“Não há nada como polegadas cúbicas”. A frase do genial Carroll Shelby ecoa no universo automobilístico até os dias atuais onde downsizing e carros elétricos ganham cada vez mais espaço. De fato, parece que os grandes motores, infelizmente, ficaram para trás, com algumas exceções. Mas a receita que mostrarei hoje a vocês deixa claro que isso pode ser algo interessante.
A ideia de construir o próprio carro não é tarefa fácil. Isso é simples de imaginar. Para Ricardo Menasce, o idealizador desse projeto, o trabalho foi longo. Além da parte técnica de suspensão e o próprio serviço do compósito de fibra de vidro, a mecânica necessitou vários profissionais — alguns nem tanto — para chegar ao efeito desejado.
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Foram nada menos do que nove mecânicos para acertar o carro como um todo, de modo que pudesse acelerar com mais segurança e frear de maneira competente. Isso porque, como ele mesmo conta no vídeo, atrasos e falta de conhecimento são inimigos de quem tem um projeto como esse em mente.
Mas vamos à parte divertida. Aliás, falei no título. O Duratec é um motor conhecido e que tem uma facilidade grande de preparação. O antigo Campeonato Brasileiro de Marcas, em sua versão de alguns anos atrás, trazia todos os carros do grid equipados com essa mecânica.
Tive a oportunidade de vê-los e ouvi-los em ação e a sinfonia realmente era fantástica. O motor passava pelas mãos da Orestes Berta, lendária preparadora argentina que escreveu seu nome nas pistas brasileiras através do Maverick da equipe Hollywood e outros projetos.
No caso do campeonato em questão o Duratec com 2 litros passava por uma preparação aspirada entregando em torno de 300 cv. Todos os carros e marcas utilizavam a mesma mecânica e o acerto e som dos corpos de borboleta individuais enchiam os ouvidos.
Para quem se interessar vale a pena visitar o site da Berta e ver algumas opções de motores à venda. Eles continuam a todo vapor e mantêm a paixão pelo automobilismo viva, como um negócio em plena atividade. Vale lembrar que na Argentina temos mais autódromos do que campos de futebol.
Mas voltemos ao Cobra. Uma das questões cruciais do modelo sempre foi a distribuição de peso. Para Carroll a ideia do big-block resolveu a questão do desempenho. Mas sem dúvida que a frente era mais pesada. O bólido se destacou mesmo assim por conta da força bruta e potência.
No caso desse projeto a receita incluiu uma ideia de downsizing. O Duratec turbinado recebeu uma injeção Fueltech FT350 e escapamento dimensionado. A potência aferida nas rodas foi de 205 cv, o que equivale dizer a uns 250 cv no motor. Filtro esportivo e um radiador generoso complementam a receita.
Parece uma potência modesta nos dias de hoje. Mas se levarmos em conta que um Cobra Glaspac, um clássico dos anos 80, usava o 302 V-8 com menos potência e mais peso, o projeto Duratec ficou bem acertado e com um quê moderno, o que sempre divide opiniões.
Foi justamente isso que notei durante o teste. A começar pelo volante que tem a base ovalada por conta do tamanho do proprietário e os instrumentos digitais da injeção no centro do painel que contrastam com os analógicos. Por outro lado, para a minha altura ficou perfeito, incluindo a posição de dirigir. O carro traz uma personalização moderna, começando pela combinação de cores, interior e rodas de 17 polegadas.
Dei partida e o som é diferente. Estamos em um Cobra, porém com quatro cilindros. A saída de escapamento ao lado do motorista é falsa, apenas um detalhe estético. O calor se encontra do lado do passageiro. É preciso ter atenção ao entrar e sair do carro. Por isso sempre gostei do já citado Glaspac, com as saídas na parte traseira.
A primeira impressão do carro é bem positiva. A suspensão por duplo A tanto dianteira quanto traseiratransmite uma sensação que está bem acertada no asfalto e a posição mais alta da alavanca do câmbio entrega boa ergonomia na hora de acelerar com um pouco mais de disposição. Os freios a disco nas quatro rodas também me passaram confiança.
A turbina enche rápido. E logo o monitoramento eletrônico mostra a melhor hora de trocar as marchas. Empolga. Na segunda para a terceira deu para sentir a força da aceleração pressionando o corpo contra o banco. E pude notar que a suspensão transmite confiabilidade em velocidades mais altas.
Ficou a vontade de acelerar em um local mais apropriado, do ponto de vista técnico. Acredito que em um kartódromo já seria divertido com essa receita de motor pequeno. O câmbio utilizado, bem como o diferencial, veio do Chevrolet Omega. Para uma ideia futura talvez algo mais moderno consiga extrair ainda mais do conjunto.
De qualquer forma essa é uma matéria polêmica. Mesmo porque com esse setup ele anda mais que muitos Cobra V-8 com uma relação de peso e potência excepcional. Minha opinião? Concordo com Carroll Shelby sobre a cilindrada, mas curto ainda mais pelo som borbulhante do V-8. Mas se fosse montar algo para track days pensaria com carinho nessa ideia.
GDB