O Alfa Romeo 1900 M “Matta” AR 51, na versão militar, ou AR52, na versão civil, era a resposta da empresa ao vencer a concorrência do governo italiano para produzir um veículo militar, na década de 1950. Apesar da coincidência, AR não significa Alfa Romeo, mas sim “Autovettura da Ricognizione” ou “Veículo de Reconhecimento”. A palavra “matta” em italiano poderia ser traduzida como “louco”.
Como não poderia deixar de ser, as corridas estão tão entranhadas no DNA da Alfa Romeo que nem o “Matta” fugiu à tradição. A marca alinhou o utilitário na lendária corrida Mille Miglia de 1952 (foto de abertura) e venceu na categoria dedicada aos veículos militares. O Alfa Romeo 1900 M “Matta” não teve problemas para vencer o Fiat Campagnola com uma vantagem de 42 minutos.
No mundo pós-Segunda Guerra Mundial, as grandes potências europeias estavam impressionadas com os pequenos jipes americanos Willys-Overland MB e Ford GPW. A supremacia deles frente à concorrência era notória. Os Willys CJ — Civilian Jeep — eram a versão civil, produzidos após 1945.
Enquanto muitos governos decidiram encomendar os seus jipes a Willys-Overland, outros, como foi o caso do governo italiano, decidiram lançar uma concorrência para a produção nacional de um veículo com soluções similares às do utilitário todo-terreno americano.
Duas marcas se interessaram, a Fiat e a Alfa Romeo. Naquela época as duas marcas ainda estavam separadas. E foi o protótipo desenvolvido pela equipe de engenharia da Alfa Romeo, liderada pelo engenheiro Giuseppe Busso, que venceu a licitação.
Surgia o Alfa Romeo 1900 M “Matta” AR51, que daria origem ao AR52, na versão para venda ao público. Busso jogou pelo seguro, baseando-se nos veículos já existentes. O chassi foi quase cópia do Land Rover britânico e o desenho da carroceria foi claramente inspirado no Willys.
O motor era derivado do sedã Alfa Romeo 1900, com 4 cilindros e duplo comando de válvulas, de 65 cv, que passou por diversas modificações para se adaptar às necessidades deste tipo de veículo. A mais importante foi a adoção de um cárter seco, requisito do Ministério da Defesa italiano, para assegurar a correta lubrificação de todos os componentes nos percursos fora de estrada.
Para a movimentação nos terrenos mais difíceis, o 1900 M “Matta” estava equipado com um antigo, mas confiável, sistema de tração total com caixas de redução. O câmbio era manual de quatro marchas. A suspensão dianteira era independente com barras de torção e dois triângulos superpostos em cada lado, um arranjo bem convencional. Na traseira eram utilizados feixes de mola e o tradicional eixo rígido com diferencial autobloqueante.
A carroceria era muito semelhante à do Jeep. O toque da marca italiana foi a dianteira. No lugar das tradicionais aberturas verticais para arrefecimento do motor do norte-americano, os italianos arranjaram as barras horizontais lembrando o símbolo da marca italiana, a tradicional figura estilizada de um coração.
No total, foram produzidas 2.059 unidades para uso militar e apenas 154 unidades para venda a civis. Apesar do sucesso do Alfa Romeo 1900 M “Matta”, em 1955 o Ministério da Defesa italiano rescindiu o contrato, escolhendo a Fiat para continuar a produzir os seus veículos de reconhecimento. O motivo alegado era o fato da mecânica do Fiat Campagnola ser mais simples e menos dispendiosa na manutenção.
Apesar de ter perdido o fornecimento para as forças militares, a Alfa Romeo continuou a recorrer ao “Matta” como veículo de apoio às suas expedições pelo mundo, eventos que na época serviam para as marcas provarem a resistência e a confiabilidade dos seus modelos.
O Campagnola foi um veículo todo o terreno produzido pela Fiat entre 1951 e 1987, com uma remodelação feita em 1974. Foi assim o veículo da Fiat que mais tempo esteve em produção, exatos 36 anos.
Muitos Alfa Romeo “Matta” se perderam com a ferrugem, mas os sobreviventes são itens valorizados nas mãos de colecionadores, que restauram essas preciosidades para que continuem a rodar e mostrar suas qualidades.
AB