O resultado do GP do Bahrein (foto de abertura, Verstappen chegou 0″775 atrás de Hamilton), prova disputada domingo no circuito de Sakhir, no Bahrein, pode parecer óbvio, mas ficou longe disso. O cenário da prova disputada em um circuito praticamente plano contava com umidade relativa do ar na casa de 52%, ventos de até 47 km/h que espalhavam a fina areia do deserto local pelo asfalto e carros ainda em fase inicial de desenvolvimento. Uma lista de fatores que só poderão voltar a acontecer no final da temporada, quando a categoria volta se apresentar na região. A próxima etapa, dia 18 de abril, em Imola, terá uma ambientação bem distinta.
Ante tal lista longa, uma análise generalizada das atuações dos 20 pilotos indica algumas probabilidades: a briga pelo título da temporada será entre Lewis Hamilton e Max Verstappen e tão dura quanto a de 2016, quando o inglês foi derrotado pelo alemão Nico Rosberg em uma batalha épica. McLaren e Ferrari deverão ter a companhia da AlphaTauri na disputa pela posição de terceira força e, no final do grid a Williams tem chances de deixar a equipe Haas na lanterna do campeonato.
Em última análise o fator preponderante para a vitória de Lewis Hamilton foi um erro de Max Verstappen. Ao completar uma brilhante ultrapassagem sobre o adversário quando ambos percorriam a curva 4 pela 53ª das 56 voltas do percurso. Max superou Lewis e reassumiu a liderança que já tinha ocupado por boa parte da prova onde largou desde a pole position. Ocorre que, para completar a manobra, o holandês saiu com as quatro rodas da pista, situação que o tornou passível de ser punido com, pelo menos, cinco segundos de acréscimo ao seu tempo total de prova.
Suas declarações de que poderia abrir cinco segundos de vantagem nas três voltas seguintes recordaram o Max Verstappen aguerrido e lutador de início de carreira, mas agora superotimista. Ao final da corrida, o holandês questionou a decisão do time e declarou, pelo rádio, que “preferia terminar em segundo tentando abrir cinco segundos de vantagem do que terminar em segundo naquelas condições”, referência à penalização que supostamente seria aplicada. Christian Horner, diretor da Red Bull optou jogar pela segurança e sua decisão que deixa claro a inconsistência da FIA ao aplicar sanções em casos do tipo.
A possibilidade de uma punição dos protagonistas da prova uniu os dois dirigentes máximos da Mercedes e da Red Bull, Toto Wolff e Christian Horner, respectivamente, em torno da inconsistência do diretor de prova, o australiano Michael Masi, em deixar claro o que seria passível de ser punido e o que não seria. No entender de ambos, as regras foram mudadas no decorrer da prova e durante a transmissão pela tevê foi possível ouvir a mensagem da Mercedes a Hamilton para evitar usar excessivamente a zebra da curva 4. Wolff declarou ao diário inglês The Guardian que “antes da corrida foi dito que ultrapassar os limites da curva 4 não seria caso de punição, mas durante a prova ouvimos que manobras assim seriam.”
Michael Masi esclareceu que esse trecho “não seria monitorado, mas que os pilotos não poderiam obter vantagem ao sair da pista naquele trecho.” O imbróglio não é novo, longe disso, e só faz crescer com o tempo, inclusive em outras categorias. Pilotos reclamam que os comissários esportivos jamais estiveram dentro de um carro de corrida para saber o que acontece em uma disputa de posição, afirmação que se aplica à maioria absoluta desses dirigentes. Os chefes de equipe usam as brechas permitidas por definições ambíguas para obter vantagem, mas como raciocinam cada vez mais com lógica empresarial, são mais rápidos que os cartolas para encontrar e propor soluções, não necessariamente imparciais. Quem perde com isso é o público que adora ver dois, três ou mais carros disputando freadas e posições.
No que toca ao desempenho dos carros nesta primeira etapa, a análise de velocidade máxima mostrou que ser o mais rápido nas retas não garante o melhor tempo por volta. Os dois carros da Mercedes ficaram entre os mais rápidos no trecho misto do circuito e entre os mais lentos do grid em termos de velocidade pura na reta de largada, onde esse índice é medido na linha de chegada e no final desse trecho. Como comparação, Hamilton registrou 290,0 km/h e 315,2 km/h contra 297,3 km/h e 323,6 km/h de George Russell (Williams-Mercedes) nos mesmos pontos. O que explica a diferença das melhores voltas de um (1’34”015) e outro (1’35”036) é que nos setores intermediários 1 e 2 Hamilton era mais veloz (239,5 km/h e 267,70) que Russell (238,8 km/h e 256,7 km/h, respectivamente).
Os índices relativamente próximos indicam que a velocidade maior nas retas é conseguida com menor inclinação das asas; tal solução diminui a resistência do ar e também a velocidade nas curvas, que estão espalhadas por um trecho maior que a reta de aproximadamente 750 metros, menos de 15% da extensão total de 5,412 km. Ou seja, os carros do time alemão são bem mais eficientes nas curvas, o inverso dos Williams.
Na disputa pelo posto de terceira forca da temporada a McLaren levou a melhor sobre a Ferrari. O grande trunfo da equipe inglesa foi concretizar a troca da unidade de potência Renault pela da Mercedes, sem perder o rendimento que a deixou em terceiro no Mundial de Construtores de 2020. Já a Ferrari mostrou que seu motor 065 é mais potente que a versão da temporada passada: Carlos Sainz foi o mais veloz nas medições realizadas nos Pontos Intermediários 1 e 2 e fez a quarta melhor volta da prova. Seu conterrâneo Fernando Alonso, que retornou à F-1 após dois anos ausentes, andou forte até abandonar a prova na 44ª volta, consequência de superaquecimento dos freios traseiros.
Finalmente vale destacar as atuações do já veterano Sérgio Pérez e do estreante Yuki Tsunoda. O mexicano foi obrigado a largar dos boxes depois que o motor do seu carro apagou durante a volta de aquecimento; um reset do sistema eletrônico corrigiu a falha e ele marcou a terceira volta mais rápida da prova para terminar em quinto lugar.
Tsunoda, que tinha nove meses de vida quando Kimi Räikkönen e Fernando Alonso estrearam na F-1 em 2001, mostrou que tem tudo para ser o melhor entre os pilotos japoneses que disputaram a categoria. Ele terminou em nono lugar mostrando doses equilibradas de velocidade e preparo físico.
Decepcionantes as atuações de Sebastian Vettel, ainda sem contar com um carro confiável, e Nikita Mazepin, estreante que rodou em todos os treinos e na corrida sequer passou da primeira curva.
O resultado completo do GP do Bahrein você encontra aqui.
Temporada brasileira ainda se data para começar
O recrudescimento da pandemia do covid-19 continua impactando no calendário brasileiro de automobilismo. Nos últimos dias a rodada de abertura da Copa Truck, Copa Shell-HB20 e GT SprintRace foi adiada do fim de semana de 11 de abril, em Curitiba, PR, para o dia 23 de maio, em Goiânia, GO. A prova de inauguração do Torneio Norte-Nordeste de Kart, prevista para 14 a16 de maio no Kartódromo Emerson Fittipaldi, em Aracaju, SE, também foi postergada e agora está programada para os dias 1, 2 e 3 de julho, no mesmo traçado. As demais etapas seguem confirmadas para 2 a 4 de setembro, em Morada Nova, CE e 25 a 27 de novembro, em Conde, PB.
WG
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