Assim como a Ford, a General Motors também percebeu que suas grandes e gastadoras picapes precisariam dar lugar a modelos menores, mais versáteis para o dia a- ia e, principalmente, mais econômicas. Enquanto sua arquirrival Ford comercializava nos EUA uma picape de entrada derivada da Mazda, de porte um pouco menor que sua famosa Série F, a GM fazia algo semelhante com a Isuzu,de quem tinha participação de 34,2% a partir de 1971, passando a comercializar o modelo KB, que era vendida como Chevrolet Luv nas terras do Tio Sam. Mas essa redução de porte adotada das japonesas ainda não bastava para os cortes de custo e consumo que ambas as fabricantes pretendiam. Por isso, em meados dos anos 70 a Ford partiu para o projeto Ranger (leia aqui a história dela), e a GM começou a desenvolver a S10 para a divisão Chevrolet.
A Chevrolet S10 ficou pronta para o mercado americano em 1981, chegando como modelo 1982, e tinha construção tradicional: chassi de longarinas com toda a mecânica montada nele, e cabine/caçamba fixadas por cima. Apesar da suspensão independentes na dianteira, tinha eixo traseiro rígido com molas helicoidais na traseira, sem nenhuma novidade. Inicialmente, ela chegou somente com cabine simples e dois motores: um Isuzu 1,9 movido a gasolina e fabricado no Japão (também usado na sua irmã maior Luv), e um 2,8 V-6 também a gasolina, este como opcional.
Até então, nada de tração 4×4, motor Diesel ou mais opções de cabine. Mas isso mudou no ano seguinte, em 1982, com a adição da cabine estendida, sistema Insta-Trac (tração integral) e dois motores novos, sendo um 2,0 a gasolina e outro 2,2 quatro-cilindros Diesel de origem Isuzu. Em 1983, uma novidade com a chegada do S10 Blazer, SUV derivado da picape que vinha sempre com duas portas, mesmo assim garantindo notável sucesso desde o lançamento. Pouco tempo depois, na linha 1985, vieram algumas melhorias mecânicas (embreagem hidráulica, recalibração nas suspensões, etc.), juntamente com a troca do motor 2,0 a gasolina por um 2,5 quatro-cilindros, parente próximo do conhecido GM 151 que equipava nossos Opala que, por lá, era batizado de Iron Duke.
Mas os anos seguiam, e a próxima mudança na S10 foi a saída de cena dos motores Isuzu 2,2 Diesel e 1,9 a gasolina, ficando apenas o 2,5 Iron Duke e o agora melhorado 2,8 V-6. Em 1988 foi lançado o novo 4,3 V-6 a gasolina (que também marcou presença nas S10 e Blazer nacionais, mais conhecido pelo nome Vortec), e para 1989 a dupla picape/suv ganhava freios ABS, sendo essa a última mudança da primeira geração, que ainda durou mais longos cinco anos com praticamente a mesma aparência de 1981.
Já era quase meados dos anos 1990, e a Ford Ranger, sua principal concorrente, havia acabado de ganhar uma segunda geração totalmente renovada. Em outras palavras, era hora da GM se mexer para fazer o mesmo e trazer a nova S10, o que ocorreu no fim de 1993. Mais moderna, com visual totalmente inédito e mecânica evoluída (o 2,5 Iron Duke dava lugar a um 2,2 quatro cilindros a gasolina, o 4,3 V6 era melhorado e o 2,8 V6 não era mais oferecido), a segunda geração da picape GM ainda mantinha a mesma base de 1981, mas com suspensões, freios e direção melhorados.
E foi essa segunda geração que apareceu aqui no Brasil em abril de 1995, fabricada em São José dos Campos, SP e designada com a missão de tomar mercado da recém-lançada Ranger. Por aqui, ela foi a primeira picape média nacional e adotava um visual exclusivo para o mercado sul-americano, com frente totalmente distinta do modelo original dos EUA. No primeiro ano, a única opção de cabine era a simples, só tinha um conjunto mecânico (2,2 a gasolina com injeção monoponto de 106 cv que não brilhava quando o assunto era potência, sempre aliado a um câmbio manual de 5 marchas) e nada de tração nas quatro rodas.
Meses depois, já em 1996, a linha era ampliada: além da cabine estendida passar a ser oferecida como opcional, a picape ganhou novos motores 2,5 turbodiesel e o esperado 4,3 V6 Vortec, e, como maior novidade, chegava a Blazer nacional, baseada visualmente na nossa S10. Depois, chegaram as versões cabine dupla em 1997 (exclusividade do mercado nacional, afinal não existiam nos EUA), e em 1998 o motor 2,2 passou a ter injeção eletrônica multiponto, agora gerando 113 cv e melhorando um pouco o desempenho do modelo. Nessa mesma época chegava finalmente a tração 4×4, disponível opcionalmente para todas as versões, dando mais ênfase ao lado off-road da picape.
Em 1999, na linha 2000, ela ganhava mudanças pontuais em para-choque, faróis, grade, rodas, etc. Junto dessa reestilização ocorria a troca do motor 2,5 Diesel fabricado pela própria GM pelo 2,8 desenvolvido pela MWM, que rendia 132 cv e 34 m·kgf de torque (bem mais que os 95 cv e 22,4 m·kgf gerados pelo 2,5), além da estreia do câmbio automático, nesse caso de quatro marchas, conhecido por prejudicar consideravelmente o consumo da picape.
No Salão do Automóvel de 2000 chegava a segunda mudança de estilo, ganhando várias novidades interna e externamente, além de melhorias em segurança e novos equipamentos. O motor 2,2 a gasolina nessa mudança se tornava 2,4 e passava a render 128 cv. Os anos se passaram e a S10 foi evoluindo com o tempo, passando por pequenas atualizações mecânicas (incluindo a conversão do motor 2,4 para flex em 2006, onde passou a gerar 147 cv), visuais, novas nomenclaturas de versão, entre outras melhorias várias.
A segunda geração definitiva demorou, mas chegou, sendo lançada em fevereiro de 2012. Assim como sua concorrente da Ford, que também ganhou uma nova geração naquela época, a Chevrolet S10 chegou maior e melhor em praticamente tudo, além de muito mais moderna e tecnológica, afinal sua geração anterior já estava bem cansada após 17 anos em linha e vinha sobrevivendo somente a base de reestilizações. Essa nova S10 trouxe também o inédito motor 2,8 turbodiesel de 180 cv e 48 m·kgf (que no ano seguinte ganhou 20 cv e 3 m·kgf), além de um câmbio automático mais condizente com seu porte, agora com 6 marchas. O 2,4 flex ainda sobreviveu com os mesmos 147 cv, mas com melhorias que elevaram seu torque para 24 m·kgf. Dois anos depois chegava o novíssimo 2,5 da família Ecotec, com bloco fundido em alumínio e tecnologias como comando de válvulas variável, rendendo 206 cv e cerca de 27 m·kgf, que substituía o 2.4 nas versões mais caras com motor flex.
Em abril de 2016 chegava a reestilização de meia-vida dessa segunda geração, com mudanças nos triviais faróis, para-choque, grade, rodas, etc, deixando a nossa picape alinhada visualmente com a GM Colorado americana (que não é nada muito além da nossa S10, mas vendida por lá com outro nome e aparência). Nessa mudança a direção passava a ser eletroassistida (até então a assistência era hidráulica), e o painel era totalmente redesenhado, ganhando nova multimídia com tela tátil e outros mimos tecnológicos de conforto e segurança.
Mas a vida da picape GM segue firme e forte no mercado nacional, e a maior prova disso é o lançamento da segunda reestilização dessa geração, realizado último dia 28 de julho, onde, além de novo visual externo (novamente inspirado na Colorado), a picape ganhou uma lista de equipamentos mais recheada (com itens bastante interessantes, como, por exemplo, a internet 4G a bordo, vendida opcionalmente) e teve um reajuste de preço de algumas versões (para mais, como sempre acontece). A motorização se mantém inalterada, assim como os câmbios manual e automático, ambos de 6 marchas.
Em abril de 2020 a Chevrolet S10 comemorou seu 25º aniversário, quando também bateu a importante marca de 1 milhão de unidades produzidas na fábrica GM de São José dos Campos, das quais cerca de 750 mil ficaram em terras tupiniquins e 250 mil foram exportadas. Ela, assim como a Ford Ranger, é referência quando o assunto é picape média- grande, e aparentemente isso vai se manter por mais um bom tempo…
DM
A coluna “Perfume de carro” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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