Todo dezembro forte é seguido de janeiro fraco, quem nos acompanha aqui no Autoentusiastas já deve ter se acostumado, já se vão quase nove anos de análises ininterruptas. O fenômeno é simples de entender, todos fabricantes e revendedores se deparam com as metas, enfiam vendas goela abaixo para atingir seus números e sobra a ressaca para janeiro.
Ano passado tivemos um bom dezembro então se imaginava um déjà-vu em janeiro e não ocorreu, as vendas de leves foram quase 17% superiores a janeiro/23, o varejo foi 23% melhor, longe, bem longe de uma ressaca.
Márcio de Lima Leite, presidente da Anfavea, colocou na reunião o vice-presidente da República e Ministro do Desenvolvimento, Indústria, Comércio e Serviços (MDIC), Geraldo Alckmin para palavras iniciais, pois haviam acabado de selar acordo de… mais um pacote de incentivos tributários para o setor, tema de bastante controvérsia, até interna minha, pois me defino como liberal e defendo apoio à indústria automobilística, que vise assegurar posições de trabalho e renovação tecnológica. Sigo a indústria de perto na Europa e EUA e posso afirmar que nossos incentivos aqui são de timidez de uma virgem santa católica, quando comparado com eles. O presidente da Anfavea repetiu algumas vezes o modelo americano, lá Biden despejou na indústria cerca do equivalente a um ano de PIB brasileiro.
No total tivemos licenciamento de 161.615 autoveículos, sendo 152.247 leves, destes 118.523 automóveis, 33.724 comerciais leves, 8.217 caminhões e 1.151 ônibus. Nem leve dor de cabeça de ressaca, perto dos janeiros anteriores, próximos ao janeiro de 2021 (171k) e ainda longe dos números prÉ-pandemia.
Logo após selarem o acordo governo e fabricantes, números de investimento pipocaram na imprensa, GM, VW, Stellantis, esperam-se mais alguns, porém frente ao que vemos de ameaça chinesa, me parece haver bastante timidez ainda, o que não é bom.
Importante fazer algumas constatações aos nossos leitores:
• os chineses não estão chegando, já chegaram, não estão comendo pelas beiradas, as beiradas já se foram todas A BYD tomou o 10º posto da CAOA-Chery pelo segundo mês consecutivo, Detalhe: a CAOA tem fábricas e rede em operação, a BYD ainda não.
• Enquanto aqui discutimos como será a transição dos veículos movidos a motores a combustão para os híbridos, os chineses desembarcam híbridos (HEV), híbridos de tomada (PHEV) e puramente elétricos (BEV), enquanto governo anuncia R$ 3,5 bi em incentivos tributários para este ano, para uso em renovação nas fábricas e novos produtos de todos fabricantes aqui instalados A BYD deve colocar mais que esse montante sozinha em suas operações na Bahia (arrematou o terreno que era da Ford em Camaçari), aumentou a garantia das baterias de BEV e vem lançando modelos que cobrem a faixa de preços de R$150.000~300.000.
Alguns números de mercado abaixo de BEV e PHEV, divulgados pela Fenabrave ajudam a ilustrar melhor o panorama. Somando os totais BEV e HEV no mês de janeiro, temos 12.026 licenciamentos, ou 8% do total de automóveis. Pouco? Sim, porém nos HEV duas marcas chinesas novatas detém 80% do total; nos HEV, onde a Toyota estava até então sozinha, essas mesmas duas marcas, GWM e BYD, ficam com 41%, ou seja, quem domina o início da eletrificação no país são duas novatas chinesas, um fenômeno que vem causando dores de cabeça e revisões estratégicas nas empresas que aqui estão há décadas. Nada é por acaso, o AE avaliou cada novo modelo e atestou qualidade nos materiais, qualidade construtiva, alta tecnologia nas baterias, alta eficiência elétrica, isso quanto a produto. Depois vem oito anos de garantia para as baterias, enfim, estratégias agressivas de entrada.
Tabela Fenabrave BEVs e PHEVs
Voltando às vendas domésticas, o presidente da Anfavea ainda explicou que as projeções da entidade para o ano pontam para crescimento de 5%, que é metade do que prevê a Fenabrave, mas que “ainda não temos elementos novos que confirmem será muito diferente dessa faixa de crescimento, ainda há bom caminho a percorrer na melhora do crédito ao consumidor, juros mais baixos, etc.”
Varejo foi melhor ainda, cresceu 23% nos veículos leves, ou seja, houve mais procura na rede de concessionários, em que pese que o crédito ainda esteja restrito. Há um otimismo moderado no ar.
Ranking do mês
Fiat na frente, com 30.852 unidades licenciadas, seguida da VW, com 22.144, GM com 18.912, depois Hyundai, 14.237, Toyota, 13.722, Jeep, Renault. A entressafra de novos produtos vem custando percentuais de participação no mercado da marca francesa, que deixou de figurar entre as oito marcas principais no varejo e espera-se os lançamentos previstos a recoloquem no seu lugar habitual.
Nos automóveis, HB20 (foto de abertura) foi o líder, com 7.478 unidades, seguido de perto pelo Polo, 7.258, depois Onix, 5.714, Creta, 4.898, Argo, Tracker, Kicks, Mobi, Compass e Onix Plus fecham os dez primeiros.
Nos comerciais leves a primeira posição se manteve com a Fiat Strada, 8.022, seguida pela Saveiro, 3.631, Hilux, 3.277, Toro, 3.219, Montana, Ranger, Rampage, S10, Fiorino e Oroch fechando os dez primeiros.
O trimestre terá lançamentos importantes, fiquem ligados, o AE será o primeiro a mostrar.
Um bom ano a todos!
MAS
(Atualizada em 19/02/24 às 23h30)