A GWM chamou jornalistas, convidados e autoridades brasileiras a Iracemápolis, SP no início do ano para apresentar a futura fábrica brasileira que fora comprada da Mercedes-Benz, e na ocasião prometeu o lançamento de 10 modelos nos próximos três anos. Chegando ao final de 2022, os executivos da marca chamaram novamente os jornalistas e outros convidados para mostrar qual será seu modelo de negócio e aproveitou para apresentar em primeira mão o Haval 6, um suve médio com propulsão híbrida (motor a combustão e motor elétrico) que será seu primeiro modelo importado da China, e que tem vários itens desenvolvidos para o gosto e aplicação brasileiros.
A holding GWM é muito mais que um fabricante de veículos, e atua nos segmentos de energia, tecnologia, saúde, educação e imobiliário. Pelo lado automobilístico são três marcas a desembarcarem por aqui. Primeiramente a Haval irá trazer os suves híbridos e elétricos para uso geral. A Poer é a marca de picapes que deve ser o primeiro modelo produzido no Brasil a partir de 2024. E a marca Tank é responsável pelos suves de luxo para uso fora de estrada.
Todas essas marcas serão comercializadas por uma rede de concessionários, que os executivos procuram chamar de parceiros de negócio. A rede GWM no Brasil será composta por 28 grupos, que inicialmente terão 50 pontos de venda, com objetivo de chegar a 133 pontos até 2024. Esses pontos vão comercializar sempre as três marcas, e tanto o atendimento quanto a localização estão sendo estudados para dar cobertura nacional. A rede estará apta a oferecer o melhor da venda e pós-venda já no início de suas operações, e com isso desejam conquistar o mercado com maior velocidade. A conferir!
Haval 6
A marca Haval é líder de vendas de suves há 11 anos no maior mercado do mundo, a China, e o modelo escolhido para iniciar essa jornada no Brasil é um dos 10 melhores suves globais, segundo dados do próprio fabricante. A versão terá pré-venda iniciando no primeiro trimestre de 2023 e será importada da China. Os preços ainda não estão definidos, mas deve brigar com o Jeep Compass, Tiggo 8 Pro e Toyota Corolla Cross que já têm versões híbridas.
O BYD Song Plus DM-I apresentado na semana passada traz o conceito de híbrido plugável com motor elétrico mais potente que o motor a combustão, e o novo Haval 6 será similar. Nesta apresentação inicial a GWM divulgou apenas a potência total de 393 cv, e não informou o torque combinado, portanto é impossível determinar qual a potência e torque do motor de quatro cilindros, 1,5-l, 16 válvulas, turbocarregado com interresfriador que equipa o novo veículo.
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Dois motores elétricos estão junto ao câmbio na dianteira e um terceiro no eixo traseiro, que é responsável pela tração integral por demanda. A tração é primordialmente dianteira. Os dois motores elétricos junto ao câmbio têm função de propulsão e/ou geração de energia que é estocada em bateria de íons de lítio de 34 kW·h de capacidade. A bateria também pode ser carregada pelo sistema de tomada Tipo 2/CCS para corrente alternada (AC) de até 6,6 kW com tempo aproximado de 6 horas para carga completa, ou corrente contínua (DC) de até 42 kW, com estimativa de 35 minutos para carregar de 20% a 80%. O alcance com uma carga de bateria é de 170 km sendo possível atingir velocidade de até 140 km/h em modo elétrico. A velocidade máxima do veículo também não foi informada nesta ocasião.
A estimativa de consumo é bem promissora para um carro com peso em ordem de marcha de 2.040 kg. No ciclo urbano é de 28,7 km/l e no rodoviário, 25,3 km/l, ambos medido no ciclo NBR que é o de homologação junto ao Inmetro. O ciclo NBR é bastante próximo do EPA americano.
Se preferir assista ao vídeo gravado durante o evento no Rio de Janeiro:
Impressões ao dirigir
A GWM disponibilizou veículos protótipos, ainda em fase de desenvolvimento, para essa primeira avaliação. O trecho utilizado na avenida que corta o aterro do Flamengo, no Rio de Janeiro ,não permite conhecer por completo o veículo, e o modo de condução foi apenas o 100% elétrico. Mas mesmo assim, ao pressionar a fundo o pedal do acelerador por alguns segundos, o motor a combustão entrou em operação e forneceu potência adicional para as rodas.
O câmbio DHT- Dedicated Hybrid Technology (tecnologia híbrida dedicada) tem duas marchas e está acoplado ao motor a combustão através de embreagem multidisco a seco, sendo que a segunda marcha só é utilizada em velocidades acima de 70 km/h. A transmissão de potência para as rodas pelos motores elétricos é feita por um par engrenado de relação única. Toda essa comutação de marchas é feita automaticamente pelo sistema de gerenciamento.
Apesar do fabricante não divulgar o torque total combinado, arrisco dizer que é superior a 40 m·kgf, permitindo ótima aceleração, muito parecida com a de outros suves elétricos já avaliados.
A calibração da suspensão e da direção ainda precisa de muito trabalho pelos engenheiros brasileiros e chineses da GWM, pois mesmo nesse trecho de piso liso e sem ondulações o suve tem pouco controle de movimentação e a direção parece flutuar.
Por outro lado, o nível de ruído interno para velocidades de até 90 km/h, que é o máximo permitido para aquela via, mostrou-se adequado e similar a suves puramente elétricos.
A integração do freio regenerativo com o freio de serviço é outro ponto que pareceu bem acertado. Ao levantar o pé do acelerador entra em ação imediatamente o freio regenerativo em intensidade similar ao freio-motor de um motor a combustão. Há um segundo estágio mais pronunciado que pode ser ajustado, e ao acionar o pedal de freio ocorre o aumento da regeneração até que freio de serviço atue efetivamente.
Desenho exterior
Utilizando o conceito do menos é mais, os executivos locais da GWM trabalharam junto à matriz para eliminar os frisos cromados, substituindo-os por peças em acabamento preto brilhante. Certamente trouxe uma redução de custo, pois o cromado é mais caro, mas também deixou o carro com um desenho mais despojado. O ângulo de inclinação do para-brisa não é tão pronunciado como em outros suves médios.
O vinco retilíneo conectando o farol à lanterna traseira define a linha de cintura mais alta do carro e parece que estica o entre-eixos de 2.738 mm. As molduras em preto circundam toda parte inferior da carroceria, incluindo o contorno dos arcos dos para-lamas. Ainda pela lateral o destaque em brilho está no desenho exclusivo, com acabamento diamantado, das rodas de 19 polegadas montadas com pneus 235/55R19.
Pela dianteira aparece o novo logotipo HAVAL com letras em cromado sobre fundo azul claro. Sinceramente, acho que isso não combinou. Poderia ser em preto, prata, ou até mesmo na cor da carroceria, mas o azul não ficou bem. A grade tem elementos 3D que flutuam e formam um desenho bem provocativo.
A iluminação é toda em LED na dianteira e traseira e na parte inferior do para-choque aparecem os faróis de neblina. Na traseira o logotipo HAVAL é o destaque logo abaixo da barra acrílica que interligas as lanternas. A marca GWM só aparece no canto inferior direito da tampa do porta-malas que tem abertura motorizada com sistema de mãos livres. Pelo lado esquerdo está o modelo H6 e logo abaixo a indicação da versão PHEV (Plug-in Hybrid Electric Vehicle – Veículo Elétrico Híbrido Plugável).
Complementando o desenho externo do carro aparecem as barras longitudinais no teto, antena tipo barbatana de tubarão e defletor no final do teto. A terceira janela ajuda na iluminação interna e visibilidade 360 graus. No lado esquerdo traseiro está o bocal de abastecimento de gasolina, enquanto na posição espelhada do lado direito aparecem as tomadas de carregamento elétrico.
Interior
As linhas retas no painel de instrumentos e o tamanho relativamente pequeno do quadro de instrumentos à frente do motorista é o que chama a atenção no primeiro contato. O volante multifuncional tem desenho antiquado, deixando de explorar o conceito com base aplanada e/ou melhor apoio para os dedos polegares nas extremidadesdos raios horizontais. Mas o revestimento em couro deixa o toque agradável.
Ao acionar o carro e ver o grafismo do quadro de instrumentos aparece a segunda decepção. Os caracteres são pequenos para leitura em modo de marcha, e a quantidade exagerada de informações acaba poluindo o visual. Segundo informações dos engenheiros da GWM esse quadro é configurável, portanto, pode ser que haja algum ajuste que melhore essa sensação inicial. Na central multimídia, montada no centro do painel de instrumentos o pareamento por Android Auto e Apple CarPlay dispensa o uso de cabo USB, e o carregador de bateria de celular no console central complementa a comodidade.
Simplicidade é vista também nos comandos alocados no console central, e o seletor do câmbio é por botão giratório com as funções P-R-N-D. O acionamento do controle de velocidade de cruzeiro adaptativo está posicionado numa alavanca adicional pelo lado esquerdo do volante. A partida é por botão com chave presencial e o destravamento/travamento das portas é por sensores nas maçanetas.
Posição de dirigir e conforto dos bancos dianteiros que possuem ajustes elétricos é bem adequada para o nível do veículo. A princípio a GWM terá apenas interior revestido com tecido que imita couro na cor preta, mas futuramente poderá importar unidades com três cores diferentes, dependendo da demanda dos clientes.
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O porta-malas tem volume de 560 litros, e o espaço e conforto no banco traseiro também é privilegiado, pois a bateria foi posicionada sob o assoalho do porta-malas, onde iria o estepe, substituído pelo kit de reparo e enchimento. Talvez não seja a melhor opção para um veículo com proposta de uso fora de estrada.
Tecnologia
A GWM já havia apresentado alguns detalhes da tecnologia que estará embarcada no Haval 6, e desta vez foi possível conhecer a central multimídia que está sendo desenvolvida para atender aos principais requisitos dos consumidores brasileiros, e terá reconhecimento de voz para os principais comandos, incluindo aqueles de abrir janelas, teto solar, entre outros. O sotaque e forma de falar do português brasileiro está sendo uma atenção da equipe de desenvolvimento.
Os sistemas de auxílio ao motorista e condução semiautônoma a serem oferecidos no novo Haval 6 posicionam este veículo entre os mais completos do nosso mercado, que além do já citado controle de cruzeiro adaptativo terá: frenagem autônoma de emergência com detecção de pedestres e bicicletas, monitor de ponto cego, alerta de colisão traseira, alerta para abertura de portas, detector e frenagem em situação de tráfego transversal à retaguarda, assistente de permanência e centralização em faixa, auxiliar de estacionamento e desvio semiautônomo inteligente.
Apenas alguns desses sistemas foram possíveis de avaliação, mas a preocupação em equipar o novo veículo com esse conteúdo mostra que o novo fabricante em solo pátrio pretende oferecer produtos em uma gama superior de segurança e conforto. Alguns desses sistemas ainda estão em fase de desenvolvimentos pelas equipes de engenharia brasileira e chinesa.
Conclusão
Mesmo sem a informação do preço com que esse veículo será comercializado, mas sabendo que deverá brigar na faixa dos suves médios e híbridos, já é possível prever que o interesse será grande. E talvez o maior atrativo seja os 170 km de alcance com uma carga de bateria e a certeza que ainda restarão 55 litros de gasolina no tanque.
A GWM informa que o custo para rodar 100 km com o novo Haval 6 estará na ordem de R$ 17,60, ou R$ 0,17 por km rodado., valor que o deixa muito próximo do custo por quilômetro de um carro elétrico, e a fabricante ainda realça o conceito de que esse novo suve, muito mais que um híbrido, é um elétrico com suporte do motor a combustão. Vale a pena esperar e conhecer.
GB
Nota do autor: Tendo em vista que foram fornecidos poucos dados técnicos que justificassem a compilação da ficha técnica padrão do AE, informo abaixo os dados disponíveis:
• Motor a combustão: 4 cilindros em linha, dianteiro, transversal, bloco e cabeçote de alumínio, 4 válvulas por cilindro, turbocarregado com interresfriador, injeção direta, gasolina. Cilindrada 1.499 cm³ (74 x 84,9 mm)
• Motores elétricos:: Três, dois acoplado ao câmbio e um no eixo traseiro, todos trifáásicos
• Potência total: 393 cv
• Bateria de tração: capacidade de 34 kWh e localizada sob o assoalho do porta-malas
• Recarga: conector ripo 2/CCS, 0-100% em até 6 horas em Wallbox AC de 6,6 kW; 20-80% em até 30 minutos em tomada CCS DC de 45 kW
• Câmbio: automatizado com par engrenado de duas marchas
• Suspensão dianteira: Independente, McPherson, mola helicoidal de constante linear, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem
• Suspensão traseira: Independente, multibraço, mola helicoidal de constante linear, amortecedor pressurizado e barra antirrolagem
• Direção: pinhão e cremalheira eletroassistida indexada à velocidade, 2.5 voltas entre batentes
• Freios: a disco ventilado na dianteira, a disco na traseira, duplo-circuito hidráulico na diagonal, ABS, distribuição eletrônica das foras de frenagem
• Rodas e pneus: rodas de liga de alumínio 6J x 19, pneus 235/55R19, kit de reparo em vez de estepe
• Construção: monobloco em aço, suve-cupê, 4 portas, 5 lugares, subchassi dianteiro e traseiro
• Capacidades: ´porta-malas 660 litros, tanque 55 litros
• Peso: 2.040 kg em em ordem de marcha
• Dimensões: comprimento 4.683 mm, largura sem espelhos 1.886 mm, altura 1,730 mm, entre-eixos 2.738 mm
• Consumo de combustível Inmetro PBEV: cidade 28,7 km/l, estrada 25,3 km/l