A fábrica da Ford em Taubaté, SP (foto de abertura), além de produzir modernos motores, ficou famosa entre os jornalistas da região por possuir o melhor restaurante do Vale do Paraíba.
Há 40 anos, numa manhã ensolarada, recebi telefonema do Mauro Borghetti, diretor da fábrica que a Ford mantinha na cidade de Taubaté. Ele me pediu ajuda para administrar a publicação de uma notícia inexistente veiculada num dos jornais locais, de que a empresa iria encerrar suas atividades e ocasionaria o desemprego de aproximadamente 1.000 funcionários.
Era um sábado, o que me permitiu ir ao encontro do Mauro, apurar os acontecimentos e visitar os jornais e emissoras de rádio da cidade para transmitir a verdade dos fatos.
Na casa de Mauro, após receber as informações, redigi um texto esclarecedor que desmentia a origem da notícia e para os editores que estavam ausentes das redações, me senti motivado em realizar a série de visitas necessária para esclarecer o erro cometido por um afoito profissional.
Para não comprometer o tempo daquele sábado, que poderia ter sido reservado para qualquer providência familiar, procurei não os incomodar com longas visitas. Tinha que ser rápido para que toda a imprensa da cidade recebesse o esclarecimento da Ford.
Ao regressar a São Paulo refleti sobre a gentileza da acolhida recebida e fiquei surpreso por saber deles que aquela foi a primeira visita recebida de algum representante da Ford. Durante os encontros que mantive, senti no semblante e nas atenções, muito entusiasmo que minha visita inesperada causou aos profissionais locais. Percebi, então, uma grande oportunidade para aproximar a Ford dos jornalistas de Taubaté e região.
Na segunda-feira o Mauro Borghetti me enviou os jornais da cidade, todos com o texto que produzi revelando os planos da Ford para a cidade. Ao contrário do publicado, naquele momento a Ford estava dando início a uma fase de importantes projetos para a fábrica de Taubaté com a sequência de valiosos investimentos, assim como a participação no Programa Befiex, instituído pelo governo brasileiro como incentivo a ampliar a exportação de produtos, o que permitiu à unidade produzir motores para a Inglaterra, para equipar o automóvel Ford Capri; nos Estados Unidos, utilizado em uma das versões do Ford Thunderbird e também do Mustang, e para o Japão, para a picape Courier, além de outros modelos no Brasil como o Maverick e, posteriormente, novos motores, para o Fiesta e o Escort.
Além da publicação do texto esclarecedor, que destacava os planos da Ford para a fábrica de Taubaté ganhei grandes amigos que passaram a participar de todos os importantes eventos da Ford. Iniciamos um longo e estreito relacionamento com os jornalistas, com frequentes visitas que sempre encerravam com almoços no restaurante da Ford.
Foi um período muito agradável e, mais uma vez de surpreendentes revelações. Em uma ocasião, ao tentar fazer uma reserva no restaurante da Ford para um novo encontro com os jornalistas, fui informado que o mesmo passava por obras de modernização e que deveria aguardar a sua conclusão.
Como demoraria para concluir o projeto, preferi transferir a reunião para o mais famoso da cidade.
Nesse dia, ocorreu mais uma surpresa: ao me despedir e agradecer a participação dos jornalistas, recebi um pedido para que os encontros fossem sempre finalizados com almoço no restaurante da Ford, porque ela possuía o melhor, mais charmoso e com os temperos mais saborosos dos restaurantes do Vale do Paraíba.
O complexo industrial da Ford em Taubaté completaria 56 anos no próximo mês de abril, mas foi desativado em meados de 2021. Lá eram produzidos motores, câmbios e componentes automobilísticos não só para o Brasil e América do Sul, como também para outros importantes mercados mundiais.
Operada pela Ford desde 1967, após a aquisição da Willys-Overland do Brasil, a fábrica produzia inicialmente peças de fundição e componentes de chassis. Em 1974, passou a fabricar os primeiros motores, dos modelos OHC 2,0 e 2,3 para o Mustang e o Thunderbird nos Estados Unidos; o Maverick e a F-1000 no Brasil. De 1995 a 1999, produziu os motores HCS 1.6 para o Fiesta e o Ka no Brasil.
Em 1999, iniciou a produção dos motores RoCam 1,0 e 1,6 para o Ka, Courier, Fiesta, EcoSport e Focus no Mercosul. Em 2010, começou a produzir o Sigma 1,6 para o New Fiesta, EcoSport e Focus na América do Sul, que também foi exportado para o New Fiesta no México e para o Focus montado na Alemanha e na Rússia. Em 2014, ampliou a família Sigma com o motor 1.5, que equipava o Ka.
Em 1997, o complexo da Ford em Taubaté inaugurou a fábrica de câmbios, que possuía sistemas avançados de produção, no mesmo nível dos mais modernos no mundo. A unidade sempre foi reconhecida internacionalmente pelo alto padrão de qualidade e manufatura e registrou marcos significativos de produção, com mais de 8 milhões de motores e 7 milhões de câmbios fornecidos.
Atualmente, a fábrica pertence à CSN – Companhia Siderúrgica Nacional – e a unidade abriga a Prada Embalagens, produtora de embalagens metálicas como latas e embalagens de aço.
LCS
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