Quando a GM anunciou a aplicação do conceito esportivo RS (Rally Sport) ao Cruze hatch, ficou claro que esta seria a única e talvez última opção disponível para quem deseja um hatch médio. O modelo lançado no Brasil em 2011 substituiu o Vectra GT, e foi um produto desenvolvido globalmente pela GM com produção no México, Coreia do Sul, Estados Unidos e China, além da Argentina, que segue sendo a única fábrica do grupo a produzir Cruze para o mercado sul-americano. E essa diminuição de produção global do modelo se deve à perda de volume de vendas para consumidores que migram para os suves, um efeito mundial.

O conceito RS vem sendo adotado pela GM em alguns modelos do portfólio nacional. O primeiro foi o Onix RS, recentemente foi apresentado suve médio Equinox RS, e nesta semana o AE experimentou o Cruze RS que já havia sido noticiado em janeiro 2022. Se preferir assista primeiramente ao vídeo de apresentação e avaliação do veículo:

O conteúdo RS

A divisão Chevrolet da General Motors Company adota globalmente a sigla RS para modificar esportivamente o visual dos seus produtos, sendo apenas alterações de aparência, sem incrementar o conjunto mecânico de motor e suspensão para um maior desempenho.

No caso do Cruze RS as modificações estão concentradas no exterior, além da exclusividade da carroceria hatch, que passa a ser a única opção disponível, o veículo vem com eliminação dos cromados no contorno dos vidros das portas. Para-choque e grade frontal são exclusivos com detalhes em cromo escurecido, o emblema RS está deslocado à esquerda na grade e o logotipo Chevrolet — a gravata-borboleta esitlizada — em preto figura na dianteira e traseira.

O teto é pintado de preto e abrande o teto solar e o defletor traseiro. Os espelhos retrovisores também são pintados de preto, tendo boa harmonia visual com as rodas de face diamantada e pintura escurecida. O para-choque traseiro é exclusivo e tem imitação de extrator de ar na parte inferior.

O interior segue ostentando os cromados visto nas demais versões do Cruze e a personalização fica na costura com linha vermelha nos bancos revestidos com material que imita couro. O conforto e desenho dos bancos segue idêntico ao que já vimos em outras versões avaliadas. O hatch é o menor em termos de volume de porta-malas, apenas 290 litros, mas a versatilidade do basculamento do encosto do banco traseiro é apreciada por muitos.

Sem a tecnologia da versão Premier, o RS ainda oferece multimídia de 8 pol. com WiFi e internet 4G, e OnStar, sendo que ambas tecnologias requerem um plano de assinatura complementar para utilização após o período de degustação de três meses. Pelo lado da praticidade de uso, a versão é dotada de retrovisor eletrocrômico, acendimento dos faróis por sensor crepuscular e ajuste elétrico da altura do facho. Os sensores de estacionamento traseiro com câmera e dianteiro facilitam o uso no dia a dia.

A versão RS não foi contemplada com os sistemas de auxílio ao motorista que equipam a versão Premier do sedã médio, mas nem por isso o carro deixou de ser seguro, pois conta com seis bolsas infláveis (duplo frontal, lateral e cortina) e pré-tensionador nos cintos de segurança. O controle de velocidade de cruzeiro convencional é eficaz nas retomadas e vem associado ao limitador de velocidade, permitindo uma condução sem sobressaltos.

Mecânica impecável

O motor Ecotec de 4 cilindros 1,4-l flex turbocarregado de injeção direta, 16 válvulas com duplo comando de variação continua da fase na admissão e escapamento, teve a calibração ajustada para atender o Proconve L7, sem alterar os resultados de potência máxima de 150/153 cv a 5.600/5.200 rpm e torque máximo de 24/24,5 m·kgf a 2.100/2.000 rpm. E os números de desempenho geral divulgados pelo fabricante seguem idênticos, com 0-100 km/h em 9 segundos e velocidade máxima de 214 km/h.

O câmbio automático GF6 de engrenagens epicíclicas tem 6 marchas, e está bem ajustado à potência e torque do motor colaborando para a ótima dirigibilidade do conjunto. Este câmbio foi alvo de muitas críticas na primeira geração do Cruze, sofreu profundas alterações de componentes e ajustes ao longo de sua vida. Nas versões atuais proporciona trocas de marchas perfeitas, lockup do conversor de torque tem variações de rotação e velocidade para acoplamento, tudo para dar mais conforto, desempenho e economia de combustível.

No uso geral é um conjunto propulsor agradável de dirigir, seja no modo Drive, ou no modo Manual que permite troca de marchas apenas pela alavanca. Ainda em modo manual, se o pedal do acelerador for pressionado rapidamente até o limite (kickdown), o câmbio assume uma função esportiva e faz as trocas de marcha automaticamente na melhor rotação para a carga do veículo, sendo diferente para subidas, plano, descidas ou carregamento do veículo. Se a aceleração for parcial não acontece troca de marcha, subindo até á rotação máxima onde ocorre o corte limpo da injeção. Ótima condição de segurança para descida de serra, ou de conforto e agilidade para as subidas.

O consumo de combustível parece ter melhor resultado do que o último Cruze Sport6 testado. Neste novo RS obtive a média de 16 km/l no trecho entre São Paulo até Campinas estando o carro abastecido com gasolina, Contra 14,5 km/l obtido na avaliação do Cruze Sport6 Premier. Mas o teste do AE não pode ser considerado como resultado absoluto, pois sofre influência do clima e condição de tráfego. No uso geral de uma semana, sempre com gasolina, o consumo acumulado foi de 13,5 km/l para cerca de 400 km rodados com 50/50% entre cidade e estrada.

Conforto e estabilidade

Depois de passar semanas em avaliações de suves e picapes, sentar ao volante de um hatch médio foi um prazer inigualável. O entre-eixos de 2.700 mm com balanço traseiro curto traz bom equilíbrio de movimentação das suspensões. Com a posição de dirigir mais próxima ao solo perde-se a melhor visão periférica proporcionada pelos suves, mas, por outro lado, deixa nosso corpo mais próximo ao centro de gravidade do veículo, sendo menos impactado pelas movimentações de rolagem da carroceria.

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A estabilidade em curvas surpreende, e se no primeiro momento poderia ser criticado a utilização de pneus 215/50R17 em vez de outros de banda de rodagem mais larga, ao forçar um pouco mais nas curvas a resposta é sempre neutra sem tendência de escorregamento dianteiro ou traseiro. A suspensão McPherson na dianteira e eixo de torção na traseira compõem um conjunto muito equilibrado seguindo o que ´é utilizado em veículos desse porte.

Freio a disco nas quatro rodas, sendo os dianteiros ventilados, e todos com pinças deslizantes, é um conjunto suficiente e necessário para a segurança do veículo de 1.336 kg de peso em ordem de marcha e que ultrapassa os 200 km/h de velocidade máxima. A GM anunciou recalibração na assistência elétrica do sistema de direção, mas não senti diferença, apenas segue com a mesma precisão e boa definição de centro já conhecida deste modelo.

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Aspereza de rodagem e absorção de impactos para trafegar sobre o asfalto remendado, paralelepípedos ou até mesmo estrada de terra são bem resolvidos e não causam desconforto para os ocupantes. O ruído de rodagem é outro ponto a destacar, e mesmo em acelerações mais vigorosas em subida, onde o motor e câmbio são forçados ao extremo, não se notam picos de ruído que incomodam.

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Conclusão

Os apreciadores de carros esportivos têm sido tolhidos da disponibilidade de câmbio manual, apesar da possibilidade de condução esportiva em alguns tipos câmbios automáticos. Mas o mesmo não acontece com a carroceria hatch. A eliminação desta configuração do portfólio dos fabricantes deixará uma lacuna no mercado que dificilmente será preenchida por outro tipo de carroceria.

O modelo é oferecido em apenas quatro cores externas (preto Ouro Negro, branco Summit, cinza Satin Still e vermelho Chilli) e uma cor interna (preto) pelo preço de R$ 152.280 na cor preto. O branco tem adição de R$ 850 e as metálicas R$ 1.900.

O Cruze RS é aquele herói da resistência, que apesar de nunca ter tido um volume de vendas expressivo segue nas concessionárias Chevrolet para aqueles que apreciam este tipo de veículo. Vida longa ao hatch médio.

GB