A história da equipe Fittipaldi de Fórmula 1 é riquíssima, uma verdadeira empreitada rumo ao maior desafio que uma equipe de corrida poderia enfrentar. Contamos toda a história da equipe nesta série de matérias aqui no AE.
Dentre as temporadas que a Copersucar disputou, a de 1978 foi a melhor de todas, com o modelo F5A recuperado por Ricardo Divila e a FLY Studio depois do fraco desempenho do F5 projetado por David Baldwin. Com este carro, Emerson conseguiu o incrível segundo lugar no GP do Brasil e marcou 17 pontos do campeonato.
Em paralelo ao Campeonato Mundial de F-1, a Inglaterra sempre teve inúmeros campeonatos de todas os tipos possíveis e imagináveis. O automobilismo britânico é algo de se tirar o chapéu, o entusiasmo e paixão do povo pelas corridas aflora de todas as formas de competições locais que conseguem organizar. Até mesmo um campeonato local de F-1 foi organizado.
As origens remetem à chamada Shellsport International Series, uma competição que se enquadrava no grupo Fórmula Livre, que recebia carros de F-1, F-2, Fórmula 5000 e até carros da Fórmula Atlantic. Era uma categoria praticamente livre para carros de fórmula, que aceitava uma vasta gama de modelos. Este campeonato realizou-se em 1976 e 1977, como uma junção das provas de Fórmula Livre que já existiam no país há anos. Os carros geralmente eram comprados usados das equipes de F-1 e F-2.
Nestes dois anos, carros F-1 como Ensign, Penske, Shadow, McLaren, Surtees, Brabham, March e Williams preenchiam o grid juntamente com os Chevron e Lolas da F-5000, competitivos graças aos seus motores Chevrolet V-8 de 5 litros e aos Ford V-6 de 3,4 litros.
Em 1978, o órgão organizador britânico dos campeonatos chamado British Racing and Sports Car Club (BRSCC) unificou o grid já repleto de carros de F-1 para formar um campeonato nacional, similar ao Shellsport dos anos anteriores. O novo nome seria Campeonato Britânico de Fórmula 1, mas também ficou conhecido como Aurora AFX Fórmula 1, por conta do patrocínio da empresa fabricante de brinquedos e hobbies chamada Aurora.
A empresa tinha forte representação no nicho de brinquedos, e ter a marca ligada a um campeonato de corrida de verdade alavancaria ainda mais a venda de seus produtos. Um item bem conhecido da Aurora era o autorama. Diversos modelos de pistas e carrinhos davam uma vasta gama de opções para os compradores.
O Aurora AFX durou de 1978 a 1980, com uma pausa em 1981 e voltando em 1982 sem o patrocínio da Aurora. Os carros participantes eram similares ao de 1977, com forte presença dos McLaren (modelos M23, M25 e M26) e March (761 e 781).
Um dos pilotos de destaque do campeonato era o britânico Guy Edwards, experiente participante de corridas de longa duração com posterior participação em Le Mans, na F-5000 e passagem prévia na F-1, correndo com carros da McLaren, Lola, Hesketh e BRM. Na temporada de 78 da Aurora AFX ele ficou em quarto lugar, correndo com um March.
Para a temporada seguinte, Guy ingressou na equipe RAM, que já estava disputando o campeonato mundial da F-1 e agora corria na AFX. Dentre as várias opções de carros usados disponíveis para compra, a RAM escolheu um modelo que havia mostrado bons resultados na F-1 em 1978. A equipe dona do carro também precisava de dinheiro para continuar investindo, e assim foi feita a negociação. A equipe em questão era a Copersucar dos irmãos Fittipaldi, e o carro era o F5A.
Na realidade, a RAM Racing comprou dois chassis da Copersucar, os números 2 e 3, enquanto que o primeiro chassi permaneceu com Emerson e a Copersucar para suprir os problemas do F6 enquanto este era retrabalhado por Divila e a FLY Studio. Há relatos que posteriormente a Copersucar entregou um terceiro chassi para a RAM, que seria o carro número 4, e que este foi usado apenas como carro-reserva e em alguns testes. O belga Bernard de Dryver, companheiro de Edwards, pilotaria o segundo carro da equipe RAM.
Os dois F5A perderam o fundo amarelo e ganharam as cores azul e branco. Os principais patrocinadores da equipe eram a Mopar (sim, a divisão de performance da Chrysler) e a Ultramar, já presentes na categoria, herança dos tempos de Edwards correndo com carros da March, na qual foi piloto “oficial” depois que a marca deixou de competir na F-1.
Na temporada de 79 da AFX, a equipe RAM teve um bom desempenho, os dois carros tiveram resultados satisfatórios. A concorrência era forte, pilotos de qualidade com carros competitivos. Mesmo não sendo a F-1, correr contra um McLaren não era uma tarefa fácil.
O destaque foi a prova de Brands Hatch, a chamada Corrida dos Campeões, onde Guy Edwards venceu e Bernard de Dryver ficou em segundo.
Na realidade, a prova juntou uma parte de carros do campeonato de F-1 com os carros da AFX, que largaram juntos mas espaçados por uma fila vazia no grid. Gilles Villeneuve venceu a corrida com um Ferrari e Nelson Piquet ficou em segundo, de Brabham. Na listagem dos AFX, os dois primeiros foram os Copersucar. Foi a vitória e dobradinha que a Copersucar nunca teve. Veja a gravação da prova:
Outro vídeo interessante está mostrado abaixo, referente à corrida na pista de Thruxton. O F5A de Guy Edwards foi o pole position e a corrida foi com chuva. Belas imagens dos Copersucar andando numa pista que dificilmente vemos por aqui. Uma pena que a vitória não foi dos F5A.
No fim do campeonato, o belga Dryver terminou em quarto lugar e Guy Edwards, em quinto.
Para a temporada de 1980, os carros foram vendidos para a equipe de Colin Bennett para serem pilotados por Valentino Musetti, italiano de nome mas britânico de nacionalidade. Um dos carros foi bem modificado por Bennett para ter mais efeito solo com um assoalho novo e também teve outras alterações, como um bico novo, mais fino, e ganhou o apelido de “Bennepaldi”. Em alguns lugares encontramos referência a este carro como sendo um F5B, mas nada mais é que o F5A alterado.
Em 1981 não havia mais o campeonato AFX, mas as corridas de Fórmula Livre inglesas, sim. Musetti correu com o F5A modificado por Bennett e venceu um total de sete provas, somando pontos suficientes para ser campeão da temporada. A maioria destas vitórias foi no circuito de Donington, e também outras em Oulton Park, Mallory Park e Aintree.
Nas provas de Fórmula Livre da Inglaterra ainda viu-se outro Copersucar nas pistas. Um chassi do modelo F8 foi vendido para a equipe Sanada e pilotado pelo inglês Tony Trimmer em 1982, que conquistou uma vitória na pista de Oulton Park, sendo vice campeão daquele ano.
Uma curiosidade sobre o F8 nas pistas da Inglaterra: o piloto e atual apresentador britânico Tiff Needell também correu com ele em Oulton Park, em 1983, pela equipe Abdex Racing em uma corrida chamada British Open.
Hoje os F5A e o F8 que disputaram os campeonatos ingleses foram restaurados e participam de provas de F-1 históricos na Europa da forma que corriam no tempo dos irmãos Fittipaldi.
MB