Infelizmente hoje no Brasil não temos mais muitas reportagens sobre Fórmula 1 na televisão aberta, a mesma que inicia a transmissão das corridas na hora da volta de apresentação. Nada de prévias, mesmo quando existem como acontece nos grandes prêmios dos Estados Unidos, com diversos shows antes da largada. Não vemos mais imagens dos boxes no dia da corrida nem nos de treino — aliás, mesmo ver treino tem sido uma tarefa equivalente à de minerador de ouro no que restou de Serra Pelada.
Mas já foi diferente. Nos anos 1960 e 1970, em especial, era comum que se mostrassem os boxes nos dias de classificação, nos treinos livres e, claro, nos de corrida. Só assim ficamos sabendo da importância de muitas esposas de pilotos. Hoje há muita modelo/atriz nos bastidores — a várias das quais duram mais ou menos o mesmo que um GP. Nem entro no mérito disso, vou focar apenas naquelas figuras icônicas que fizeram diferença para seus maridos e que ficaram nas nossas lembranças. Muitas eram elegantes, como Maria Helena Fittipaldi e Teresa Fittipaldi, ambas casadas com Emerson Fittipaldi — não ao mesmo tempo, que fique bem claro…. Marlene, a primeira esposa de Niki Lauda, era conhecida por acompanhar o piloto austríaco. Pessoalmente, adoro aquelas fotos de esposa com o cronômetro na mão — muito comum nos anos 1970. Como disse certa vez Maria Helena Fittipaldi, as esposas realmente trabalhavam naquela época. Diz a lenda que isso começou quando Colin Chapman viu uma mulher de piloto nos boxes e como ele não queria ver ninguém “desocupado” ali, teria lhe dado um cronômetro para registrar os tempos. O fato é que elas realmente se interessavam pelas carreiras dos maridos e os acompanhavam — algumas com os filhos também, outras no vaivém de viagens para cuidar da prole.
Disclêimer: não me acusem de sexista, machista ou qualquer outra coisa. Acho que lugar de mulher é onde ela quiser estar, e se isso quer dizer numa pista de corrida ao lado do marido, que esteja lá. Há esposas nunca apareceram numa corrida. Muitas têm carreiras paralelas e bem sucedidas e merecem também minhas palmas, ou seja, defendo veementemente que cada mulher faça o que quer, certo?
Eram épocas de maior camaradagem entre pilotos e era comum a amizade entre as famílias. Vamos aqui falar daquelas que, de fato, acompanharam as carreiras dos maridos com verdadeiro gosto. Não seguirei uma ordem, apenas pela minha lembrança e limitei-me apenas pela extensão do texto, não porque não houvesse outros exemplos. Provavelmente voltarei ao assunto, pois muitos nomes estão ficando fora desta lista. Mas vamos lá:
Nina Rindt
A ex-modelo internacional finlandesa Nina (foto de abertura) é muito lembrada em fotos com seu eterno cronômetro na mão e seu senso de estilo. Seu acessório mais marcante era um chapéu verde, mas também se notabilizada pelas camisetas descoladas e por suas calças de cintura alta. Ela mesma é filha do piloto finlandês Curt Lincoln. A morte de Jochen Rindt foi especialmente dura. Foi em Monza em 1970. Além de todo o apoio na hora, pois eram muito amigas, Helen Stewart atendeu um pedido do marido Jackie e foi ao hotel onde estava hospedado o casal e fazer as malas e o checkout para que ela não tivesse que passar por isso também. Imaginem ter de recolher a roupa do marido recentemente morto? Helen conta que fez isso diversas vezes. Para usar uma palavra da moda, essa era a resiliência demonstrada pelas esposas entre si na hora da tragédia.
Joann Villeneuve
Todos sabem da minha paixão pelo piloto canadense, mas como era bastante reservado, pouco se falou sempre sobre sua vida pessoal. Joann e Gilles se conheceram quando ela tinha 16 anos, casaram muito cedo e quando Joann tinha 19 anos tiveram o primeiro filho – Jacques chegou à Fórmula 1 onde ganhou o campeonato de 1997. Joann disse: eu teria preferido que Jacques seguisse outra carreira, mas se nunca tentei impedir Gilles de se tornar o que ele se tornou, por que tentaria impedir Jacques? De fato, fui eu quem assinou o primeiro contrato dele porque tinha menos de 18 anos. Ela sempre estava presente nos boxes, exceto no fatídico dia do acidente que vitimou o marido. Em 1974, quando Villeneuve decidiu subir para a Fôrmula Atlantic, a principal categoria de base da América do Norte, conseguiu vaga na Ecurie Canada – que exigiu 70 mil dólares. Para conseguir o dinheiro, Villeneuve vender o trailer em que moravam – tudo com a serena concordância da esposa, que aceitou de bom grado morar no trailer da escuderia por algum tempo. Depois de um ano difícil, ela o incentivou a começar a própria escuderia. Nascia a Ecurie Villeneuve com apenas um March 75B, dois motores Ford BDD e alguns pneus emprestados, a serem pagos em algum momento quando fosse possível. Anos depois da morte do piloto, numa belíssima entrevista, Joann disse numa entrevista que ao lado dele se sentida totalmente tranquila, mesmo quando ele pilotava extremamente rápido numa estrada a caminho de um GP. Ele apenas se recostava no banco e dormia. “Eu confiava nele implicitamente, sem questionar. Para mim isso era normal. Nunca tentei mudá-lo porque achava que não seria possível. Ele era quem era”. Ela nunca se casou de novo.
Maria Helena Fittipaldi
Ícone de esposa de piloto brasileiro, marcou época por ser presença constante nos autódromos, sempre ao lado do marido, e pela elegância tanto no vestir quanto no comportamento — algo que marcou toda uma geração de mulheres de pilotos. Foi a primeira esposa de Emerson Fittipaldi e até hoje é considerada, por muitos, a primeira-dama do automobilismo brasileiro. Além do carisma e da primorosa educação nas melhores escolas da Inglaterra (terra natal de seus pais), ela é lembrada por ter lançado uma moda que, além de bonita, era prática na época de boxes bastante abertos e muitas áreas descobertas: o chapéu preto, tão copiado por outras esposas de pilotos. Ela era manager, relações públicas, assessora de imprensa e ainda fazia cronometragem de Emerson — não havia computadores nem tantos profissionais em torno dos pilotos. Por tanto, não era apenas um enfeite, mas era, de fato, um membro da equipe que trabalhava duro. Ela era parceira constante de gamão de James Hunt, amiga de Mimicha, esposa de Carlos “Lole” Reuteman, de Graham Hill e sua esposa Bette e especialmente de Barbro Peterson, esposa de Ronnie Peterson.
Helen Stewart
Helen McGregor casou-se com seu namorado de infância Jackie Stewart em 1962. Dos dois filhos, um seguiu a carreira do pai. Em 2016 Helen foi diagnosticada com demência, mas durante os anos em que o marido competiu era uma presença constante no paddock, muitas vezes com Barbro Peterson e Maria Helena Fittipaldi.
Barbro Peterson
Antes do acidente fatal de Ronnie Peterson em Monza, em 1978, Barbro era a cronometrista oficial da equpe Lotus. Na época, os patrocínios eram da Omega e ela registrava os tempos de cada volta e repassava as informações à equipe depois de cada sessão. Barbro fazia parte do grupo autointutulado Dog House Club, formado por esposas de pilotos que eram realmente amigas na vida pessoal e tinham garantido seu lugar nos boxes, exatamente nas mesmas condições de seus maridos. O apoio que umas davam às outras em épocas de vários acidentes fatais por ano sempre foi fundamental. Uma cuidava da outra. A própria Barbro recebeu o apoio de Maria Helena quando, por uma raríssima ocasião, não estava no autódromo quando seu marido morreu em Monza. Bernie Ecclestone pediu a Maria Helena que fosse ao aeroporto e contar à Barbro que o Ronnie tinha falecido. Esse era o grau de amizade entre as esposas de pilotos naquela época.
Marlene Knaus
A socialite, modelo e ícone da moda Marlene foi a primeira esposa de Niki Lauda. Foram casados entre 1976 e 1991 o que obviamente incluiu o período do terrível acidente de Lauda, em 1976 em de Nürburgring. Ela era presença constante nas pistas, nas corridas e nos treinos mas apesar de seu histórico de celebridade, levou uma vida discretíssima depois de conhecer Lauda. A segunda esposa de Lauda, Birgit Wetzinger, esteve junto com Marlene ao lado do leito do piloto em seus últimos dias de vida.
Kelly Piquet
Bem, esta é a segunda vez que Max Verstappen toma o lugar de Daniil Kvyat. Em 2016 ele havia perdido o lugar na Red Bull para o holandês. Agora a ex-do russo é a atual do holandês. A eleita é Kelly Piquet, filha do tricampeão da F-1. Ela é também a responsável pela área de mídias sociais da Fórmula E. Ele já namorou a piloto sueca Mikaela Ahlin-Kottunlinsky, também de família de corredores e atualmente compete na TCR Scandinavia Touring Car.
Mudando de assunto: Juntar piada infame com carros é um dos meus passatempos favoritos. Pois então, aqui vai uma brincadeira autoentusiasta.
NG