Não por acaso a Toyota é a maior fabricante de automóveis do mundo: ela oferece um inigualável padrão de qualidade e confiabilidade. Mas precisa cuidar melhor de sua imagem que começa a perder brilho com uma quase inacreditável sucessão de fraudes e malfeitos praticadas por ela e suas subsidiárias, alguns envolvendo o Brasil.
Em 2010, por exemplo, vários carros da Toyota0 apesentaram um problema de aceleração espontânea. A fábrica negou quanto pôde, mas diante de dezenas de acidentes, decidiu reparar o projeto do acelerador, recall, ou revocação, de 8,5 milhões de automóveis e pagou ao governo americano uma multa de 1,2 bilhão de dólares. No Brasil, não reconheceu a aceleração espontânea do Corolla e só depois de ser proibida de vender o modelo após Ministério Público concordou com o recall.
Outra fraude com sua parceira Hino, fábrica de caminhões. Descobriu-se no ano passado que durante 20 anos (desde 2003) ela adulterava resultados de emissões e cerca de 60.000 unidades foram revocadas.
Mais recentemente, outras duas tramoias. A primeira envolvendo sua subsidiária Daihatsu e ela mesma, ao reforçar a carroceria somente de carros submetidos a crash tests para serem homologados, antes de entrarem em produção. O flagra resultou na interrupção da produção de vários de seus modelos, inclusive o Toyota Yaris Cross que tem lançamento marcado no Brasil até o final deste ano.
Outra, ainda mais recente, é a adulteração de resultados de testes de homologação em motores Diesel (da Hilux e SW4) produzidos pela Toyota Motor Corporation.
Há dois anos, a Toyota do Brasil foi notificada pela Senacom (Secretaria Nacional do Consumidor), do Ministério de Justiça, a explicar a evidente falta de qualidade de uma pintura no silenciador do Corolla Cross. O equipamento foi extremamente criticado pelo mercado e imprensa no lançamento do veículo (além de outros desrespeitos do suve ao consumidor brasileiro) por estar muito visível sob o para-choque. “Pior a emenda que o soneto”, pois ela resolveu disfarçar o silenciador pintando-o de preto fosco. Mas — inacreditavelmente — somente na metade traseira. E pior ainda, com uma tinta inadequada, que descascava em poucas semanas.
Várias fábricas de automóveis no mundo tiveram de fazer mais de 100 milhões de revocações de bolsas infláveis da Takata pois, ao serem inflados num acidente, disparavam estilhaços de aço do deflagrador contra os ocupantes. Foram centenas de feridos, dezenas de mortos resultando na falência da Takata.
Mas, no mês passado, um desdobramento do problema que — por enquanto — só atinge carros da Toyota e alguns Pontiac Vibe (da GM) produzidos entre 2003 e 2004: 50 mil unidades foram incluídas pela NHTSA (órgão federal de segurança veicular dos EUA) num outro recall bem mais complicado e perigoso, pois as bolsas infláveis agora estão se inflando espontaneamente, sem nenhum impacto. A Toyota alerta os donos dos carros envolvidos (inclusive Corolla e RAV4) que evitem dirigi-los e liguem para a concessionária, que os levará rebocados para a oficina.
Técnicos e engenheiros imaginam que, com o passar dos anos, o envelhecimento do elemento (NAN3, trinitreto de sódio) que inicia o processo de enchimento da bolsa ao liberar nitrogênio na sua queima, no caso de um impacto, passa por uma combustão espontânea devido às variações de umidade e temperatura.
Cada tropeção da Toyota faz seu presidente mundial pedir desculpas publicamente: ele já o fez no Japão, EUA e China. Vai acabar tendo problema na coluna de tanto se curvar no palco.
BF
A coluna “Opinião de Boris Feldman”, que neste sábado voltou a ser semanal, é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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