O Jeep Renegade desde sua estreia no Brasil em 2015 não teve grandes modificações. Na linha 2019 teve a oferta da nova central multimídia, algumas pequenas modificações de conteúdo e um realinhamento de preços, que na época chegaram a baixar em até R$ 9 mil para a versão Sport 1,8-l flex com câmbio automático. Mas isso já é passado. Os preços já voltaram aos níveis Brasil desse segmento.

Ainda não tinha avaliado o Renegade fora de um Campo de Provas, portanto esta semana foi meu primeiro contato com o suve no uso “civil”. A primeira impressão é a que fica, e para mim ficou o bom acabamento interno do modelo Longitude. Sempre tive a imagem de acabamento espartano nos carros da FCA, mas dentro deste Jeep acabei mudando essa percepção. Não chega a ser um carro de luxo, mas os materiais utilizados, o desenho e a execução são muito bem equacionados. Tudo isso foi conseguido sem que o DNA Jeep fosse deixado de lado.

Se preferir, assista primeiro ao vídeo:

Motor e câmbio

O motor flex E.torQ 1,8-l de aspiração atmosférica não empolga para empurrar o suve de 1.480 kg. Se a busca é por um desempenho mais esportivo, talvez seja necessário esperar o novo motor turbo que se especula aparecer até o final do ano. O motor atual tem potência máxima de 135/139 cv a 5.750 rpm e torque máximo de 18,7/19,2 m·kgf a 3.750, a relação peso-potência é de 11,0/10,6 kg/cv. O veículo estava abastecido com álcool.

Acoplado ao câmbio automático Aisin AW60T de 6 marchas está montado na transversal e a tração é dianteira. O Renegade é disponível com tração 4×4 apenas quando equipado com motor Diesel 2,0. O desempenho na aceleração 0-100 km/h é anunciado pelo fabricante em 11,9/11,1 segundos e a velocidade máxima de 180/182 km/h. Vejam que os números acompanham a falta de empolgação que se sente ao dirigir o carro.

Analisando a integração do motor com a carroceria e demais sistemas do carro, nota-se que o trabalho realizado pelos engenheiros da FCA foi muito bom. Não há nada destoante, o escalonamento de marchas é bem ajustado para a relação peso-potência apresentada. O câmbio automático permite trocas de marchas no modo manual tanto através da alavanca seletora (sobe marcha para trás/reduz para frente), quanto pelas borboletas atrás do volante.

Os ruídos e vibrações originados no motor chegam dentro da cabine suavizados, e não incomodam nas diversas condições de uso diário. A capa plástica “organizadora” com isolação acústica do motor, existe apenas na versão top (Limited) e impacta no visual do compartimento do motor, assim como no nível geral de ruído em rotações mais altas.

Outros números que não empolgam são os de consumo de combustível homologados junto ao Inmetro. 10/6,9 km/l no uso urbano e 12/8,6 km/l no rodoviário. Para compensar tal deficiência a FCA adotou tanque de 60 litros, permitindo assim uma autonomia de até 720 km na rodovia quando utilizando gasolina. Na minha viagem de Campinas até a curva AE obtive a média de 9,0 km/l com álcool, trafegando no limite de velocidade das vias e com o ar-condicionado ligado. Cumpriu-se, portanto, o dado de consumo rodoviário divulgado.

Comportamento dinâmico

A utilização de suspensão independente nas quatro rodas do tipo McPherson mostra-se bem eficiente e traz bom conforto de rodagem. Novamente, não é um carro esportivo, mas um suve com vocação aventureira, potencializado pelo vão livre do solo de 224 mm. Os ângulos de entrada, 29 graus, e saída de 32 graus permitem enfrentar várias situações que outros suves da mesma categoria ficariam em apuros.

A utilização de pneus do tipo M+S, All Season,  de baixo atrito de rolamento, acaba prejudicando um pouco o nível de ruído de rolagem. Mas, por outro lado, dá ao veículo a versatilidade de enfrentar pisos escorregadios com menor dificuldade e melhora em até 2% o consumo de combustível. Os pneus Pirelli Scorpion Verde 225/55R18V têm altura de flanco de 123,8 mm protegendo bem as rodas de liga de alumínio com face diamantada e pintura escurecida.

Toda movimentação da carroceria e aspereza de rodagem estão bem isoladas pelo conjunto suspensão-pneus. Mesmo ao exigir de todo o conjunto em curvas no asfalto, não é notada rolagem excessiva ou dobramento dos flancos dos pneus. A Jeep adotou a recomendação de duas pressões de pneus para o Renegade com motor flex. 32 lb/pol² para conforto e 38 lb/pol² para economia de combustível. Utilizando esta segunda pressão o ruído de rodagem aumenta substancialmente.

A resposta da direção eletroassistida é precisa mas tem esforço estático acima do esperado. A progressão de “peso” com o aumento da velocidade é perceptível, proporcionando um esforço agradável em velocidades acima de 80 km/h. Já a sensação de centro do sistema é obscuro e com pouca definição. Talvez com a aplicação do novo motor possam rever esse conceito e acentuar a definição de centro na calibração, o que se traduz em menor cansaço do motorista em longos percursos.

Ponto positivo para a especificação de peso de reboque de 400 kg especificado na ficha técnica do manual do proprietário, que vem acondicionado em uma elegante bolsa de tecido e protegido das intempéries que um Jeep deve enfrentar.

Freios a disco ventilado na dianteira e não ventilado atrás proporcionam segurança para um suve que pode atingir 1.880 kg se considerarmos os 400 kg de carga útil. Traz também baixo risco de exigir manutenção precoce ao trafegar por trechos alagados, caso utilizasse tambor atrás. A modulação do pedal de freio e sua ergonomia estão dentro dos padrões italianos de pedaleira. Talvez a versão manual permita o punta-tacco com grande facilidade.

Pontos positivos para o freio de estacionamento eletromecânico, automaticamente ativado ao mover a alavanca seletora para a posição P. Como também para o sistema start/stop que desliga o motor em paradas de trânsito, com a vantagem de ser possível desativar o sistema por interruptor no console central.

Interior conectado e bem acabado

A nova central multimídia chama a atenção pelo maior tamanho da tela, comparado à anterior, e tem um bonito grafismos com símbolos hexagonais combinando as cores branca e laranja. O fundo de tela tem o mesmo tema.

Conexão com Android Auto  e Apple CarPlay, que já não pode faltar em nenhuma central, é por meio de cabo e a tela tem boa resposta tátil. Ainda através da tela do multimídia é possível ajustar o sistema de ventilação interna e ar-condicionado de duas zonas. Além de acesso a uma bússola, item que não poderia faltar em um carro com apelo fora de estrada como este.

Os bancos são revestidos em material sintético imitando couro com desenho moderno de costuras aparentes, mas o encosto de cabeça dianteiro tem tamanho avantajado. Os descansa- braços dianteiro, central e nas portas são acolchoados, permitindo um toque suave onde se toca. O restante do interior é em plástico rígido e reciclável. O banco do passageiro dianteiro tem o interessante recurso do porta-objetos sob o assento. Veja no vídeo essa funcionalidade.

Os ajustes de altura do banco, altura e distância do volante e apoio para o pé esquerdo proporcionam um ótimo conforto ao dirigir. Mesmo em trechos mais longos não senti fadiga do corpo. E quando há curvas, a boa retenção lateral do encosto do banco envolvente chama a abusar da aceleração lateral.

O volante multifuncional tem 24 comandos à disposição do motorista, permitindo controlar inúmeros sistemas do carro, sem que seja necessário tirar a mãos do confortável aro revestido em couro

No quadro de instrumentos encontra-se o tradicional conta-giros no lado esquerdo e velocímetro no direito, ao contrário do que se vê na outra marca da FCA, a Fiat.. O grafismo laranja representando lama substitui a tradicional faixa vermelha de limite de rotações do motor. Ao centro, um mostrador em TFT (Thin Film Transistor) permite acompanhar o funcionamento de alguns sistemas da telemática embarcada, além das informações do computador de bordo.

O sistema de som tem alto-falantes grandes nas portas dianteiras e traseiras, além do tweeter adicional no alto do painel de instrumentos. Todo esse conjunto se traduz em ótimas respostas sonoras e a capacidade de recepção da antena é muito boa também.

O conforto no banco traseiro permite espaço suficiente para dois ocupantes adultos, com o incômodo do encosto do banco ser muito vertical. O terceiro fica prejudicado pelo desenho do assento do banco e pelo túnel central. O volume para bagagem ficou limitado em 320 litros, já com o ganho dado pela adoção de estepe compacto.

Quanto a segurança passiva, o Renegade vem equipado com as duas bolsas de ar infláveis frontais obrigatórias. Caso o comprador queira o conjunto completo de bolsas composto por duas laterais, duas de cortina e uma para o joelho do motorista, tem que adquirir o Pack Safety por R$ 3.500. Este conjunto só é de série na versão Trailhawk.

Exterior marcante

O desenho exterior do Renegade não nega sua origem e sua vocação aventureira. Batizado de “feinho simpático” pelo Bob Sharp na matéria do lançamento em 2016 , não teria outro nome que melhor combine com este suve.

Mesmo sendo uma versão 4×2 dá vontade de subir no carro e enfrentar umas estradas de terra ou trilhas. Os para-choques na cor preta emendam o desenho com as molduras plásticas das caixas de rodas e soleira das portas. Tudo isso em harmonia com os quadros das janelas pintados em preto fosco e com a grade frontal na mesma cor com as sete fendas do DNA Jeep.

Os faróis em formato circular têm iluminação muito boa em LED e luz de rodagem diurna complementam o DNA frontal da marca. Na traseira as lanternas quadradas são semi envolventes e já deixaram sua marca. Tanto que no lançamento do novo Renault Duster falou-se muito da similaridade de ambas.

Essa cara de jeep militar não combina com aerodinâmica, tanto que o coeficiente de arrasto aerodinâmico (Cx) de 0,36 denuncia isso. E certamente é um dos fatores que não ajudam o Renegade a ter resultados de desempenho superiores.

Conclusão

O Jeep Renegade redefiniu o padrão de suve no Brasil no seu lançamento, o que foi muito bem relatado pelo saudoso  Roberto Nasser. Além de ser um bom produto, ajudou a demarcar melhor o território da marca Jeep no retorno ao nosso mercado.

Nesse período já ganhou um grande fã clube e alguns  haters. Mas certamente o que importa para a FCA e seus acionistas mundo afora é que o Renegade segue sendo objeto de desejo para muitos. Na lista dos mais vendidos em 2020 está entre os 10 mais vendidos, disputando a liderança com o VW T-Cross no segmento de suves compactos.

A chegada do novo Chevrolet Tracker e do VW Nivus, além da possibilidade de um novo motor mais potente para o Renegade deve fazer esse segmento seguir crescendo. Por um lado, a competição ajuda a dar maiores opções aos compradores e por outro é salutar por trazer inovações ao mercado. Quem sempre ganha é o consumidor.

GB