Você já esteve frente a frente com o seu ídolo? Ou encontrou uma lenda que admira desde que se conhece por gente? Se a resposta for sim vai se surpreender com os próximos parágrafos dessa matéria. Caso contrário continue lendo pois não é todo dia que um encontro desse tipo acontece. É muita história sobre quatro rodas.
Na semana passada o Maverick que foi preparado por Orestes Berta e fez sucesso nas pistas pela equipe Hollywood esteve em São Paulo na Automotor, tradicional oficina especializada em Ford V-8, passando por uma rápida revisão. O objetivo era um desfile de carros clássicos de corrida antes do GP de São Paulo de Fórmula 1. E eu não podia perder a oportunidade de conhecer essa lenda.
O automobilismo tem uma longa tradição no Brasil. Começando pelos precursores que iniciaram essa ideia no país tivemos grandes pilotos e personalidades ao longo dos anos. Durante um longo tempo muitos veículos eram trazidos do exterior para corridas de rua ou de estrada. A mais famosa delas talvez seja o Circuito da Gávea no Rio de Janeiro.
E falando sobre os grandes nomes do automobilismo brasileiro o primeiro deles, sem dúvida nenhuma, é Chico Landi. A sua trajetória no exterior e também todo o seu empenho nas pistas popularizaram a ideia das corridas no país. Sem dúvida ele foi um ícone em sua época.
O autódromo de Interlagos que recebeu a última etapa do campeonato de Fórmula 1 deste ano foi inaugurado em 1940. Inicialmente o circuito trazia um traçado ainda mais desafiador como a lendária curva 3, onde a habilidade e a coragem dos pilotos era colocada à prova. Após a reforma no final dos anos 80 ela ainda está lá, escondida, esperando talvez um dia retornar aos tempos de glória.
O contexto do automobilismo nacional no início a década de 70 era extremamente promissor. Várias categorias, muitos pilotos e uma vontade muito grande tanto de preparadores quanto de jovens e veteranos dispostos a disputar um lugar no pódio. Sem dúvida nenhuma foi um momento único em nossa história.
Mas hoje eu vou contar para vocês o meu encontro com uma lenda do automobilismo nacional. Durante a década de 70 a equipe Hollywood trouxe glamour, estilo e uma estrutura de fazer inveja a grandes times europeus da época. Eles contavam com um staff completo com fotógrafos, assessores de imprensa, caminhões de transporte, publicidade e, é claro, ótimos pilotos e belas máquinas.
Uma delas é o tema de nossa matéria de hoje. O Maverick Hollywood preparado na Argentina por Orestes Berta se tornou uma referência tanto da equipe quanto da habilidade mecânica deste verdadeiro mago dos motores. O seu trabalho incluía, além da preparação do 302 V-8, o deslocamento do motor para traz visando um maior equilíbrio e melhor distribuição de peso.
Fotos: Renato Bellote
Essa história começou com um planejamento que incluía estudos de design, aerodinâmica e, claro, mecânica. Porém a complexidade desse projeto que envolveu brasileiros como Anísio Campos e a equipe do argentino Orestes Berta teve meses de organização. E um desenvolvimento bastante apurado com todos os detalhes minuciosos do que seria modificado.
Esse famoso exemplar na verdade correu durante algum tempo na Divisão 1. Era um Maverick “comum”. Mas em 1974 ele voltaria completamente diferente. O trabalho fez com que ele fosse vastamente modificado, desde um chassi tubular até mudanças na estrutura. Se tornou um veículo com características únicas, tanto no estilo quanto no desempenho.
O motor 302 V-8 de 5 litros foi mantido. O pulo do gato veio com a adição dos cabeçotes de alumínio Gurney Eagle e nada menos do que quatro carburadores de corpo duplo — Weber 48 IDA — com as belíssimas cornetas. Estas, por sua vez, além do desenho otimizavam o desempenho e produziam um ronco simplesmente sensacional. Mas na foto do motor acima vê-se um carburador Holley Quadrijet no lugar dos quatro Weber, que devem estar guardados para preservá-los.
A saída de escapamento lateral mostrava que o carro não estava para brincadeira e os 430 cv com 58 m·kgf de torque o colocariam definitivamente entre os grandes carros de corrida da história. Fechando o pacote um belo conjunto aerodinâmico e rodas de 15 polegadas na dianteira e 13 polegadas na traseira, com as respectivas talas largas, o que confere um aspecto bastante intimidador ao carro.
Assim que retornou ao Brasil o carro começou batendo recordes, tanto de velocidade quanto de volta mais rápida. No vídeo temos o depoimento do grande Luiz Fernando Batista, que foi proprietário do modelo após esse período de glória. Repare bem no trecho que ele fala da diferença de tempo logo nas primeiras voltas.
Não demorou para que o mítico Ford se tornasse imbatível nas pistas na famosa Divisão 3, que reunia modelos de peso do mercado nacional e grandes pilotos como Bob Sharp, Paulo Gomes, Pedro Victor Delamare, Luiz Pereira Bueno e outros ícones do esporte.
A referida Divisão 3 e alguns de seus bólidos marcou um período de ouro no automobilismo nacional. Sobre ela e seus incríveis pilotos falarei em outra matéria específica. Inclusive, para salientar a participação dos Opalas, Mavericks e Fuscas que competiram pela vitória. Até a próxima coluna.
GDB