Lembrando o que eu já havia comentado em um causo anterior, há alguns anos eu fiz contato com o Reinaldo Pedreiro, aliás “RollerBuggy” — como ele prefere ser chamado — e ele me enviou algumas matérias ligadas ao bugue para o projeto do Livro 3, que ainda está em “gestação latente”, aguardando que a leitura de e-books seja mais popular no Brasil.
Estou dando continuidade à publicação das matérias do “RollerBuggy”, aqui na coluna “Falando de Fusca & Afins”, com o causo “Show Off-Road” que envolve estrepoulias de um jovem com seu bugue em estrada enlameada. Vamos conferir este relato.
Chamo a atenção do leitor ou leitora para o fato de que apesar de o Reinaldo Pedreiro usar a grafia Buggy, no AE, por norma editorial, é usada a forma aportuguesada e com inicial minúscula. Entretanto, mantive a grafia original no texto dele.
“Show Off-Road”
Por Reinaldo Pedreiro (“RollerBuggy”)
Em 1996 eu ainda era jovem e destemido… Fui para o sítio do meu pai, onde ocorreria um almoço de família… Era feriado e minha família já tinha ido um dia antes, só faltava eu.
Acordei cedo já prevendo que haveria congestionamento na estrada. Passei na casa da namorada e fomos juntos para o Sitio em Juquitiba, SP.
Juquitiba se encontra em região de mata atlântica a 70 km de São Paulo, SP, é um lugar que chove muito e quase sempre o solo fica úmido.
Seguimos até a saída da cidade e o tráfego já estava mais intenso que o de costume, mas fluindo bem… Entramos na estrada também com tráfego intenso, mas fluindo. Seguimos sem problemas até a entrada da cidade de Juquitiba. O sítio fica 7 km depois dessa entrada e achamos que não pegaríamos nenhum congestionamento…
Quando estávamos quase chegando e passamos pela placa do km 333, encontramos todos os carros parados… Paramos e percebemos que os carros a frente estavam com o motor desligado, sinal de que já estavam parados há algum tempo.
Do local onde paramos, dava para ver a entrada do acesso para o sítio, que ficava no km 333,5… Depois de mais de meia hora parados, nada de liberar o caminho e a fila atrás de nós já não dava para ver o fim.
A BR-116 ainda não estava duplicada, mas tinha obra de terraplanagem ao lado da pista principal. Era de terra plana e se estendia até a entrada do acesso do sítio. Olhei e passou pela minha cabeça seguir por lá, mas logo desisti por ser absurdamente arriscado por não ter nenhuma proteção do outro lado, onde havia uma grande depressão e poderíamos cair lá. Além disso, estava com muito barro e até a pé seria difícil passar por lá, mesmo um 4×4 teria dificuldade…
Passou mais meia hora e toda minha família estava me esperando para o almoço. Eu já estava impaciente. Olhei novamente para o caminho de terra e já não me pareceu tão arriscado e intransponível então comentei com a minha namorada que deveríamos tentar ir por lá e ela disse:
“Você está louco? Olha lá como está de barro, nós vamos atolar!”
Eu respondi que o máximo que podia acontecer era atolar mesmo, mas não disse que poderíamos cair no vale e até capotar… Falei para ela que se encalhássemos era só ir a pé até o sitio do vizinho e pedir para ele rebocar a gente com o trator… Assim a convenci que deveríamos tentar.
Liguei o carro e todos que estavam parados lá comigo acharam que eu ia voltar, mas eu fui em direção ao acostamento do outro lado da pista e desci para o aterro já acelerando para pegar embalo. Acho que todos estavam olhando sem acreditar no que eu estava fazendo…
Logo no início o carro já começou a patinar, eu acelerei mais ainda e sem tirar o pé do acelerador, fui controlando só pelo volante, corrigindo a trajetória do carro que ora saia para a direita, ora saia para a esquerda.
O aterro era largo, mais do que a pista do outro lado e isso foi a minha sorte… No meio do caminho, eu não podia mais voltar e não estava com vontade de desistir, era o ponto mais crítico do local. Foi quando o carro saiu para a direta quase a 45° e eu não consegui corrigir no volante, que já estava todo virado, mesmo assim eu continuei acelerando e o carro não rodou de vez, mas foi andando de lado por mais ou menos 20 metros e foi corrigindo a trajetória bem lentamente até ficar em linha reta novamente. Eu segui patinando e voando barro para todos os lados, corrigindo no volante a trajetória que continuava a sair ora para a direita, ora para a esquerda.
No início do trajeto, a minha namorada se manteve calada, mas nessa altura ela já estava aos gritos:
“Aí meu Deus! Você é louco! Ai,ai,ai…”
Eu não podia e nem conseguia dar atenção a ela, pois estava super concentrado tentando manter o carro andando e na direção correta. Continuei acelerando até que chegamos derrapando e o carro parou depois de uma rodada forte de 45° (cavalo de pau) bem na estrada para entrar no sítio, que também era de terra, mas estava transitável e já a salvo de atolar… Conseguimos!!!!
Desde o início do trajeto até o carro parar deve ter levado no máximo 2 minutos., mas eu tive a sensação de que demorou horas. Tudo estava lento ao meu redor, tamanho era a tensão e concentração que eu fiquei naquele momento.
Logo que o carro parou, escutamos algumas buzinas e quando eu olhei para trás vi que todos que estavam parados na estrada olhando a cena, estavam buzinando, acenando e fazendo sinal de positivo para nós…
Aí eu percebi que fizemos um Show Off-Road para uma grande plateia… Rsrsrsrs!!!
Já desfeito da tensão, feliz por ter conseguido e estar em piso seguro, desci do carro, todo enlameado, ergui os dois braços para cima com os punhos cerrados, como se tivesse ganhado uma corrida e as buzinas e acenos se intensificaram. Percebi que as pessoas estavam sorrindo apesar do desconforto de estarem parados em um congestionamento na estrada.
Depois disso seguimos para o sítio felizes por termos conseguido e por ter proporcionado um pouco de distração/diversão para aquelas pessoas que estavam paradas na estrada, com um “Show Off-Road”!
AG
Registro aqui o meu agradecimento ao Reinaldo Pedreiro pela permissão do uso de sua história. Em tempo, o Reinaldo convidou a todos para conhecerem o seu blog: https://rollerbuggy.blogspot.com .
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