O day after do GP do Bahrein, prova de abertura do Campeonato Mundial de F-1 2022, disputado domingo no circuito de Sakhir, amanheceu pintado de vermelho, consequência do domínio demonstrado pela Ferrari. Para além da pole position, volta mais rápida e vitória de Charles Leclerc (foto de abertura) e do segundo lugar de Carlos Sainz, três carros equipados com o motor 066/7 construído em Maranello.
Kevin Magnussen ficou em quinto lugar com seu Haas HF-22, enquanto Vltteri Bottas e o estreante Zhou Guanyu terminaram respectivamente em sexto e décimo. Tal resultado deixa claro onde está a grande vantagem da Scuderia frente a rivais de peso que decepcionaram. A Red Bull perdeu o segundo e o quarto lugares por problemas de alimentação de combustível e só por isso a Mercedes contabilizou um terceiro e um quarto lugares em um fim de semana atípico.
Apesar de tudo isso e da forma como Charles Leclerc reagiu aos ataques de Max Verstappen, ainda é cedo para imaginar o clima de “já ganhou” que os fanáticos tifosi da Scuderia celebram. Primeiro: trata-se da primeira prova de uma temporada onde novo regulamento adotado trouxe muitas soluções inéditas. Segundo: além de novos carros, novos pneus e novos freios são elementos ainda pouco conhecidos e testados. Terceiro: a capacidade de reação das equipes mais experientes é surpreendente e mudanças não deverão demorar a acontecer.
Igualmente, é inegável o progresso e a recuperação demonstrados pela Scuderia após dois anos de dificuldades que envolveram a mudança do presidente da empresa, cargo ocupado por Benedetto Vigna, físico egresso da ST Microletronics, e a resiliência do suíço Mattia Binotto, que assumiu o posto ocupado por Maurizio Arrivabene entre 2015 e 2019. Binotto chegou como salvador da pátria, mas a demora em colocar a casa em ordem iniciou um processo de fritura no meio da temporada, algo interrompido por Vigna, que foi efetivado no cargo em junho passado. Tudo isso explica a postura de Leclerc e Sainz em exaltar o comprometimento e superação de todo o time considerado o mais rico da categoria e também conhecido por adotar algumas soluções discutíveis em momentos de crise. A última dessas soluções foi um motor declarado ilegal após um processo cujo veredito a Ferrari e a FIA mantiveram secreto.
Surpresas e decepções não faltaram no Bahrein. No primeiro grupo incluem-se os resultados da Haas, Alfa Romeo e Alpine. No segundo a falha da Red Bull em testar apropriadamente o sistema de alimentação de combustível dos seus novos carros, as dificuldades da Mercedes, equipe que dominou o Campeonato de Construtores nos últimos oito anos, e o rendimento pífio da Aston Martin, McLaren e Williams.
Haas e Alfa Romeo mostraram que a decisão de fazer uma temporada discreta em 2021 e focar no carro novo foi correta. Na equipe norte-americana, a volta de Kevin Magnussen foi uma escolha acertada para substituir o defenestrado Nikita Mazepin, piloto que ganhou seu lugar às custas do investimento de seu pai Dmitry na equipe. No campo da operação ítalo-suíça, a chegada de Valtteri Bottas como um reforço de luxo e a presença de Zhou Guanyu após um acordo com a Alpine foi igualmente outro ponto positivo.
Nesse grupo espera-se que a Alpine seja o time que mais vá progredir ao longo do ano, cortesia do reforço de Otmar Szafnauer, a motivação do veterano Fernando Alonso e a resistência do equipamento A522-Renault RE22. Szafnauer tem experiência e vivência no meio, itens necessários para capitalizar o investimento e planejamento da marca francesa, que projeta disputar o título de Construtores e Pilotos em cinco anos. O japonês Yuki Tsunoda, que ficou em oitavo, entre Ocón e Alonso, foi o único sobrevivente da brigada Red Bull e terminou em oitavo, entre os dois pilotos do time francês.
Entre os times que deixaram a desejar, a McLaren viveu essa experiência por problemas crônicos de arrefecimento dos discos de freio. A Aston Martin parece pagar o preço de uma ampla reforma administrativa feita com o avião em pleno voo, e a Williams sofreu um revés em seu caminho rumo à reabilitação plena.
WG
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