A Porsche tem uma história bastante rica com mais de sete décadas marcadas pela inovação e criatividade. Até mesmo no momento atual com veículos híbridos e elétricos, eles têm mostrado que não deixam de lado uma característica que define muito bem sua trajetória: a busca da esportividade.
A própria definição de carro esporte é um pouco ampla às vezes. Ao longo dos anos podemos ver que esse conceito mudou. Antigamente uma versão mais apimentada trazia um escapamento diferente, um comando de válvulas mais bravo ou um conjunto mecânico exclusivo para ela.
Mas assim como a própria definição de cuore sportivo da Alfa Romeo, que aprendi com um colecionador poucos anos atrás, sendo algo que vai além da grade e pode ser representado por toda todas as sensações ao volante proporcionadas pela máquina, a Porsche também tem o seu próprio estilo, algo que, em tradução livre, poderíamos chamar de sportliches herz.
Esse conjunto de sensações e sentimentos encontramos em vários modelos da marca alemã. Já tive a felicidade de acelerar alguns de seus modelos clássicos ao longo desses anos de profissão e existe sempre aquele quê esportivo que acaba tornando a experiência muito prazerosa e definindo o próprio DNA da fabricante.
Nada melhor para definir isso do que o seu modelo mais icônico: o 911. Lançado em 1963 para substituir o bem-sucedido 356, logo se destacou pelo design, comportamento dinâmico e resistência. Essa, aliás, é uma boa qualidade na história do modelo, que sempre sobressaiu pela construção sólida.
A primeira geração durou alguns anos e teve várias versões icônicas. Mas hoje falaremos de um exemplar da segunda geração, chamada de G, que chegou mercado em meados da década de 70 e foi a mais longeva em sua trajetória de sucesso.
Nesse período, em 1974, foi lançada a versão Turbo, que escreveria um capítulo próprio. Vale lembrar que o mundo passava por uma grande crise do petróleo e a marca acabou indo no sentido contrário do restante da indústria automobilística.
Na sequência de modelos o Sport Carrera, abreviado por SC, se tornaria uma das versões de maior produção e também mais conhecidas. O volume de vendas também foi histórico em vários países e com diferentes cilindradas do já aclamado motor boxer.
O motor, aliás, é um dos responsáveis pelo grande sucesso comercial do 911. O motor boxer com 6 cilindros contrapostos arrefecido a ar, que havia surgido inicialmente no seu primo mais popular, o Fusca, mostrou grande capacidade nas ruas e também nas pistas.
O exemplar da nossa matéria é de 1978. Logo de cara dá para notar que ele passou por uma customização de bom gosto. O trabalho ficou a cargo da Weissach, oficina especializada em São Paulo. Um dos destaques visuais é o jogo de rodas de 17 polegadas, bem como a tampa do motor chamada de duck tail (cauda de pato), com um enorme defletor integrado.
Internamente o destaque vai para a textura dos bancos, com o miolo xadrez do 911 R, outra tradição de carros esportivos alemães. Não somente a Porsche mas também Volkswagen e Mercedes-Benz sempre utilizaram essa textura para seus modelos de sangue quente. Além disso volante de três raios da Momo e cintos de segurança de aviação. Uma charme a mais.
Giro a chave tradicionalmente do lado esquerdo. Sobre isso vale uma observação. No modelo atual a chave propriamente dita foi substituída por algo presencial, como seus concorrentes. Porém a marca manteve uma chave simbólica para dar a partida. Uma excelente sacada do ponto de vista histórico.
O motor de seis cilindros e 3 litros entrega aproximadamente 188 cv e 27,2 m·kgf de torque. Quando pensamos em um carro com mais de 40 anos e motor traseiro, esta combinação se torna um ingrediente bastante divertido e mais do que suficiente para bons momentos ao volante.
A primeira impressão sobre esse clássico vem do som do escapamento de inox. Com os graves e agudos devidamente ordenados, saímos para um test drive curto. A alavanca tem engates rápidos E o giro sobe de maneira bastante linear.
Uma das características interessantes dos Porsches diz respeito ao formato e posicionamento dos pedais. E por essa razão perfeitos para o uso do punta-tacco, uma técnica bastante eficaz para acertar o giro durante as reduções de marcha. É uma manobra, ao contrário do que se pensa, que pode ser executada em avenidas de maior movimento e também em estradas.
No mesmo dia desta matéria gravamos com outro exemplar do mesmo proprietário: um Audi R8 de câmbio manual. Esse carro, em especial, faz parte de uma série de 15 unidades que chegaram ao Brasil. Mas falaremos dele em outra matéria. Nessa ficou mesmo a sensação de acelerar um clássico modelo alemão que só melhora com o passar dos anos. Até breve!
GDB
Renato Bellote escreve quinzenalmente às sextas-feiras no AE.