Tenho o maior respeito pela Toyota, com a inegável qualidade e confiabilidade de seus veículos. Não é por acaso que a marca está em segundo lugar no ranking mundial deste superdisputado e complexo mercado automobilístico.
Mas não é razoável seu comportamento em relação a eventuais problemas de seus modelos. Um ditado diz que “só não erra quem não faz”. E todas as fábricas erram. Para isso existe o recall.
A Toyota enfrentou um gigantesco problema nos EUA em 2009 com alguns de seus carros que aceleravam sozinhos, provocando acidentes e quatro mortes. Fez dois recalls de milhões de unidades cada entre Toyotas e Lexus (sua marca de luxo), mas só depois de forçada pelo governo norte-americano.
Num primeiro, trocou o tapete do motorista. Logo depois, o pedal do acelerador. Seu presidente mundial, Akio Toyoda, foi pessoalmente pedir desculpas pelo problema no Congresso dos EUA.
Mais abaixo, outro caso de problema com Toyota, referente à foto de abertura.
Corolla proibido no Brasil
O mesmo problema ocorreu com o Corolla no Brasil, mas sua filial negou o quanto pôde. Com a pressão da imprensa, o Ministério Público de MG proibiu-a de vender o Corolla em Minas se não fizesse o recall. Ela continuou impávida. Trinta dias depois decidiu fazê-lo por não lhe restar outra opção: o DPDC (Departamento de Proteção e Defesa do Consumidor), do Ministério da Justiça, proibiu-a de comercializar o Corolla em todo o país se não chamasse o carro de volta às concessionárias para o reparo.
Outro problema complicado, dessa vez de estabilidade, ocorreu em 2017 com o Toyota SW4 que foi muito mal no famoso “Elk Test” da revista sueca Teknikens Värld (Mundo da Tecnologia em sueco). Que teste é esse? Cones na estrada simulam a necessidade de uma manobra emergencial ao volante para se desviar de um obstáculo na pista.
Aliás, aqui no Brasil, um SW4 não resistiu a um teste bem mais leve: um deles, da frota da Policia Militar de São Paulo, capotou em 2015 em plena reta da av. Tiradentes (centro de São Paulo), depois de uma ligeira manobra ao volante. Alguém gravou o acidente e o vídeo viralizou.
RAV4 também reprovado
Agora, no final de 2020, o Toyota RAV4 Híbrido também foi reprovado no teste da revista sueca e considerado “perigoso” pela publicação. A engenharia da Toyota analisou seu ESC (Controle Eletrônico de Estabilidade) e o recalibrou. Mandou o carro novamente para a revista e o RAV4 foi então aprovado.
A Toyota do Brasil foi consultada por já ter vendido várias unidades do modelo no nosso mercado. E disse que, segundo a matriz, o RAV4 Híbrido foi aprovado em todas as exigências internacionais de segurança. Mas que, tendo em vista o fracasso no teste da revista sueca, iria disponibilizar o reajuste do ESC neste primeiro trimestre de 2021 para os clientes que assim o desejassem. E que iria também introduzir a modificação na “produção em massa”.
Mercedes, mais preocupada
Numa situação semelhante, a Daimler Benz teve um comportamento correto ao ter um modelo reprovado no mesmo teste.
Seu Classe A tomou bomba no “Elk Test” em 1997, logo depois de lançado e dois anos antes de ter sua produção iniciada na fábrica de Juiz de Fora, MG. A Mercedes mostrou-se surpresa e, assim como a Toyota, também afirmou que o Classe A tinha sido aprovado em todos os testes antes de iniciar suas vendas. Assim como a japonesa, os alemães decidiram então aperfeiçoar a suspensão do carro com o ESC e outros ajustes. E foi então aprovado pela Teknikens Värld.
Entretanto, ao contrário da Toyota, fez um recall de todos os carros já comercializados para corrigir os problemas de estabilidade.
E agora, Toyota?
O teste do RAV4 (veja vídeo no autopapo.com.br) não deixa margem a dúvida: numa manobra de emergência, a 68 km/h, ao se desviar para a esquerda de um obstáculo na pista e rapidamente voltar para a direita, há uma forte tendência à capotagem. Em velocidades maiores, é praticamente impossível evitar o acidente.
Ora, pode não ter alce atravessando estrada no Brasil, mas tem vaca, cachorro, buraco e…pedestre. E o RAV4 Híbrido corre grave risco de provocar um acidente nesta situação.
A Toyota acha suficiente “disponibilizar o reajuste do ESC para os clientes interessados”? Se reconheceu o problema de segurança e o corrigiu, não deveria realizar um recall para os modelos RAV4 que já rodam pelo mundo?
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
Mais Boris? autopapo.com.br