Tchau, tchau, Taos! Sentirei saudade, e tal afirmação tem bem pouco de emoção e muito de razão. Afinal, apesar de sermos AUTOENTUSIASTAS (assim mesmo, em letra maiúscula), o Teste de 30 Dias é justamente orientado para depurar impressões e, semana após semana, estabelecer um claro retrato do veículo. Permite prova e contraprova, permite conhecimento mais aprofundado que só vem com um longo convívio.
No teste feito por Bob Sharp em agosto passado já foi possível perceber que o novo Volkswagen seria um protagonista relevante do segmento, uma novidade para se prestar atenção. Cheio de qualidades e poucos aspectos a considerar passíveis de melhoria/revisão.
Agora, ao cabo de mais de dois mil quilômetros rodados, a boa impressão se confirmou. Aliás, se reforçou, o que permite aconselhar de modo enfático aos leitores que cogitam comprar um suve deste porte e preço.
Ponto alto? A meu ver o comportamento dinâmico. Ponto baixo? A sisudez de sua cabine. De fato, quem entra no Taos conhecendo seus principais concorrentes, Jeep Compass e Toyota Corolla Cross, pode sentir certa falta de requinte. Isto não quer dizer que o Volkswagen é mal acabado ou pobre, mas apenas que ele não traz brilharecos que aumentam a tal da “percepção de qualidade”. O design do interior do Taos é elaborado, mas carente de detalhes luxuosos. Como disse, é sisudo.
E sisudo não quer dizer pior, pois nada do que é necessário falta: a central multimídia é OK, o revestimento das superfícies idem, a tecnologia é a melhor da atualidade e no efetivo uso ele se mostra correto em diversos pontos como ergonomia, habitabilidade e maneabilidade.
Nesta semana final percorri pouco mais de 300 quilômetros, dos quais uma centena deles teve como objetivo dirigi-lo de maneira esportiva. Para tal, fui de São Paulo até a curva AE, em Araçariguama e respectiva volta. Nas bem conhecidas curvas da estrada dos Romeiros, sozinho a bordo e em horário de pouco movimento, tive o prazer de confirmar o quanto o Taos é bom inclusive sendo usado de um modo para o qual não foi feito.
O leitor do AE sabe que suve, ou SUV — Sport Utility Vehicle — significa Veículo Utilitário Esporte e não Veículo Utilitário Esportivo, tradução equivocada adotada pela imprensa brasileira. Só que “Sport” no caso é lazer (como em paletó esporte, por exemplo) e não “esportivo”. A razão de acrescentar “Sport” ao tipo de veículo é que utilitário isoladamente (“utility”) indica tratar-se de veículo para trabalho. De qualquer maneira, os suves são geralmente altos, volumosos, não se prestam a tocadas apimentadas de verdade, não foram feitos para isso. Uns inclusive são perigosos se levados de modo mais “alegre”. Definitivamente não é o caso do Taos, que com suas suspensões firmes e bons pneus (Goodyear Wrangler Territory HT) respondeu de modo adequado às malvadezas que lhe impus. Desliguei o controle de estabilidade, selecionei o modo “Sport”, (aqui sim, sentido de esportivo) que determina uma maior firmeza na direção, trocas de marcha em rotações mais elevadas e acelerador mais rápido, e aferi o que intuía, ou seja, o bom acerto dinâmico inclusive dirigindo de modo… um tanto exagerado.
Considerei excelente a resposta da direção e a permissão para abusar que a mínima inclinação da carroceria concede. A sensação de que os quatro pneus estão sempre bem plantados no solo tem muito a ver com a suspensão multibraço traseira, mas também com uma rigidez estrutural excelente.
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Neste processo esportivo obviamente o consumo mergulhou para baixo dos 5 km/l de média (álcool), mas não mergulhou a eficiência, por exemplo, do sistema de freios. Mesmo depois de repetidas e longas frenagens, muitas delas desequilibrando propositalmente o carro, com desvios de direção bruscos, nem sinal de perda de eficiência por superaquecimento dos freios, ou desequilíbrio. Religando o controle de estabilidade, a eletrônica faz ver seu útil serviço, que sem dúvida é valioso principalmente para os que não frequentaram a (hoje) politicamente incorreta escola do cavalo de pau, do pneu diagonal e do único assistente de direção presente à época, o anjo da guarda.
Feliz com esta confirmação da atitude saudável do Taos mesmo diante de ritmo de tocada algo exagerado, levei-o para a clássica visita à Suspentécnica e seu máster Alberto Trivellato, ao qual não faltam milhares de horas de experiência ao volante e oficina. No passeio que antecedeu ao elevador falamos de preferências, de como os suves se tornaram preponderantes no mercado, e de como é difícil, entre tantos modelos, encontrar suves tão bons como o Taos.
Alberto definiu a resposta das suspensões como correta, mas observa que a opção dos técnicos foi pela firmeza, o que em rodagem urbana pode afetar algo do conforto, mas que em uso rodoviário — e especialmente em condição de carga elevada — oferecerá vantagens, confirmada na prática nos mas de mil quilômetros de rodovia percorridos durante estes 30 dias.
Veja o que o Alberto Trivellato diz no vídeo:
Ao observar o Taos por baixo, Trivellato — e eu — confirmamos o elevado padrão construtivo deste Volkswagen: painéis plásticos bem fixados proporcionam um fundo liso e uniforme. Na parte frontal, apesar dos quase 10 mil km marcados no hodômetro, nenhum arranhão, nem sinal de contato com o solo. E para além desta positiva realidade, empurrando com as mãos o bico do para-choque por baixo fez ver que a flexão é praticamente inexistente, o que certamente evitará que em um eventual contato com o solo os plugues plásticos e demais fixações das partes se afrouxem.
Na traseira, mesmo cenário, com uma nota máxima para o bem protegido sistema de escapamento e o fechamento do para-choque traseiro, que minimiza o efeito paraquedas. E nas suspensões, um cuidado até exagerado com detalhes, como, por exemplo, as proteções plásticas que emolduram os braços da suspensão traseira multibraço, cuja função seriam, supomos, além de proteger as peças, também conter ruídos em situação de uso em pisos com pedras soltas.
“Mais para Audi do que para Volkswagen, né?”. Alberto deixa escapar este comentário, apontando o superdimensionamento de componentes e, como ele costuma dizer, as boas horas de engenharia empenhadas na busca do bom resultado, que significa não apenas durabilidade, mas comportamento dinâmico excelente. Ao final de sua análise, declara um inesperado “eu teria!”, algo que nosso colaborador não costuma externar com frequência. Ponto para o Taos!
Volto ao começo do texto: sentirei saudade. No uso específico deste 30 Dias, pontilhados de viagens, o Taos foi praticamente perfeito. No dia a dia urbano se mostrou adequado, parecendo ser menor do que efetivamente é. A eficiência de seus sistemas de auxílio a condução foi comprovada assim como o rendimento de seu motor, bem casado com um câmbio automático de seis marchas, que tem como recurso a troca de marchas manual a qual, confesso, pouco usei. Sinal que o ajuste eletrônico me satisfez, que o Taos acerta a marcha para cada condição.
Usei gasolina e álcool em proporção equivalente, e não percebi diferença no comportamento do motor, assim como achei o consumo tanto com um quanto com outro combustível adequado. Encerro imitando Alberto Trivellato: eu também teria um Taos, um carro que me atende como autoentusiasta e como avaliador racional, e que atenderá também aos que não tem por automóveis entusiasmo, mas os vê simplesmente como vetores necessários.
No texto da primeira semana comentei sobre a diferença nas vendas que separa o líder do segmento, o Jeep Compass, do Taos, lembrando que entre os dois há o Toyota Corolla Cross. Me propus nestes 30 dias passados com o Taos a investigar se a diferença brutal nas vendas (50% Jeep, 40% Toyota e 10% VW) seria justificável. Agora, afirmo de boca cheia: não é! O novo suve da Volkswagen merece algo melhor do que a rabeira de seu segmento.
RA
Leia os relatórios anteriores: 1ª semana 2ª semana 3ª semana
Volkswagen Taos Highline 250 TSI
Dias: 30
Quilometragem total: 2.310 km
Distância na cidade: 977 km (42%)
Distância na estrada: 1.333 km (58%)
Consumo médio: 8,7 km/l (45% gasolina–55% álcool)
Melhor média (álcool): 10,4 km/l
Melhor média (gasolina): 13,8 km/l
Pior média (álcool): 3,6 km/l
Pior média (gasolina): 5,2 km/l
Média horária: 34 km/h
Tempo ao volante: 67h56 minutos
Litros consumidos: 274,63
Preço médio litro: R$ 5,83
Custo: R$ 1.601,09
Custo do quilômetro rodado: R$ 0,69
FICHA TÉCNICA VW TAOS HIGHLINE 250 TSI | ||
MOTOR | ||
Designação | EA211 R4 TSI | |
Descrição | 4 cilindros em linha, dianteiro, transversal, bloco e cabeçote de alumínio, 4 válvulas por cilindro, duplo comando de válvulas, correia dentada, variador de fase admissão e escapamento, atuação indireta por alavanca-dedo roletada com fulcrum hidráulico, aspiração forçada por turbocarregador com interresfriador, coletor de escapamento integrado ao cabeçote, injeção direta, gerenciamento Bosch MED, flex | |
Diâmetro x curso (mm) | 74,5 x 80 | |
Cilindrada (cm³) | 1.395 | |
Taxa de compressão (:1) | 10 | |
Potência máxima (cv/rpm, G ou A) | 150 / 5.000~5.250 | |
Torque máximo (m·kgf/rpm, G/A) | 25,5 / 1.400~4.000 // 25,5 / 1.500~4.000 | |
Comprimento da biela (mm) | 139 | |
Relação r/l | 0,287 | |
TRANSMISSÃO | ||
Câmbio | Transeixo dianteiro com câmbio automático epicíclico Aisin AQ250-6F de 6 marchas à frente e ré, conversor de torque com bloqueio e controle de neutro, tração dianteira | |
Relações das marchas (:1) | 1ª 4,459; 2ª2,508; 3ª 1,556; 4ª 1,142; 5ª 0,851; 6ª 0,672; ré 3,185 | |
Relações de diferencial (:1) | 3,502 | |
SUSPENSÃO | ||
Dianteira | Independente, McPherson, braço em “L” mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem de Ø 25,4 mm | |
Traseira | Independente, multibraço, mola helicoidal, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem de Ø 21,7 mm | |
DIREÇÃO | ||
Tipo | Pinhão e cremalheira, eletroassistida com motor de passo na árvore de direção, indexada à velocidade | |
Diâmetro mínimo de curva (m) | 11,5 | |
Relação de direção média (:1) | 13,6 | |
N° de voltas entre batentes | 2,8 | |
Diâmetro do aro do volante (mm) | 370 | |
FREIOS | ||
De serviço | Hidráulico, duplo-circuito em diagonal, servoassistido a vácuo | |
Dianteiros (Ø mm) | Disco ventilado/312 | |
Traseiros (Ø mm) | Disco/272 | |
Controle | ABS, distribuição eletrônica das forças de frenagem e assistência à frenagem | |
RODAS E PNEUS | ||
Rodas | Liga de alumínio 7Jx18 | |
Pneus | 215/55R18V (Goodyear Wrangler Territory HT) | |
Estepe temporário | Roda de aço, pneu T125/70R18M (LingLong) | |
PESOS (kg) | ||
Em ordem de marcha/bruto total | 1.420 / 1.890 | |
Carga útil | 470 | |
Peso máx. rebocável com/sem freio (kg) | 400 / 400 | |
CONSTRUÇÃO | ||
Tipo | Monobloco em aço, suve, 4-portas, 5 lugares, subchassi dianteiro e traseiro | |
AERODINÂMICA | ||
Coeficiente de arrasto (Cx) | n.d. | |
Área frontal (calculada, m²) | 2,10 | |
Área frontal corrigida (m²) | n.d. | |
DIMENSÕES EXTERNAS (mm) | ||
Comprimento | 4.461 | |
Largura sem/com espelhos | 1.841 / 2.097 | |
Altura sem/com rack | 1.626 / 1.636 | |
Distância entre eixos | 2.680 | |
Bitola dianteira/traseira | 1.571 / 1.542 | |
Distância mínima do solo | 180 (estimado, dado oficial não disponível) | |
CAPACIDADES (L) | ||
Porta-malas | 498 | |
Tanque de combustível | 51 | |
DESEMPENHO | ||
Aceleração 0-100 km/h (s, G ou A) | 9.3 | |
Velocidade máxima (km/h, G ou A) | 194 | |
CONSUMO INMETRO/PBEV | ||
Cidade (km/l, G/A) | 10,2 / 6,8 | |
Estrada (km/l, G/A) | 12,2 / 8,5 | |
Combinado (km/l, G/A) | 11 / 7,5 | |
CÁLCULOS DE CÂMBIO | ||
v/1000 em 6ª (km/h) | 54 | |
Rotação em 6ª a 120 km/h (rpm) | 2.220 | |
Rotação à vel. máxima em 5ª (rpm) | 4.550 | |
MANUTENÇÃO E GARANTIA | ||
Revisão/troca de óleo do motor (km/tempo) | 10.000/12 meses | |
Troca do fluido do câmbio | Não troca, vida-toda | |
Garantia total (tempo) | Três anos, 6 anos contra perfuração de chapa |