A caminho de Monza, uma das pistas icônicas do automobilismo mundial, a F-1 tenta viver com a intensidade que a alta média horária característica da pista italiana. Razões para isso envolvem Felipe Massa (foto de abertura), o domínio da Red Bull e o mercado de pilotos para 2024. Posto que a imprensa especializada italiana gravita em torno do que se respira no planeta Ferrari, há munição para muitos tiros nos próximos dias.
Poucos foram os que duvidassem que Bernie Ecclestone e seu amigo Max Mosley, então presidente da Federação Internacional do Automóvel (FIA), soubessem do lamentável ocorrido no GP de Singapura de 2008, corrida em que Nelsinho Piquet propositadamente bateu durante a prova para cumprir uma determinação de seus então chefes, Flavio Briatore e Pat Symmons. Quando, quinze anos mais tarde, Ecclestone admitiu publicamente que optou por ignorar o fato para proteger o esporte, consumou-se um argumento digno para um filme de sucesso em Hollywood ou uma nova série nos canais de streaming. Aliás, a declaração foi registrada em uma produção veiculada no Brasil pelo canal Star+.
Com esse argumento, Felipe Massa refletiu mais uma vez sobre os fatos e optou por demandar o que ele julga ser seu de direito, o título mundial da temporada, algo conquistado por Lewis Hamilton por apenas um ponto de vantagem. Como é impossível prever qual seria o resultado da corrida caso Piquet Júnior não tivesse provocado o acidente, a opção de anular a corrida foi identificada como uma forma de justificar as demandas do ex-piloto da Ferrari, onde obteve as 11 vitórias em sua carreira na F-1.
Há de se admitir que a demanda de Massa é válida: anular a prova eliminaria seis dos 98 pontos somados por Hamilton durante a temporada, ou seja, daria o título ao brasileiro. Dizer que a causa do brasileiro terá sucesso é outra história. Ocorre que as chances de sucesso parecem crescer: no último fim de semana Jean Todt esteve no Brasil para acompanhar a 600ª corrida da Stock Car (vitória d Átila Abreu em uma corrida das mais acidentadas) e Stefano Domenicali é o atual executivo-chefe da F-1. Domenicali sucedeu Todt no comando da Ferrari em novembro de 2007 e tanto ele quanto o seu antecessor sempre demonstraram admiração e respeito pelo trabalho de Felipe Massa.
A opinião de Domenicali e Todt, em 2008 atuando como Conselheiro Especial da Ferrari, certamente foi pesada antes que uma carta enviada pelos advogados de Massa à FIA. Na carta, o brasileiro pede reparações aos danos sofridos pelas consequências do GP de Singapura. Além de Massa, a Ferrari também lucraria com um possível sucesso da causa: o brasileiro seria o décimo (*) campeão mundial pela marca, após Alberto Ascari (1952/3) Juan Manuel Fangio (1956), Mike Hawthorn (1958), Phil Hill (1961), John Surtees (1964), Niki Lauda (1975/77), Jody Scheckter (1979) Michael Schumacher (2000/01/02/03/04) e Kimi Raikonnen (2007). Em uma fase de resultados abaixo do esperado para uma equipe tão poderosa e carismática, a vitória nos tribunais viria a calhar.
Outro ponto que pode render que pode render dividendos paralelos nessa história é a decisão de Stefano Domenicali, enquanto presidente da F-1, em apoiar publicamente a causa de Felipe Massa. Após adquirir de Bernie Ecclestone o controle da categoria em 2016 pela soma de US$ 4,4 bilhões, a relação amistosa entre comprador e vendedor durou muito pouco. O inglês ainda circulou pelos paddocks durante algum tempo, o que provocou rumores que recomprar o empreendimento. Parece pouco possível que esse período turbulento tenha sido superado 100% e não tenha deixado pontas soltas.
Rave na Holanda
Nem o frio, chuva e a interrupção da prova a menos de 10 voltas do final esfriaram os ânimos dos torcedores que lotaram o circuito de Zandvoort para ver o ídolo local Max Verstappen conquistar sua nona vitória consecutiva, fato que o igualou a Alberto Ascari e Sebastian Vettel. Cortesia da meteorologia instável, as trocas de pneus foram uma constante na corrida em que Fernando Alonso ficou em segundo e Pierre Gasly terminou em terceiro, cortesia de uma penalização de cinco segundos imposta a Sérgio Pérez por exceder a velocidade permitida no pit lane. Apara a corrida de 2024 o paddock do circuito holandês terá mais seis boxes, sinal claro de que a F-1 se prepara para recebe mais duas equipes.
O domínio de Verstappen e da Red Bull tem tudo para continuar no fim de semana: circuito onde a média horária da prova é em torno de 230 km/h, Monza é palco ideal para o desempenho do Red Bull RB19-Honda, inegavelmente o carro mais veloz da temporada. Uma simples olhada na vantagem que Verstappen abre sobre seus adversários nas saídas de curva comprova isso. Tal vantagem é capitalizada apenas pelo holandês: mesmo com a confirmação de que seguirá na equipe até o final de 2024, o mexicano Sergio Pérez segue apresentando desempenho que não condiz com as expectativas de Christian Horner e, principalmente, Helmut Marko. Os erros cometidos em Zandvoort no final de semana voltaram a alimentar especulações que Pérez só vai continuar na Red Bull se for vice-campeão. Vale a pena conferir no próximo fim de semana o desempenho de Charles Leclerc e Carlos Sainz Jr., ambos em processo de renovação de contrato com a Ferrari. Felipe Drugovich vai participar da primeira sessão de treinos livres, cortesia de ser o atual piloto-reserva da equipe Aston Martin. O brasileiro vai substituir o canadense Lance Stroll.
O resultado completo do GP dos Países Baixos você encontra aqui.
WG
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(*) Texto atualizado em 04/09/2023)