Poucos sabem, mas o van Ford Transit, que, segundo a fabricante, voltará totalmente renovada ao nosso país em 2021, já tem uma longa história mundo afora: são nada mais nada menos que 67 anos desde que o conceito desse veículo comercial Ford surgiu no mercado europeu, em 1953 (foto de abertura). Ainda em um período de pós-guerra, a subsidiária da Ford na Alemanha desde 1931 lançava os FK1000 e FK1250 (F de Ford e K de Köln, ou Colônia em alemão, cidade onde se encontra a filial fabricante americana, enquanto os números significavam 1.000 ou 1.250 kg de capacidade de carga).
Os vans FK tinham foco no trabalho, e eram oferecidos tanto para o transporte de passageiros quanto de carga, utilizando a confiável e resistente mecânica do então Ford Taunus. Inicialmente equipados com um pequeno e econômico motor a gasolina, de quatro cilindros e 1,2 litro aliado a um câmbio manual, eles se tornaram mais potentes em 1955, quando receberam um novo motor de 1,5 litro, com mais potência e torque, também oriundo do sedã Taunus.
Oficialmente, o nome Transit veio somente em 1961, quando o van comercial assumiu não só a mecânica, mas também o título do consagrado sedã Ford europeu, passando a se chamar Taunus Transit, sem nenhuma alteração visual ou mecânica. Fazendo bastante sucesso não só com o consumidor comum, mas também com o serviço público alemão (servindo de ambulância, bombeiros, viatura policial e veículo militar), o Ford Taunus Transit já provava seu sucesso na categoria comercial e passava a ser vendido também na Inglaterra, onde conquistou a liderança do mercado de vans do Reino Unido por mais de 40 anos.
Seguindo na evolução, a primeira geração oficial da Ford Transit, já abandonando o nome Taunus, chegou em outubro de 1965 e teve a sua primeira fábrica em Berkshire, na Inglaterra (mais tarde transferida para Southampton). Além da Grã-Bretanha, essa geração do van Ford foi também fabricada na Bélgica (Genk) e na Turquia (Istambul), além de ter sido montado na Coreia do Sul (Ulsan), Holanda (Amsterdã), Nova Zelândia (Seaview), Austrália (Homebush e Broadmeadows) e até África do Sul (Porto Elizabeth).
Sendo a geração mais duradoura do veículo comercial da Ford, esse Transit Mark I (como era chamada essa primeira versão), passou por uma única reestilização em meados de 1977, quando recebeu novo visual e melhorias mecânicas, e após isso se manteve em linha sem mudanças por mais nove anos. Como um de seus principais destaques, além da boa capacidade de 1.750 kg de carga, estava a facilidade de manutenção (afinal ela compartilhava diversos componentes com outros automóveis Ford). Além disso, para atender todas as demandas dos diferentes consumidores pelo mundo que precisavam de um veículo robusto e durável para o transporte de carga ou passageiros, nessa primeira geração ele foi oferecido em seis variações de carroceria.
Por conta desses 21 anos de produção ininterrupta, ele utilizou diversas mecânicas, variando desde motorwa de 1,3 até 3 litros a gasolina, além de outros a diesel (1,8 Perkins, 2,5 York e um 3,3 da própria Ford). Fora isso, a partir de 1982 ele passou a oferecer até mesmo um inédito sistema de tração 4×4. O Transit Mark I saiu de linha em 1985, dando lugar à uma segunda geração no ano seguinte, já em janeiro..
O Novo Ford Transit era conhecido internamente pela fabricante como VE6. Agora, desenhado pelo alemão Uwe Bahnsen (o criador de modelos como o primeiro Fiesta, de 1976, e Sierra, de 1982), ele passava a adotar a carroceria conhecida como “box” (ou caixa, no bom português), que é basicamente o mesmo formato dos vans comerciais atuais, e também estava maior nas suas dimensões, o que fazia dele uma opção ainda mais interessante para quem buscava um veículo comercial para vários tipos de transportes.
Mantendo a sua vasta gama de motores praticamente inalterada, ele chegou a receber até mesmo tecnologias como suspensão dianteira independente em 1992. Dois anos depois, em 1994, era hora dessa segunda geração ser remodelada para a linha 1995. Além da nova frente e interior, surgia a opção do motor 2,0 8-válvulas a gasolina, e o Transit ganhava vários equipamentos inéditos opcionais (ar-condicionado, vidros e retrovisores elétricos e até mesmo bolsas infláveis). Com isso, o Ford deixava seu van ainda mais completo, e o melhor, cada vez mais próximo das comodidades de um carro de passeio.
Assim como a geração anterior, o Ford Transit VE6 era um veículo global, sendo produzida no Reino Unido, Bélgica, Turquia, Rússia, China e Vietnã, onde ficou por mais tempo em produção, tendo a última unidade fabricada em 2003 (na Europa ele se despediu três anos antes).
Mas o Transit continuou sua história, e uma nova geração foi lançada em meados de 2000 para o mercado europeu. A terceira geração do van comercial também era totalmente inédita no visual, que já seguia as linhas do estilo New Edge da Ford (presentes no Ka e Focus). Seu projeto, antes oriundo da Europa, agora passava a ser da Ford americana, matriz mundial da fabricante. Apesar do projeto americano, essa geração nunca foi vendida por lá, e a Transit só começou seu sucesso na América do Norte em 2013.
Como novidade, essa geração estava disponível tanto na configuração de tração dianteira quanto traseira (chamadas internamente por V185 e V184, na respectiva ordem), podendo o consumidor escolher qual das duas atendia melhor às suas necessidades. Na motorização, mais ineditismos: era a estreia da família Duratorq Diesel, que no Transit estava disponível nas variações 2,2, 2,4 e 3,2 litros (basicamente o mesmo motor de algumas versões da Ranger atual comercializada aqui).
Além deles, eram oferecidos um 2,0 e um 2,3 a gasolina. Estavam disponíveis dois câmbios, sendo um manual de 5 marchas (6 a partir de 2004), e também uma robotizada de 5 marchas, chamada de DuraShift EST, para quem estava buscando mais comodidade e facilidade em dirigir. Nessa época, em 2005, o Ford Transit bateu a lendária marca de 5 milhões de unidades produzidas.
Em 2006, essa terceira geração era reformulada, passando a receber novo visual dianteiro e traseiro, interior inédito e parte mecânica revisada. Esse Transit reestilizado chegou a ser oferecida no Brasil entre 2008 e 2014, onde comercializou mais de 10 mil unidades durante esse período. Voltando à Europa, além dos novos motores a gasolina, o van da Ford também passou a contar com a tecnologia common-rail em todos os seus motores Diesel, visando mais desempenho e um consumo de combustível ainda menor, características que já haviam conquistado o gosto do público consumidor. O câmbio robotizado saía de cena, permanecendo apenas o manual de 6 marchas para todas as motorizações. Nos anos seguintes, esse consagrado veículo comercial da Ford ganhou mais melhorias, sempre se adequando às necessidades do mercado.
Chegando na quarta e atual geração, o Transit 2013 foi apresentado no Salão de Detroit daquele ano. Agora projetado pela Ford dos Estados Unidos em parceria com a Ford Europa, ele estava maior, melhor e muito mais moderno. Visando conquistar os diferentes tipos de compradores, o Transit de quarta geração chegou sendo disponibilizado nas versões furgão, van de transporte de passageiros e uma carroceria mista chamada de cabine-dupla, com duas fileiras de bancos, capacidade para 7 passageiros e mais 10,6 m³ de espaço de carga. Fora essa modularidade, ele ainda contava com o bônus das três opções de altura da carroceria.
Ainda oferecido com três tipos de tração (dianteira, traseira e integral), o Novo Transit 2013 compartilhava alguns motores com sua geração passada, mas, para o mercado americano eram oferecidos também um 3,7 V-6 de 275 cv, um 3.5 V-6 biturbo de 310 cv da família EcoBoost, além do Diesel 3,2 de 5 cilindros, que trocou o nome Duratorq por PowerStroke. O câmbio manual de 6 marchas era mantido, mas agora, com foco nos EUA, eram apresentadas também as versões equipadas com um câmbio automático de 6 marchas.
O Ford Transit vendido atualmente foi reestilizado em 2019, já como modelo 2020. Nesse facelift, ele recebeu nova frente, mais moderna e alinhada com a identidade visual da marca, além de mudanças no interior, que recebeu mais equipamentos e itens de tecnologia. Mantendo o motor 3,5 V-6 biturbo, as novidades passavam a ser um 3,5 também V-6, mas de aspiração natural, além da novo câmbio automático de 10 marchas (o mesma do Ford Mustang vendido no Brasil), que substituiu o anterior de 6 marchas. O 3,2 Duratorq/PowerStroke também deu lugar a um inédito 4-cilindros 2,0 turbodiesel da moderna e econômica família EcoBlue.
Agora em novembro de 2020, o mais recente lançamento da família Transit foi sua versão 100% elétrica, batizada de E-Transit. Ele foi apresentado na Europa e deve começar a ser comercializado primeiro nos EUA, no final de 2021. Com bateria de 67 kW·h instalada no assoalho, ele é indicada principalmente para o uso urbano, e tem uma autonomia de até 350 quilômetros pelo ciclo WLTP. Seu motor elétrico gera 269 cv e 43,9 m·kgf de torque, conseguindo assim ser o van comercial mais potente da Europa. Além da tecnologia da eletrificação, esse E-Transit ainda oferece um bom pacote de assistência ao motorista, com leitor de placas de sinalização, câmera 360º, alerta de ponto cego nos retrovisores externos, alerta de colisão, entre outros.
O sucesso do Transit já dura quase sete décadas, e ele se consagra por ser líder de vendas por vários países do mundo em diversas ocasiões. Além disso, ele figura no topo do grupo de cinco vans mais vendidos de todos os tempos, registrando a impressionante marca de mais de 8 milhões de unidades comercializadas mundo afora. E não podemos esquecer que ela também gerou vários “frutos” que compartilham seu nome de sucesso, como, por exemplo, o Transit Connect, também oferecido nas carrocerias furgão de carga e de passageiros, feito sobre a base do Ford Focus e que faz bastante sucesso na Europa e Estados Unidos. Também podemos citar o Transit Custom, de porte intermediário entre o Connect e o Transit comum, apresentado em 2012 e que, assim como seus irmãos, acumula boas vendas em mercados do exterior.
No Brasil, de novo
Mas a grande novidade é que o Ford Transit voltará ao Brasil no ano que vem,2021. O anúncio, feito pela própria Ford, fala da fabricação do van no nosso vizinho país Uruguai, na fábrica da Nordex (indústria montadora de veículos do país). Com isso, ele começará a ser oferecida também em nosso mercado, com excelentes armas para combater os líderes do segmento Renault Master e Mercedes-Benz Sprinter. Com uma história tão longa e rica quanto esta, o Transit tem tudo para abocanhar uma boa fatia do mercado brasileiro de vans.
DM
A coluna “Perfume de carro” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
(Atualizada em 22/11/20 às 19h00, substituição da foto do Transit de quarta geração)
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