A adoção do motor 4-cilindros boxer turbo no Porsche 718 em 2016 foi algo difícil de ser engolido pelos apaixonados da marca, mas certamente foi uma decisão acertada da empresa alemã que deixou seu veículo de entrada bem-posicionado perante a concorrência. O Boxster T não é a versão mais barata da linha, pois o 718 Cayman cupê é mais barato, mesmo assim o valor de R$ 555 mil anunciado no site da marca ainda pode ser acrescido de muitos opcionais, que no caso do veículo testado esta semana já atinge a marca de R$ 650 mil.

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Motor e câmbio

Motor com curso dos pistões relativamente pequeno (76,4 mm) em relação ao diâmetro (91 ) neste caso) permite alcançar giros muito mais altos com maior facilidade e sem apresentar vibrações incomodas. E é isso que encontramos ao acelerar a fundo e ver o conta-giros subindo até 7.200 rpm para efetuar as trocas de marchas.

A potência máxima de 300 cv aparece às 6.500 rpm, enquanto o torque máximo tem curva plana no patamar de 38,7 m·kgf entre 1.950 e 4.500 rpm, graças ao turbocarregador de dupla voluta e controle eletromecânico da válvula de alívio, além das demais tecnologias empregadas neste motor, como a variação de fase nos comandos de admissão e escapamento.

O câmbio robotizado por dupla embreagem em banho de óleo possui 7 marchas à frente com engates rápidos em todas as condições de uso. Porém quando o uso é muito manso o câmbio fica nervoso e acaba causando alguns solavancos nos engates. Mas nada que uma acelerada a mais não o deixe mais comportado. As trocas em modo manual podem ser feitas pelas borboletas atrás do volante ou pela própria alavanca (subindo marcha com toques para trás.

Na comutação entre os modos de condução Normal, Sport e Sport Plus nota-se a mudança imediata de resposta do pedal do acelerador e o câmbio eleva o ponto de trocas automáticas de marchas. No modo Sport Plus o sistema de autobloqueio do diferencial traseiro é acionado, melhorando ainda mais a capacidade de tração nas curvas.

É compreensível que a mudança para este motor 4 cilindros de 2litros tenha roubado alguma das características principais da marca, mas ele não deixa de ser rápido e preciso como todo entusiasta espera.

Ótimo carro esporte

Não são muitos carros esporte de motor central-traseiro conversível de 2 lugares disponíveis no mundo na atualidade. O Jaguar F-Type Cabrio e o BMW Z4 seriam os principais competidores do 718 Boxster T.

Externamente o carro se apresenta bem compacto e com bom equilíbrio nas linhas. As rodas de 20” preenchem bem os para-lamas e os faróis ovalados mostram o DNA da marca. As grades dianteiras abrigam imensos radiadores para prover arrefecimento líquido ao motor, e são complementados pelos radiadores de óleo, interresfriador e condensador da ar-condicionado.

Na traseira um pequeno aerofólio se levanta em altas velocidades ou quando os modos Sport e Sport Plus são acionados, provendo maior downforce (força descendente) no eixo traseiro. Na parte central inferior estão as duas saídas de escapamento lado a lado, um detalhe que encanta.

Ao longo de toda carroceria são poucos os vincos, uma característica dos desenhos da Porsche, mas as grandes entradas de ar nas laterais chamam a atenção de qualquer leigo. E por ali que é admitido o ar fresco para o motor.

A abertura eletromecânica da capota acontece em cerca de cinco segundos e pode ser feita com o carro em movimento até 50 km/h. Quando aberta fica totalmente recolhida no compartimento atrás dos bancos e deixa o carro mais charmoso. As barras atrás dos bancos proporcionam a segurança necessária em caso de capotagem e entre elas há uma tela para evitar o refluxo de ar para o interior da cabine. Um requinte a mais de conforto para os ocupantes.

Trafegar com capota aberta não é a melhor opção para os dias de sol quente de inverno que estamos passando no Sudeste, mas no frescor da tarde é um prazer poder transitar nessa condição, e ao anoitecer apreciar o luar e as estrelas. O 718 Boxster T acaba sendo dois carros: um de capota fechada pronto para desafiar os limites da velocidade, e outro de capota aberta para apreciar e aproveitar a vida.

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Dinâmica de Porsche

As suspensões do tipo McPherson na dianteira e traseira não tiram o brilho da dinâmica veicular bem acertada que os carros da Porsche costumam ter. Neste caso os amortecedores de carga variável permitem duas opções de carga de amortecimento (Normal e Sport), e podem ser selecionados conjuntamente ao modo de condução ou aleatoriamente pelo seletor no console central.

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Não é grande a diferença de carga, mas o suficiente para ser sentida pelo motorista e passageiro. No modo Normal o carro ainda é um esportivo com respostas rápidas e bom controle de movimentação. No modo Sport percebe-se que o controle da carroceria é maior, praticamente inexiste rolagem e mesmo nas frenagens mais agudas não se percebe o mergulho da suspensão dianteira.

O sistema de direção tem relação variável, tornando-se mais rápida à medida que se aproxima do final de curso. Essa característica facilita para manobras em baixas velocidades ao exigir menos movimento do volante e passa maior segurança e precisão em curvas de alta velocidade, pois com direção mais lenta é possível ter maior precisão. A definição de centro do sistema de direção é bem positiva e nos modos de condução Sport e Sport Plus o aumento de esforço indexado à velocidade é mais acentuado.

No sistema de freios a disco nas quatro rodas com pinças do tipo fixa está resguardada a segurança e a chave para bons tempos de volta em circuito. A capacidade de frenagem é muito boa e ao exigir ao máximo chega a assustar, pois os pneus 235/35R20 na dianteira e 265/35R20 na traseira, ambos com índice de velocidade Z e marca Michelin Pilot Sport 4 têm ótimo grip.

Interior aconchegante

O desenho do interior do 718 Boxster T pode ser considerado bem equacionado, pois utiliza materiais de ótima qualidade e agradáveis ao toque. O revestimento em tecido dos bancos é uma decisão acertada, evitando incidentes de queimadura nas pernas ao deixar a capota aberta sob o sol.

O volante de direção tem ótima empunhadura e o único comando existente nele é o seletor do modo de condução, com botão de ultrapassagem ao centro, que permite utilizar toda a potência por 18 segundos. Duas alavancas adicionais estão posicionadas atrás do volante para comando das funções do computador de bordo e do controle de velocidade de cruzeiro.

No quadro de instrumentos a tradição de conta-giros ao centro está mantida, com velocímetro à esquerda e no mostrador da direita estão as informações de bordo e outras adicionais da condução do veículo. Tudo selecionável pela alavanca adicional da direita.

A central multimidia requer cabo USB para pareamento com Apple CarPlay sendo possível acomodar o celular no compartimento central, sob o descansa-braço. Os porta-copos estão embutidos no painel de instrumentos do lado direito. O sistema de ar-condicionado de duas zonas seria dispensável para uma cabine tão pequena, mas no final do dia, trafegando com a capota fechada nota-se que é um requinte muito útil.

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Conclusão

É óbvio que com a capota aberta o som do motor 4-cilindros não é tão eloquente como o antigo 6-cilindros de aspiração atmosférica, mas a agilidade, desempenho e eficiência pagam esse preço. Um carro de apenas 1.365 kg de peso em ordem de marcha e que pode transportar até 325 kg, acelerando de 0-100 km/h em 4,7 segundos para atingir 200 km/h em 17,8 segundos e velocidade máxima de 275 km/h, não aparece em qualquer esquina.

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A eficiência ficou comprovada com o consumo médio de 11,7 km/l no trecho de São Paulo a Campinas a 120 km/h na rodovia dos Bandeirantes, e no final da semana de testes o consumo acumulado foi de 10,5 km/l. Nada mau para um carro esportivo que mostrou toda sua força e elegância durante esses dias de teste.

GB