A foto de abertura mostra o carro apelidado de Foxy Shahzadi, cuja história, junto com a de outro VW Fusca paquistanês, o Billo, pode ser vista na matéria “Billo, um VW Fusca decorado à moda dos caminhões do Paquistão”.
Naquele país asiático a mão de direção é esquerda, por isso o Foxy Shahzadi da foto tem o volante de direção na direita. Note-se que já é o modelo de área envidraçada maior surgido na Alemanha em 1964.
Estes dias eu encontrei um material falando da paixão dos paquistaneses pelo VW Fusca, apesar de carros Volkswagen antigos não serem muito comuns no Paquistão. Este país faz fronteira com o Irã, Afeganistão, China e Índia (sua arqui-inimiga); ao sul ele é banhado pelo Oceano Índico.
Com isto ele tem grandes contrastes, desde o oceano até as montanhas do Himalaia, presenteando seus visitantes com maravilhosas paisagens, o que atrai muitas pessoas para viagens àquele país. Abaixo algumas fotos de lindas paisagens paquistanesas:
Uma Kombi chamada “Gertrude”
Décadas atrás, um proprietário alemão desconhecido chamou sua VW Kombi Westfalia (transformada para motorhome) de “Gertrude”. Ele cortou um pequeno retângulo de plástico verde, estampou o nome dela nele e colou a etiqueta no painel. Em seguida, ele partiu com ela para o Afeganistão ou Paquistão — talvez ao longo do “caminho hippie” que trouxe milhares de turistas à terra de montanhas de sonho e drogas baratas na década de 1970.
Décadas depois, durante outro passeio às montanhas do Paquistão, a “Gertrude” ainda permanece por lá. “Não sabemos por que o proprietário alemão a deixou no Paquistão,” diz o novo proprietário, Mahmood Jilani, gerente de uma grande organização de ajuda ao desenvolvimento. Mas ele cuidou bem dela. O estofamento dos bancos xadrez verde-laranja da VW Kombi motorhome Westfalia de 1976 ainda estão lá, como também os velhos mosquiteiros, as cortinas, o famoso teto rebatível feito de compósito de fibra de vidro.
A “Gertrude” escala as montanhas cobertas de abetos em curvas fechadas. Vinte e cinco Volkswagens, a maioria deles VW Fusca em todas as cores do arco-íris, mas também VW Kombi e um Karmann Ghia andando na frente e atrás da “Gertude”, em uma sinfonia de ruído de tubos de escapamento chacoalhando — o som de motores Volkswagen antigos. Homens esperando por uma carona na beira da estrada acenam e gritam alegremente. Crianças se penduram em carros que se aproximam e gritam “Zindabad!” Isso significa algo como “Vida longa”.
Este é o Volkswagen Club do Paquistão, com 230 membros divididos entre Islamabad e Karachi. São de estudantes universitários a professores de medicina. São cerca de 250 Volkswagens que eles adoram, cuidam e conduzem. A maioria deles são VW Fuscas. Eles são chamados de “Foxys” no Paquistão. Provavelmente vem da abreviatura afetuosa Volksis (lembrando que “V” tem som de “F” em alemão).
Os VW Fuscas são sempre reparados novamente
O clube foi fundado por Nasir Sheikh, que é o dono do Billo que cito no início desta matéria, um homem de olhos azuis e barba grisalha que na verdade é grande demais para os carros pequenos de que ele tanto gosta. Nasir é provavelmente o melhor conhecedor de VW Fusca do país. Ele restaurou quase 60 VW Fuscas e mais algumas Kombis em 25 anos — apenas por diversão. Ele ganha a vida como gerente de pessoal. Ele também é aquele que todos os membros chamam quando algo quebra. Isto porque a maioria dos Volkswagens do clube são veteranos. O mais antigo é de 1957.
Em um país como este, onde mais de 50% da população ganha menos de dois dólares por dia, os carros não são descartados, vão sendo consertados continuamente.
“Ainda existem cerca de 1.000 besouros no Paquistão,” diz Nasir. “Quantos entraram no país só se pode estimar. Muitos vieram com missionários ou hippies ou foram trazidos por funcionários paquistaneses que trabalhavam no exterior.”
Mas de junho de 1953 a meados da década de 1970, eles também foram importados por uma grande rede de varejo de automóveis, a Modern Motors. O arquivo da Volkswagen em Wolfsburg ainda tem uma foto do chefe da Modern Motors, Mr. N / D. Chaudri. Esta foto mostra como ele foi em 1967 buscar na Alemanha o 10.000º Volkswagen para o Paquistão. Era um Fusca branco.
Carro perfeito para os anos de fundação do Paquistão
O melhor cliente do Sr. Chaudri foi o estado do Paquistão, que foi fundado em 1947. O Fusca foi transformado em carro de polícia — com teto solar para que um policial pudesse se esgueirar pela abertura e atirar durante as perseguições. “Era o carro perfeito para os primeiros anos de um país tão selvagem”, diz Nasir. O estado podia pagar pelos VW Fuscas e eles rodavam bem nas estradas ruins.
Voltando a falar do passeio de Volkswagens pela montanha, os apreciadores de Volswagens do Paquistão são nostálgicos. Quando o comboio de Volkswagens chegou ao alto da montanha em seu passeio de domingo, os motoristas foram de um carro a outro trocando dicas e histórias.
Amad Shadab, um professor de medicina, lembrou com saudade da VW Kombi de seu pai, um comerciante de chá e fertilizantes. Na década de 1950, ele dirigiu por todo o país exibindo filmes sobre a arte da agricultura nas aldeias em uma tela estendida na lateral da VW Kombi. A família também tinha um Besouro. Ele e sua namorada na época, agora sua esposa, tinham entrado nisso e … Ele ficou em silêncio e corou. Sua esposa ri. Quando um vizinho quis vender seu Beetle 1967 há 14 anos, eles o compraram imediatamente.
Khaled, o mecânico, sabe tudo sobre VW Fusca
Khaled Mehsud é o mecânico do Clube VW no Paquistão. Ele aprendeu como consertar besouros no maior importador da Volkswagen na década de 1960, a Modern Motors. Hoje ele tem uma oficina especializada em besouros — uma das últimas do país.
Uma semana depois do passeio pela montanha, durante uma visita à pequena oficina ao ar livre de Khaled na movimentada e grande cidade de Rawalpindi, ele mostra seus “projetos”. Dezenas de VW Fuscas antigos estão lá. Estava chovendo a cântaros, mas Khaled enxugou a água de seus óculos e andou de Besouro em Besouro. Carros que valeriam mais de 10.000 euros na Alemanha lá custam de 2.000 a 5.000 euros. Como mecânico, Khaled ganha quatro euros por hora. E isto não é ruim para o Paquistão.
O Paquistão é um país relativamente pequeno quando comparado com o Brasil (uma décima parte do território nacional) para uma enorme população de 212 milhões de habitantes (igual à daqui!), com boa parte de sua área ocupada por montanhas. É interessante como neste caldeirão de gente e de duas línguas principais, o Urdu (língua nacional) e o Inglês (língua administrativa do governo), mais 58 línguas minoritárias, um grupo de apreciadores de Volkswagens antigos segue uma mesma língua: a do amor pelo VW Fusca.
AG
Material original do jornal Kölner Stadt-Anzeiger, da cidade de Colônia, Alemanha, que trabalhou com fotografias da DPA. As informações em alemão foram traduzidas e adaptadas para a nossa coluna. Consultas foram feitas à Wikipédia.
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