O telefone tocou. Era o editor de testes de uma revista do setor pedindo um Kadett GS para uma comparação de velocidade final com um modelo concorrente, de uma fabricante alemã. Torci o nariz porque sabia que não tínhamos chances de ganhar, salvo usássemos das mesmas “armas” da concorrência.
E que “armas” eram essas? Lá, eu sabia, havia um pequeno setor onde todas as melhores peças, componentes e outros itens de um carro eram separadas para ocasiões como essas: testes comparativos. Carburadores ou sistemas de injeção, de freios, suspensão e, até mesmo, pneus. Nada fora das especificações de cada carro. Mas tudo nas melhores condições.
E como vencer a disputa?
Bem, fui ao campo de provas, em Indaiatuba, para saber qual seria a forma de enfrentarmos a concorrência, dentro das normas, exatamente como fazia a alemã. Reunido no almoço com os meus amigos do CPCA ouvi deles o que queria ouvir: dá para encarar, pois podemos fazer a mesma coisa com o Kadett GS. Era só aproveitar as melhores condições encontradas nos vários veículos em testes e colocar em um único carro.
Mas tinha uma questão. Será que o diretor do CPCA autorizaria esta ação? Como minha avó dizia, “o não você já tem. Então tente o sim!”. E lá fui eu, falar com o diretor do campo de provas, um sujeito extremamente gentil, atencioso e apaixonado pela GM.
— Saia da minha sala! Você nunca falou comigo sobre este assunto.
Saí, e fui encontrar com os meus amigos engenheiros e mecânicos que me esperavam ansiosos. Quando falei da reação do chefe, todos caíram na risada, esfregaram as mãos e falaram, quase como se estivessem em um coral: ele aprovou, vamos trabalhar. E saíram em busca do melhor para o Kadett enfrentar o teste. Cada um sabia onde estava cada uma das peças e componentes da melhor qualidade.
Depois de tudo pronto, rodar duas horas ininterruptas na pista circular à velocidade máxima para deixar tudo “solto” no Kadett — motor, transmissão, rolamentos de rodas.
E o Kadett GS venceu o teste comparativo e foi, durante muito tempo, o carro mais veloz do País. E tudo dentro dos “conformes”. Cada peça, componente, pneu, estava, rigorosamente dentro das especificações técnicas. Nem um milímetro ou quilograma, ou que quer que fosse, fora delas. Exatamente como fazia a concorrência.
CL