ford deu o tiro certeiro, garantindo a liderança e reinado sozinho do EcoSport no nosso mercado por mais de oito anos, quando chegou o Renault Duster, seu primeiro concorrente, no final de 2011.
Mas esse acerto não foi ao acaso: pesquisas realizadas pela Ford em 1998, mostravam um grande interesse do consumidor brasileiro por um suve compacto que pudesse ser comprado por um preço honesto, tivesse bom espaço interno e um visual aventureiro. Em meados dos anos 90, era claro o grande desejo de compra pelos suves importados então oferecidos em nosso mercado, todos impossíveis de serem adquiridos pela classe média brasileira devido aos altos preços.
Partindo desses estudos de marketing e da experiência que a Ford tinha nos Estados Unidos com os suves, os engenheiros brasileiros, liderados por Luc de Ferran, ousaram e começaram a trabalhar no projeto do EcoSport, enquanto a concorrência focava na então novidade dos monovolumes.
Luc de Ferran, hoje aposentado, tem o mérito de ter idealizado, com total e absoluto sucesso, um suve a partir de um hatchback, algo que ninguém havia pensado. E a assinatura de “aventureiro” foi garantida pelo estepe externo, fixado na porta de carga de abertura horizontal da direita para a esquerda..
Com o passar do tempo e as mudanças de mercado, o Eco, como ficou carinhosamente chamado pelo grande público, foi sendo adequado ao gosto do consumidor, com adição de tração 4×4 na versão 4WD 2.0 em 2004, conversão do motor 1,.6 Rocam para flex em 2005 e a chegada da famosa versão FreeStyle em 2006 (que, de série especial, se tornou configuração de linha, presente até hoje na gama do modelo). Em 2007, foi lançado o câmbio automático e, em 2008, foi a vez do motor 2-L se tornar flex.
Foram duas reestilizações efetuadas na primeira geração. Mudou bastante no modelo 2008, quando trocaram os faróis quadrados por modelos mais largos, rodas novas e lanternas diferentes e melhorias internas, além de ajustes nas relações de marcha e nos freios. Esta foi a segunda versão do EcoSport original.
Depois, em fevereiro de 2010, bem antes que o praticado na época, saíram com o modelo 2010/11, com a terceira versão dessa primeira geração. Externamente mudaram grade, rodas, barras do teto, frisos, e também colocaram o letreiro com o nome do carro no capô, no mesmo estilo dos Land Rover, fabricante que em 2002 passou a ser da Ford, para em 2008 passar à indiana Tata. Por dentro também fizeram ajustes no quadro de instrumentos e nos revestimentos, além de colocar um apoio de pé para o motorista no modelo automático e outras melhorias. Nessa terceira versão também alteraram a garantia de fábrica de um ano para três anos.
Nova geração
A segunda geração veio no começo de 2012, praticamente com as mesmas dimensões da primeira, mas totalmente diferente interna e externamente, e agora usando a base do New Fiesta, o que garantiu um entre-eixos ligeiramente maior — de 2.488 mm para 2.521 mm —, suficiente para melhorar o espaço interno, crítico no banco traseiro tal como no New Fiesta. Esse novo Ford EcoSport deixou de ser exclusividade dos mercados latino-americanos e se tornou um carro global, sendo vendido também em outros continentes.
Por aqui, a nova geração do suve compacto trocou o motor Rocam pelo mais moderno 1,6 Sigma de 110/115 cv, além da permanência do potente 2.0 Duratec, agora com 140/147 cv. No final do mesmo ano, chegava a versão FreeStyle 2,0 4×4, que tinha foco nos consumidores ainda mais aventureiros. Para a época, uma evolução indiscutível em termos de tecnologia e segurança, com adição de equipamentos como controles de estabilidade e tração, bolsas infláveis laterais, direção eletroassistda, sistema de entretenimento Ford Sync, entre outros.
Avançando 5 anos, em 2017, chegou a reestilização da segunda geração, que é o carro vendido até hoje. Agora ainda mais moderno, o suve compacto da Ford foi totalmente renovado quando o assunto é motor/câmbio: o 1,6 Sigma é trocado pelo moderno e econômico tricilindro1,5 Dragon , que entrega bons 130/137 cv, além do novo 2,0 Direct Flex de 170/176 cv no lugar do Duratec.
O câmbio automático dupla-embreagem PowerShift passou a epicíclico de 6 marchas, e a tração 4×4 veio alguns meses depois na versão Storm AWD, ainda mais voltada para o fora de estrada. Essa reestilização trouxe ainda algumas tecnologias como os pneus runflat (que permitem a rodagem com o pneu furado), alertas de ponto cego e tráfego transversal à retaguarda, central multimídia com diversas funções, entre outros.
Foi nesse momento que a tecnologia de pneus runflat veio a favor de quem apreciava o EcoSport mas não o estepe externo, que pôde ser eliminado na versão Titanium, esta passando ao motor Dragon 1,5-litro no lugar do Duratec 2-L, hoje disponível no Storm AWD apenas.
Sem dúvidas, desde seu lançamento até hoje, o Ford EcoSport foi um modelo de destaque, comprovado principalmente pelos 17 anos de mercado, tendo alcançado em 2011 o marco das 700.000 unidades produzidas (ainda na primeira geração), e, no final do ano passado, mais 600.000 unidades da segunda geração (das quais aproximadamente 59% ficaram no mercado brasileiro e as restantes foram exportadas). Vendido hoje em mais de 150 países, produzido em outras três fábricas (China, Índia e Romênia) e totalizando mais de 1,3 milhão de carros feitos desde 2003 só na fábrica de Camaçari, na Grande Salvador, Bahia, o EcoSport é, até hoje, uma referência quando o assunto é suve compacto.
Recentemente, a Ford anunciou sua decisão de se especializar na produção de picapes e suves, e o EcoSport, ao lado de modelos como Explorer, Escape, Bronco e Territory, é um dos veículos com presença garantida no novo portfólio global da marca.
DM
A coluna “Perfume de carro” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
(Atualizada em 21/06/20 às 9h00, informações complementares relativas à primeira geração)
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