O novo Renault Duster foi apresentado no início de março deste ano  em Foz de Iguaçu, PR e todos os detalhes podem ser conferidos aqui. Nesta semana tive a oportunidade de utilizar o carro no dia a dia e ver como se comporta em situações que normalmente não se consegue avaliar nos eventos das fábricas.

Apesar de seguir com a mesma plataforma Dacia B0 da Europa, para o modelo 2021 foram feitas alterações em todos os painéis externos. O ângulo do para-brisa foi rebaixado de 30,6 graus,para 27,2 graus, o que ajudou a melhorar o coeficiente de arrasto aerodinâmico (Cx) em 3%, ficando em 0,40. O entre-eixo permaneceu o mesmo de 2.673 mm, que proporciona uma boa distribuição do espaço interno.

Na categoria de suve compacto o Renault Duster é o que tem o melhor porta-malas. É possível acomodar 473 litros com os bancos traseiros em sua posição normal. E a carga útil é de 500 kg. Se considerar o carro com 5 passageiros de 70 kg cada um, sobra 150 kg para ser acomodado no compartimento de bagagens. São 30 kg por passageiro. Nada mau!!

Trem de força

Enquanto é especulada a chegada do motor 1,3-l turbo para o próximo ano, é possível ver que o crescimento do espaço sob o capô já está pronto para receber algo diferente. Por agora ficamos com o conhecido motor 1,6-l SCe flex de quatro cilindros em linha, 16 válvulas, com duplo comando de válvulas no cabeçote por corrente e com variação de fase na admissão. A injeção é no duto e como resultado entrega 118/120 cv a 5.500 rpm e 16,2 m·kgf de torque máximo a 4.500 rpm. Para partidas a frio abaixo de 18 º C ainda é necessário manter abastecido o reservatório de gasolina localizado no compartimento do motor junto ao para-brisa no lado direito do carro.

A esse motor foi introduzido o sistema Start/Stop para melhorar o consumo de combustível.em uso urbano Eu aprecio essa funcionalidade nos carros modernos, e entendo que existe uma parcela de usuários que ainda é resistente ao seu uso e/ou aplicação. Talvez a não aceitação do sistema é pelo fato de ser novo e o nível de desconhecimento ainda é alto. No Renault Duster causou-me estranheza o fato de ao desligar o motor, desliga-se também a assistência elétrica da direção. É certo que ao parar no trânsito dificilmente será necessário esterçar as rodas, mas foi o primeiro veículo que avaliei que tem essa característica. Outra coisa a se acostumar.

O câmbio CVT X-Tronic é continuidade do ano-modelo anterior. O conjunto tem 6 marchas e apesar das trocas em aceleração ocorrerem de forma linear e suave, as retomadas trazem alguns incômodos. Em pequenos aclives em rodovia o sistema eleva demasiadamente as rotações do motor para manter a velocidade. A 120 km/h em Drive o regime de rotações do motor é de 2.000 rpm. Ao encontrar um pequeno aclive, o sistema vai acelerando o motor e reduzindo marchas continuamente, chegando a 5.000 rpm, tudo para manter a velocidade. Em seguida volta a reduzir para o regime de 2.000 rpm. Isso causa o aumento momentâneo do consumo de combustível e maior ruído interno na cabine.

Ao mover a alavanca de câmbio para esquerda é possível dirigir em modo manual, situação que não aconselho para quem busca economia de combustível na estrada. Enquanto em Drive a 120 km/h o motor gira suave a 2.000 rpm, ao passar para o modo  manual 6 o motor passa a 2.800 rpm, prejudicando sensivelmente o consumo. Já em trajetos urbanos, o modo manual traz mais agilidade ao veículo.

Definitivamente este conjunto do Duster não lhe confere características esportivas. Com um contido peso em ordem de marcha de 1.279 kg, o 0-100 km/h declarado é de 12,4/12,3 segundos, e a velocidade máxima, 172/173 km/h.

O consumo de combustível registrado pela Renault junto ao Inmetro no Programa Brasileiro de Etiquetagem Veicular é de 10,7/7,2 km/l na cidade e 11,1/7,8 km/l na estrada. Na minha viagem de Campinas à Curva AE para a gravação do vídeo desta matéria obtive a média de 10,2 km/l, o que não é muito bom, considerando que o carro estava abastecido com gasolina e fiz o trajeto a 110 km/h no modo ECO.

Exterior musculoso

As linhas mais musculosas do novo Renault Duster já haviam sido destacadas na matéria de apresentação, e agora, no dia a dia, nota-se que chamam realmente a atenção. O carro parece de uma categoria superior. O pacote Outsider instalado na versão testada incorpora a barra com faróis de longo alcance no para-choque dianteiro. Se por um lado os faróis proporcionam ótima iluminação ao transitar por locais escuros, por outro, fica sempre a preocupação do custo de reparação em caso de danos, passíveis de acontecer em uma simples manobra de estacionamento, visto que ficam totalmente expostos e são literalmente o para-choque do carro.

A altura livre do solo é também invejável na categoria: 237 mm. O ângulo de entrada de 30 graus e de saída de 34,5 graus seguem dando ares de fora de estrada para o suve — que deixou de ter a opção 4×4.

Estradas de terra, ruas esburacadas, lombadas e valetas deixam de ser uma preocupação para a rodagem diária. Ao transpor lombadas em maiores velocidades nota-se o final de curso da suspensão traseira, mas o bico não bate no chão como alguns dos concorrentes diretos.

Faróis ainda utilizam lâmpadas halógenas e nesta versão Iconic tem o acendimento automático por sensor crepuscular e a luz de rodagem diurna em LED. A meu ver essa é a combinação perfeita na relação custo-benefício-desempenho. No parte inferior do para-choque estão instalados os faróis de neblina.

As lanternas traseiras têm um desenho muito parecido com as Jeep Renegade ou, para os mais saudosistas, com as do  Ford Galaxie 500. De todo modo é um desenho totalmente novo para o Duster e está harmonicamente integrado com o desenho da tampa de carga.

As barras longitudinais no teto e as molduras de caixa de roda, portas e para-choque complementam as formas mais musculosas que o novo Duster incorporou e que fica mais volumoso com o pacote de opção Outsider que tem custo de R$ 2.300.

Interior bem funcional

A renovação implementada no interior não deixou para trás os estudos de ergonomia funcional. O console central e ligeiramente voltado para o motorista, facilitando visualização e operação.

A nova central multimídia EasyLink, com tela tátil de 8” tem ótima leitura, tanto sob incidência da luz solar quanto sob iluminação noturna. Na intuitividade deixou a desejar. Mesmo após horas de estudo e aprendizado ainda teve funções que tive dificuldade de encontrar e onde vários passos são necessários até chegar nelas. A conectividade com smartphones Android Auto e Apple Carplay é feita através de cabo, e tem a inconveniência da porta USB ficar na face frontal da própria central. Poderia ter sido posicionada no console como outros fabricantes o fazem. Ficou faltando portas USB para carregamento de dispositivo eletrônico no banco traseiro.

O volante multifuncional incorpora os comandos do controle de velocidade de cruzeiro e limitador de velocidade do lado esquerdo. Estes são de fácil operação, e têm desempenho dentro do esperado. No lado direito do volante estão os comandos do computador de bordo que apresenta os dados no centro do quadro de instrumentos.

Os comandos do sistema de som são através de uma terceira alavanca posicionada atrás do volante e abaixo do comando do limpador de para-brisa, tradição da marca. A visualização destes comandos é dificultada pelo próprio volante, mas depois de ajustar o tato, é possível utilizar os comandos às cegas.

Como já mostrado na matéria de apresentação do novo Duster, o revestimento interno segue o padrão monocromático em preto. Inclusive o forro do teto nessa cor, o que reduz a percepção do bom volume interno da cabine.

O conforto dos bancos dianteiros é muito bom, e mesmo em trechos longos não causou fadiga do corpo. No banco traseiro acomoda bem duas  pessoas, como praticamente todos os carros deste segmento, em que o do meio fica prejudicado pelo desenho do banco e pelo túnel central.

O sistema de ar -ondicionado tem funcionamento silencioso e resfria rapidamente a cabine. O comando é elétrico de uma zona, e não dispõe de saídas de ar climatizado para a traseira. O ponto positivo é o nível de ruído do ventilador interno e o fluxo de ar baixo quando na primeira velocidade. O conforto geral proporcionado é muito bom.

Ainda no console central estão localizados os interruptores para desligar o sistema Start/Stop, ativação do sistema ECO que altera o ponto de troca de marchas do câmbio, travamento central, sistema de alerta de estacionamento e o excelente sistema de câmeras. São quatro delas instaladas externamente no veículo, duas abaixo dos retrovisores externos, uma na dianteira e uma na traseira. Além de facilitar as manobras em marcha a ré, as câmeras laterais e frontal permitem maior segurança em todas as manobras.

Dinamicamente confortável

A nova calibração da suspensão segue privilegiando o conforto ao rodar. Apresenta um bom controle de movimentação entre os eixos, porém com uma tendência a rolagem lateral maior do que o desejado. Se a suspensão traseira tivesse mais 5 milímetros de curso de extensão seria muito bem-vindo, pois não atingiria o final de curso com tanta frequência.

Ruído e aspereza de rodagem não incomodam, mesmo em pisos mais ásperos, com irregularidades ou nas estradas de terra e cascalho. Surpreende neste aspecto, pois o braço de controle da suspensão dianteira é triangular com duas buchas horizontais, o que tecnicamente traria maior nível de aspereza.

O novo sistema de direção eletroassistida trouxe maior conforto nas condições de estacionamento e manobras de baixa velocidade. O incremento de esforço indexado à velocidade está bem ajustado e traz precisão para contornar curvas em velocidade.

Freios a disco ventilado na dianteira e tambor atrás apresentam boa modulação do pedal, com bom balanceamento de força x desaceleração. Para o peso e desempenho do carro estão bem dimensionados, não exigindo maiores gastos ou complexidade.

Conclusão

O novo Duster chega para se posicionar na média do segmento. Não é um carro que apresenta atributos superlativos, mas também não tem nada que prejudique sua imagem e reputação. Para aqueles que simpatizam com a marca e com suve com cara aventureira, certamente é a boa opção.

A não ser pelo consumo de combustível, um pouco acima da média da categoria, no uso do dia a dia não deixará decepcionado aquele que pagar os valores que já foram majorados desde a apresentação no início de março.

Zen – manual – R$ 74.690
Zen – CVT –       R$ 80.690
Intense – CVT    R$ 86.690
Iconic – CVT      R$ 90.690

GB

Ficha técnica e lista de equipamentos, após as fotos adicionais: