Confesso que sempre me senti meio constrangido com minha inépcia ao lidar com as modernas tecnologias, até perceber a mesma dificuldade num jovem que formava dupla comigo, durante o lançamento de um modelo importado. Quando ele assumiu a direção, estava certo de presenciar um show de habilidade. Mas ele praguejava sem conseguir sintonizar uma estação no rád…. (desculpe) na tela multimídia.
Morro de saudade dos antigos rádios com dois botões circulares: o da esquerda ligava e aumentava o volume, o da direita sintonizava as estações. Um sucesso quando surgiu o Becker com sintonia automática!
Som no carro? Existiu, na década de 50, um chiquérrimo toca-discos Philips que se instalava sob o painel, com uma suspensão interna que permitia tocar disquinhos (vinil de 7 polegadas, 45 rpm…) sem que a agulha pulasse. Mas, claro que, às vezes pulava…
Ficou obsoleto rapidamente, substituído pelo toca-fitas K7, que convivo até hoje nos carros antigos. Aí chegaram os toca-CD, com invejável qualidade de som. Alegria que durou pouco, pois também quase desapareceram, substituídos pelo USB ou por entrada nenhuma: meu filho já ouve (por Bluetooth) no som do carro as músicas armazenadas no celular. Ou pelo Spotify. A tela multimídia tem tantas funções que, se descubro como ligar o rádio, só consigo ouvir as emissoras registradas na memória. E olhe lá…
Quando o carro enguiçava, muitas vezes se resolvia o problema com uma lixa de unha no platinado ou araminho para desentupir o giclê do carburador. Platinado e carburador já foram há tempos para o museu. E carro dificilmente enguiça, embora a bomba de combustível elétrica ainda pregue suas peças…
Envenenar motor de carro era para poucos: exigia talento, tempo, paciência e muito conhecimento técnico. Hoje, tudo se resolve em minutos com a troca de um chip na central eletrônica. Motorista pode até — acreditem — aumentar eletronicamente o ronco do motor.
Espelho retrovisor é uma encrenca: molha, embaça, suja, sai da posição, prejudica a aerodinâmica e esbarra nas paredes da garagem. Agora já tem desembaçador, regulagem elétrica, e se recolhe sob comando do motorista. Mas às vezes esbarra em outro carro, quebra e custa o mesmo que um aparelho de tevê. Aliás, não precisa mais do outro carro: basta você irritar um motoqueiro…
E já estão sendo eliminados: visão perfeita, lateral e traseira, por câmeras. Sem prejudicar a aerodinâmica.
Ainda tem o pneu que fura. Primeiro avanço tecnológico foi o runflat, acessível para poucos e não adequado para nossas crateras asfálticas. Quando só fura (e não rasga), dá para continuar rodando até o posto. Mas já se desenvolve solução ainda melhor, que não fura. Por via das dúvidas, deixo o quase medieval macaco firme no porta-malas.
Te aborrece puxar a vareta do nível de óleo? Não vai durar muito e nem mesmo a troca de óleo do motor e câmbio. Não vai ter embreagem patinando, nem correias, filtros de óleo, combustível, e ar. Nem checar o nível do líquido de arrefecimento do motor. Chama-se motor elétrico. Com uma única peça móvel que dura mais que o carro e não requer manutenção. Já não é mais sonho de uma noite de verão: são caros e inadequados para longos trajetos, mas já estão nos showooms. Na hora da revisão, só parte elétrica, radiador e mangueiras do sistema de arrefecimento da bateria (pensou que não tinha, é?) freios, direção e suspensão. Cano de descarga despencando, nunca mais.
(Mas, confesso… adoro um V-oitão!)
E tem pior(…), pois vem aí o autônomo. Nada de motorista: é só entrar e digitar o endereço no painel. Ou por comando de voz: “Me leve ao escritório e depois busque minha mulher na loja”.
Os avanços tecnológicos continuam e cada dia surge mais uma novidade que derruba antigos hábitos e procedimentos. Só tem um equipamento mantido há mais de um século: o limpador do para-brisa. Elon Musk (Tesla) anunciou que desenvolve um sistema a laser. Será? Para mim, uma invenção literalmente sujeita a chuvas e trovoadas…
Muitas das tecnologias aplicadas aos automóveis vieram da aeronáutica. E avião continua com arcaicas palhetas varrendo vidros. Então, enquanto a Boeing ou Airbus não apresentarem uma novidade, duvido que apareça alguma para o carro…
BF