Nada mais natural surgirem novas terminologias para o automóvel e nisso os americanos dominam a cena, embora não sejam os únicos. Por exemplo, todo mundo sabe o que é roda-livre, o carro rodar sem utilizar potência alguma aproveitando a inércia de movimento. É como parar de pedalar e a bicicleta continuar rodando.
Após longo hiato, cerca de 60 anos, a roda-livre voltou, só que o rodar no plano sem tração ganhou outro nome nos Mercedes-Benz EQ e Audis e-tron: velejar. Portanto, essa definição de modo algum verbaliza corretamente a roda-livre. Esse é bom exemplo de terminologia moderna inadequada, carros não são movidos a energia eólica.
Roda-livre sempre foi associada ao automóvel DKW-Vemag e também aos cubos de roda-livre AVM para Jeeps de décadas passadas, quase todos de tração 4×4 temporária, para quando trafegassem em modo 4×2 todo o acionamento dianteiro — cardã, pinhão e coroa, planetárias e semiárvores — ficasse inerte, sem absorver potência e em consequência fizesse economizar combustível.
Mas o que me levou a tocar nesse assunto foi um tema atual, os carros híbridos. Como a roda-livre, todo mundo já sabe o que um é carro híbrido. Sua propulsão é por dois tipos de motor, um a combustão, outro elétrico. O primeiro carro híbrido de grande produção já fez 27 anos, o Toyota Prius, lançado em 1997.
Ainda nesta década a fabricante francesa de peças e componentes Valeo criou um sistema de alternador reversível, ou seja, gerava corrente elétrica como todo alternador e tinha também função de motor elétrico. A potência desse motor era aproveitada para pôr o motor em funcionamento por meio de larga e resistente correia de borracha do tipo poli-V, no caso semelhante à que o fazia atuar apenas como gerador. A vantagem dessa solução era eliminar o tradicional e pesado motor de partida por engrenamento, além da inexistência do mais que conhecido ruído ao dar partida. Com o alternarranque tal ruído não existe. Tive essa experiência ao dirigir um Citroën C3 em Paris em 1995.
Esse sistema foi denominado Belt Starter Generator (BSG), que em português foi cunhado alternarranque por Fernando Calmon. Mas não demorou para a indústria perceber que a potência desse alternarranque, em torno de 15 cv, poderia ser utilizada jogando-a na polia do virabrequim do motor a combustão em certas condições de demanda de potência ou simplesmente chegar à potência necessária para movimentar o veículo com menos participação do motor a combustão, o que resulta em menor consumo de combustível.
Assim foi feito — com sistema elétrico dedicado de 48 volts — e nasceu o que os americanos chamaram de mild hybrid, formando a hoje conhecida expressão Mild Hybrid Electric Vehicle, sigla — os americanos são loucos por uma — MHEV. Essa bateria de pequena capacidade, em torno de 1 kW·h, é recarregada só por desaceleração e frenagem regenerativas.
Aqui se traduziu muito mild hybrid como híbrido leve, o que não está errado, pois mild tem os mais variados significados, porém leve não diz muita coisa. Há poucos dias a Associação Brasileira do Carro Elétrico (ABVE) definiu o termo micro-híbrido para mild hybrid, que discordo.
Em minha opinião trata-se indiscutivelmente de um híbrido, o veículo tem dois tipos de motor, só que o elétrico nunca propulsiona o veículo sozinho. Desse modo a hibridez é parcial, motivo para eu discordar do termo da AVBE e por isso não será usado no AE. No seu lugar adotaremos semi-híbrido, um híbrido parcial.
BS