Poucas vezes se viu um início de temporada tão intenso quanto o que a Fórmula 1 vive em 2024. Da surpreendente contratação de Lewis Hamilton pela Ferrari até a possível saída de Adrian Newey da Red Bull, as ondas de especulações e anúncios tornam-se mais impactantes e envolventes que as vistas nas praias de Miami (foto de abertura), onde a categoria se exibe no fim de semana. Prova disso é a confirmação que o alemão Nico Hulkenberg, piloto com mais de 200 largadas e nenhum pódio em sua carreira, já foi contratado pela Audi para 2025. No fim de semana o jornal inglês Daily Express publicou que Amanda Smerczak, esposa de Adrian Newey, está avaliando casas à venda…na Itália.
Essa possibilidade é justificada pelo desencanto de Newey com a disputa interna na equipe Red Bull, onde está desde 2006. A Ferrari, porém, não é única que tenta garantir os serviços do engenheiro inglês que, no começo de sua carreira, passou pela equipe Fittipaldi. O cenário movimentado também é mais do que propício para a renovação dos pilotos em atividade, onde vários estão mais ameaçados do que outros.
A equipe Red Bull sofre um processo de desgaste iniciado com a morte de Dieter Mateschitz, austríaco que transformou a bebida energética criada pelo tailandês Chaleo Toovidhya em sucesso mundial de vendas. Seu falecimento desencadeou uma briga de poder pelo controle da equipe, onde Christian Horner é apoiado por Toovidhya e Helmut Marko, pelos herdeiros de Masterschitz. Horner ainda sofre consequências de uma acusação de comportamento inadequado frente à uma funcionária, atualmente suspensa de suas funções. Tal situação desagrada a Newey e constrange Max Verstappen, que sempre apoiará Helmut Marko, o homem que lhe abriu as portas da F-1 antes mesmo de ser maior de idade.
A Mercedes explora esse fato para desestabilizar a equipe rival e, como isso não bastasse, os polpudos patrocínios de Sergio Pérez o alçam a uma posição que extrapola seu potencial. Piloto rápido e inconstante, o mexicano certamente não demonstra condições de liderar uma equipe de ponta como a própria Red Bull ou a Mercedes, equipes com vagas em aberto. Ficar onde está é sua melhor opção para o momento.
A dupla de pilotos da Ferrari segue por caminhos diversos: Charles Leclerc segue como a grande aposta da Scuderia, apesar de se envolver em acidentes e não contar com a sorte dos campeões. Preterido em favor de Lewis Hamilton, Carlos Sainz é o único piloto do grid que derrotou os pilotos da Red Bull nos últimos 18 meses. Some-se a isso o fato de ser mais eficiente que Leclerc na atual temporada, mesmo tendo ficado fora de uma corrida o tornam o piloto mais cobiçado do mercado. Audi, Red Bull e Mercedes são as melhores opções para Sainz; a primeira oferece um salário polpudo e um período de desenvolvimento antes de lhe permitir lutar por vitórias; a segunda tem um carro competitivo vive uma crise com potencial desconhecido e tem Max Verstappen como primeiro piloto. Já a terceira tenta se reerguer de três temporadas decadentes.
Os pilotos da McLaren são cobiçados por grandes equipes, mas não estão disponíveis no mercado, exceto se oferecerem muito dinheiro para a equipe comandada por Zak Brown. Lando Norris e Oscar Piastri, sem dúvida, formam a dupla mais equilibrada do grid e contribuem bastante par o progresso constante do time laranja.
O inglês George Russell é cria de Toto Wolff, que o apoia há várias temporadas. Certamente o desempenho medíocre dos flecha de prata nos últimos anos contribuíram, mas até o momento Russell não mostrou o desempenho que Wolff espera. Para o lugar de Hamilton as possibilidades são Max Verstappen (muito difícil), Carlos Sainz (possível) e Kimi Antonelli (muito arriscado). O último é outra aposta de Wolff, que pode colocá-lo em alguma equipe menor para se ambientar ao competitivo mundo da F-1.
Na Aston Martin a grande incógnita é até quando Lawrence Stroll vai bancar o próprio filho, Lance. O posto de primeiro piloto de fato está garantido para Fernando Alonso pelas próximas duas ou tries temporadas. Ao renovar seu compromisso com o time inglês o espanhol indicou que a Mercedes e a Red Bull não teriam aceitado suas condições para alterar seu CEP profissional.
O japonês Yuki Tsunoda mostra boa evolução desde o início do ano passado. Certamente a Honda lhe dá apoio distinto aos demais pilotos da equipe B da Red Bull, antiga Toro/Rosso/Alpha Tauri, mas sua garra é inegável. Apesar de apoiado por Christian Horner, seu desempenho deixa a desejar e ele é forte candidato a estar ausente do grid de 2025. O favorito para ocupar seu lugar é o neozelandês Liam Lawson.
Na equipe Haas cresce a possibilidade do inglês Oliver Bearman ser indicado pela Ferrari para preencher o cockpit que Nico Hulkenberg deixará vago ao final do ano. Bearman estreou com um bom sétimo lugar ao substituir Carlos Sainz no GP da Austrália e tem tudo para seguir o caminho já trilhado por nomes como Felipe Massa e Charles Leclerc no caminho a piloto titular da Scuderia. O dinamarquês Jan Magnussen pode continuar na equipe por questões de estabilidade: não é a melhor opção para a Haas trocar novamente dois pilotos em sua nova fase, agora comandada por Ayao Komatsu.
O anglo-tailandês Alex Albon é um nome que pode surpreender. Apoiado pela academia Red Bull ele se destaca mesmo a bordo dos pouco competitivos carros da equipe Williams. Tem lugar garantido no grid, ao contrário do americano Logan Sargeant, que nunca fez sucesso nas categorias de acesso à F-1. Kimi Antonelli – apoiado por Toto Wolff – e o brasileiro Felipe Drugovich são opções para substituir Sargeant.
Os franceses Esteban Ocon e Pierre Gasly formam uma dupla de futuro incerto: um período já longo de reestruturação da equipe Alpine apagam suas qualidades. Ambos estão sem contrato para 2025 e podem preencher vagas secundárias em outros times ou, muito pior, migrarem para outras categorias.
O finlandês Valtteri Bottas e o chinês Zhou Guanyu já sabem que um dos dois perderá lugar para Nico Hulkenberg. Bottas parece ter perdido a chama mostrada no início de carreira; Guanyu ainda precisa melhorar. A Audi, que ano após anos se dirige para ser a proprietária de 100% do Grupo Sauber, adota política mais pragmática no caminho de preparação maior para 2026, quando a casa de Ingolstadt estreará oficialmente na F-1. Hulkenberg certamente foi escolhido por ser alemão e experiente. A outra vaga, para a qual o favorito é Carlos Sainz, está reservada para um piloto vencedor mais arrojado e, dificilmente, será entregue a um piloto novato.
WG
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