Se há uma tendência que nunca mudou na história da indústria automobilística é que toda boa ideia é rapidamente copiada pela concorrência. Foi assim quando o Ford Mustang explodiu nas vendas em 1964 e trouxe outros esportivos, como Camaro e Firebird. Ou quando a Chrysler lançou o minivan moderno em 1983. No Brasil, vimos a Fiat Weekend desencadear em 1999 a onda dos aventureiros urbanos e o EcoSport criar em 2003 uma legião de imitadores com estepe pendurado na traseira.
Agora podemos colocar nessa lista o suve-cupê, criação atribuída ao BMW X6, que foi lançado em 2008. A ideia da marca alemã era simples: pegue um suve de sucesso (no caso, o X5), faça uma pequena mudança na traseira (no caso, uma linha do teto com caimento mais suave, conhecida como fastback) e construa um plano de marketing dizendo que esse carro é totalmente diferente do original (no caso, mais esportivo).
A ideia foi tão bem recebida que a BMW expandiu sua linha para os modelos menores X2 e X4 (releituras do X1 e X3). O sucesso despertou a cobiça dos rivais, que replicaram o conceito. A Mercedes-Benz reagiu em 2014 (com o GLE Coupé, seguido por GLC), a Audi em 2017 (Q8, e-tron Sportback e Q3 Sportback) e a Porsche em 2019 (Cayenne Coupé).
Quem embarcou nessa onda não teve do que reclamar. Em 2019, a Audi Q8 vendeu o equivalente a 40% do irmão Q7 e a versão Coupé foi a maior responsável pelo aumento de 77% no mercado do Cayenne (a Porsche não divulga o mix de vendas na Europa).
Nada mau para uma variedade de suve que é mais cara que a original e entrega menos, o que se traduz em lucros mais gordos para a marca. É claro que os anúncios gostam de dizer que esses veículos reúnem o melhor de dois mundos ao combinar o espaço e a praticidade de um suve com o estilo e a esportividade de um cupê.
De fato, é uma maneira de ver as coisas. A outra é dizer que há menos espaço para cabeça no banco traseiro (devido ao teto mais baixo), que o porta-malas costuma ser menor e que a esportividade é inferior ao do cupê tradicional porque o suve é mais alto e pesado.
O que interessa, no entanto, é que todos estão felizes. Os donos porque têm um suve numa versão mais exclusiva e visualmente atraente. Os fabricantes porque lucram mais, já que o preço é até 20% maior, apesar da mesma base mecânica.
A explicação
Segundo uma análise da consultoria Strategic Vision sobre os suve-cupês da Mercedes, esses compradores são em média 4 ou 5 anos mais jovens do que proprietários de suves tradicionais, o que ajudaria a rejuvenescer a imagem da marca e aumentar seu poder de desejo. Outra vantagem é que esse público é menos sensível ao preço, o que garante margens maiores.
A tendência do suve-cupê mostra a força de vendas de um bom design e da eterna necessidade do consumidor de se sentir único, especialmente nos dias de hoje em que os automóveis estão cada vez mais parecidos entre si.
Se não há dúvida de que o suve é o futuro do mercado automobilístico, o suve-cupê é o futuro desse segmento. Como ele é tão disputado e ganha cada vez mais integrantes, nada mais natural que a estratégia seja buscar novos subsegmentos. Assim, os analistas da indústria apontam dois caminhos.
O primeiro seriam os mini-suves, ou seja, descer ainda mais na pirâmide econômica para conquistar consumidores que não têm acesso a esse tipo de veículo. A Hyundai, por exemplo, lançou na Índia o Venue, que tem 3,99 metros (é 7 cm menor que o VW Polo). O problema aqui é que o fabricante é obrigado a trabalhar com margens muito apertadas, para deixar seu preço acessível. O outro caminho seria o suve-cupê.
Portanto, o próximo movimento é o suve-cupê deixar de ser restrito ao mercado premium e avançar para o andar de baixo, tornando-se mais barato, a fim de ganhar as massas nas marcas generalistas.
Dois caminhos para os suves
A Renault deu o primeiro passo na Rússia com o Arkana – ele foi cogitado para o Brasil, mas acabou sendo descartado. Já a Volkswagen atacou em duas frentes, o enorme Atlas Cross Sport nos EUA e o médio Tayron X (variação do Tiguan) na China.
O Brasil também entrou nessa rota, com um caso de sucesso que atende pelo nome de Nivus (foto de abertura). Só que aqui não se trata da variação cupê de um suve, mas da variação suve-cupê de um hatch, o Polo. E seu desempenho tem sido impressionante.
Logo na pré-estreia, em junho, mesmo sob a efeito da crise provocada pela pandemia, o lote de 1.200 unidades foi vendido em sete minutos. No ranking de setembro, o Nivus foi tão bem que encostou no Polo: 3.203 unidades do suve contra 3.360 do hatch. É uma diferença pequena considerando seu preço elevado: ele parte de R$ 89.150 contra R$ 60.090 do Polo básico ou R$ 78.990 da versão equivalente Comfortline 200 TSI.
A partir do ano que vem, teremos mais dois modelos desse tipo no Brasil, ambos produzidos pela Fiat em Betim, MG. Um deles estreia no primeiro semestre de 2021 para bater de frente com o Nivus: usará a base do Argo, mas com poucas mudanças na carroceria. Equipado com motores 1,3 aspirado e 1,0 turbo, ele terá preço abaixo do Jeep Renegade.
O segundo vem em 2022, também com plataforma do Argo, porém será maior no comprimento e na largura para enfrentar o VW T-Cross. Seu desenho será inspirado no conceito Fastback, mostrado no Salão do Automóvel de 2018. O presidente da FCA, Antonio Filosa, já disse que ele “será um suve único, com estilo próprio, muito italiano”.
Com tanta movimentação nesse mercado, podemos esperar mais suves-cupês pela frente. Tudo indica que essa é outra tendência da indústria automobilística que veio para ficar.
E você, o que acha dos suves-cupês?
ZC