Motoristas são alvo fácil dos fabricantes de inutilidades, pois não têm conhecimento técnico do assunto, são bombardeados por propagandas enganosas, pela imprensa que nada entende e — pior — até por engenheiros especialistas. Aditivo, por exemplo, sempre foi prato cheio para fábricas “fundo de quintal” e até de algumas poderosas e renomadas mundialmente.
Gasolina
Começa aí a confusão, pois é importante aditivar a gasolina para evitar a formação de depósitos carboníferos nas cabeças dos pistões, provocada por seu elevado teor de carbono. Não é à toa que, em vários países do Primeiro Mundo mesmo a “Comum” já vem aditivada. No Brasil, existe a Comum e a Aditivada. Esta vale a pena? Não, pois não há uma padronização nem fiscalização da aditivação, segundo a própria Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Então, o motorista pode abastecer tanto num posto com uma gasolina corretamente aditivada quanto com outra que em nada beneficia o motor. Solução? Abastecer com a Comum e o próprio motorista aditivá-la com o conteúdo do frasco de aditivo para gasolina vendido no comércio, atentando para que seja de marca conhecida e idônea, por exemplo a da foto de abertura (há outras, como o Bardahl Clean Gas).
Na verdade, os aditivos recomendados para a gasolina são detergentes e dispersantes, que evitam a formação de resíduos carboníferos na câmara, e nos injetores, prejudicando a combustão, reduzindo a potência e aumentando o consumo. A aditivação evita estes dois fenômenos por manter limpo o motor. Ou seja, ele não “ganha” potência, apenas deixa de perder.
Mas empresas reconhecidas mundialmente como a Shell e a Petrobrás já anunciaram melhor performance com sua gasolina aditivada. Até o nome criado pela Shell induz ao erro: “V-Power”. Que pode funcionar na Europa, pois lá ela tem algumas octanas extras (98 RON contra 95 RON) que poderia eventualmente aumentar a potência. Mas não no Brasil.
Por falar em octanagem, até o porta-voz da SAE Brasil errou ao afirmar, numa entrevista recente à jornalista Paula Gama da seção Carros do portal UOL, que a gasolina Aditivada tem mais octanas do que a Comum. Não tem.
Mas, além do aditivo recomendado, existem outros que anunciam vantagens inexistentes, principalmente os do tipo “octane booster”, que prometem aumento de desempenho. E ainda danificam as velas por utilizar oxido ferroso em sua composição.
Álcool
O aditivo necessário na gasolina não o é no álcool,, pois o percentual de carbono no álcool é muito menor, cerca de 1/3 do da gasolina e não “suja” o motor. Mas Shell e Petrobrás oferecem-no em seus postos. Tem propriedades, como a de lubrificação mediante um aditivo antiatrito, que podem contribuir. E, mal não faz. Talvez somente ao bolso do motorista.
Óleo do motor
Não requer nenhum tipo de aditivação, pois já vem com todos os aditivos necessários, segundo o projeto do fabricante do motor e o do próprio óleo. Mas existem inúmeras marcas que tentam convencer o motorista a despejá-lo no cárter, o que não se recomenda pois pode gerar uma reação química entre algum deles e o aditivo original, prejudicando componentes do motor.
Uma única exceção é no caso dos motores chamados de “cansados”. Que já rodaram 100 mil km (ou mais) e que se registra uma queima excessiva do óleo. Existem duas opções para atenuar o problema, antes de mandar o motor para a retífica. A primeira é o óleo com maior viscosidade, que reduz a possibilidade de ele passar pelas folgas (anéis e cilindros, por exemplo) e ser queimado na câmara. Além da maior viscosidade, alguns destes óleos contem um aditivo específico chamado “seal swell” que atua diretamente (swell = inchar) em retentores e gaxetas que tiveram suas dimensões reduzidas, permitindo uma pequena passagem de óleo. O único óleo para motores “com alta quilometragem” comercializado no Brasil com este aditivo, além da maior viscosidade, é o Lubrax.
Outros
Líquido para o sistema de arrefecimento não é só água pura (ou água desmineralizada, recomendado), mas com etilenoglicol (cerca de 50/50). Então, ele não só é recomendável, como necessário. Aditivos para outros componentes mecânicos do automóvel não são necessários: câmbio, diferencial, direção hidráulica, etc. Mas não falta quem tente empurrá-lo para o motorista incauto tentando levar vantagem…
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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