Para ler a primeira parte desta série sobre os carros dos anos 1970 e 1980, clique aqui.
Anos 1990
Já convivendo com os importados, os carros nacionais precisaram se requintar e se modernizar para não ficarem para trás. Vieram Chevrolet Omega e Vectra, Fiat Tempra, VW Gol de segunda geração, entre outros, mas o que mais me dá saudade é o VW Gol GTI 16v duas-portas, configuração que chegou na linha 1996 do esportivo compacto. Além da nova carroceria “bolinha”, era equipado com motor e câmbio longitudinais de origem Audi (alemães) que para poderem ser utilizados no hatch nacional obrigou a fábrica a modificar ligeiramente o capô do Gol criando um pequeno boleado nele. Isso devido ao cabeçote de duplo comando e quatro válvulas por cilindro, mais volumoso. Com potência de 141 cv a 6.250 rpm, era um prato cheio para quem queria desempenho.
Não muito atrás, como coadjuvante coloquei o sedã Chevrolet Vectra GSi outro esportivo nacional com o trem motriz importado da Alemanha. O carro era muito bonito, mesclando classe e esportividade com seu motor 2-litros de 150 cv a 6.000 rpm que o levava de 0 a 100 km/h em apenas 8,5 segundos, segundo a GM.. Era outro integrante do “Cube dos 200”, chegava a 210 km/h. A grande virtude do Vectra sobre o Gol era o fato de ele ter as vantagens de espaço e conforto de um sedã quatro portas, o que garantia comodidade a todos os passageiros, enquanto não deixava de lado o enorme prazer de dirigir e a pegada esportiva. Quase roubou o lugar do principal…
E, mesmo chegando no finalzinho da década, mereceu o espaço como melhor conceito o Mercedes-Benz Classe A, de 1999. Apesar do fracasso de produção nacional e de vendas, o MB brasileiro apresentava soluções modernas, como o assoalho vincado, que melhor absorvia os impactos frontais e laterais, controles eletrônicos de estabilidade e tração de série, opção de câmbio com embreagem automática, além de bastante espaço interno e modularidade. No início, tinha apenas versões 1,6, mas depois ganhou uma opção maior, de 1,9 litro. Cheguei a ficar usando um, cedido pela Mercedes, por um ano inteiro, e lembro que, além de muito seguro e prático, o Classe A conquistava pelo visual diferente, conforto e posição de dirigir ereta e elevada.
Anos 2000
Desse, gostava tanto que quase comprei um zero-km. Seguindo a ideia do Vectra GSi e Gol GTI 16v, a Honda fez o mesmo em 2007, importando um motor 2,0 16v e o câmbio manual de seis marchas do seu famoso esportivo S2000 japonês para serem instalados no Civic Si nacional. Era uma fera de três volumes com 192 cv de potência a altíssimas 7.800 rpm, e um modesto torque máximo de 19,2 m·kgf que ocorria a 6.100 rpm. O motor era “agudo”, mas delicioso de ser ouvido, especialmente trabalhando com aquela caixa manual. Até o ronronar da máquina mudava nas rotações acima de 5.000 rpm.
Aqui temos outro coadjuvante que quase ficou para a próxima década: o VW Polo Bluemotion, lançado em 2009. Apesar de “comum”, me convenceu já no lançamento pela avançada tecnologia, tendo como principal objetivo a redução no consumo de combustível. Para isso, recebia reprogramações da eletrônica do motor 1,6 8v, novas relações das cinco marchas manuais (4+E) e uma série de apêndices aerodinâmicos para reduzir seu arrasto. Até as rodas, com menos resistência ao ar no movimento, grade mais fechada, e os pneus “verdes”, de baixo atrito, além da menor altura de rodagem, contribuíam para deixá-lo mais econômico.
Lembro que, na época, essas soluções me deixavam maravilhado, ainda mais quando analisava suas médias de consumo pelo computador de bordo. Numa mesma década, dois Honda: como dos anos 2000, não poderia deixar de falar do Fit, monovolume lançado em 2003 e produzido em Sumaré, SP. Compacto e com alguns predicados que citei no Classe A (altinho, espaçoso, com posição de guiar ereta), tinha ainda como atrativos a robustez mecânica e o baixo consumo de combustível. Era um carro ímpar também na modularidade: podia-se, por exemplo, levantar o assento traseiro para trás e dobrar o encosto, permitindo que todo o habitáculo ficasse livre para acomodar objetos grandes e altos. Outro carro muito prático e macio, especialmente nas versões com câmbio automático CVT acoplado aos seus pequenos motores. Só não era tão bom assim no desempenho…
Anos 2010
Perdi minha visão em 2012, então classificar essa década já foi mais complicado para mim. Mas, um que me lembro ter sido muito divertido ao volante, fazendo merecer a liderança da década, é o Fiat Bravo T-Jet, hatch médio esportivo que chegou na metade de 2011. Com um motor 1.4 turbo que foi um dos precursores era do downsizing, acoplado ao câmbio manual de seis marchas, era um carro de 152 cv a 5.500 rpm e excelentes 21,1 m·kgf de torque a 2.250 rpm, com potência de sobra já nas menores rotações por conta do turbocarregador. Para 2011, lembrando, já era moderno, com sete bolsas infláveis, faróis de xenônio e direção eletroassistida indexada à velocidade, que vai ficando com menos assistência à medida que a velocidade aumenta.
O coadjuvante eu não cheguei a ver nas ruas, mas acompanhava seu projeto antes de nascer: Hyundai HB20 (“HB” de Hyundai Brasil, e 20 com relação ao seu porte). Os sul-coreanos aprenderam muito rápido o que o brasileiro queria, e fizeram algo à altura no segmento de hatches compactos, um dos que mais crescia na época, segundo semestre de 2012. Junto do design unanimemente agradável, bons equipamentos e o primeiro motor 1,0 de três cilindros 4-tempos do mercado brasileiro — era importado —, que segue em linha até hoje. Rodar macio, com boas respostas de direção e, para não perder a fama de hatch mais popular, tinha economia e confiabilidade como palavras de ordem. Um tiro certeiro dos sul-coreanos, até hoje um dos carros mais vendidos aqui.
Alguns anos mais tarde, em 2015, veio meu campeão em termos de conceito: a primeira picape nacional com quatro portas e carroceria monobloco, sem a utilização das pesadas e antiquadas longarinas de chassi. Basicamente, um suve com caçamba, o que significava também um melhor aproveitamento de espaço interno, caçamba, com maior conforto e dinâmica. Os franceses da Renault apostaram, ousaram e acertaram no monobloco resistente que já existia no suve Duster, melhorando-o com as suspensões traseiras também independentes e mais reforços na estrutura traseira, para suportar o peso das cargas da caçamba: Duster Oroch. Tanto deu certo que, depois, outras picapes no mesmo esquema vieram: Fiat Toro, Ford Maverick, Chevrolet Montana, Ram Rampage, etc.
Na próxima semana, não perca os melhores importados listados por mim na mesma fórmula: por décadas, e divididos entre campeão, coadjuvante e conceito mais interessante. Não perca!
DM
A coluna “Perfume de carro” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
Nota: Alguns dados técnicos dos veículos foram obtidos no site www.carrosnaweb.com.br