Neste mês completo 50 anos como jornalista especializado na área automobilística. Quando iniciei minha carreira escrevendo sobre carros, aos 20 anos, já curtia e lia tudo sobre o assunto, uma paixão que conquistei desde criança, quando só queria saber, ler e aprender sobre automóveis e seu mundo. Terminando o segundo grau como técnico mecânico, no Colégio Industrial Getúlio Vargas, pensava que já sabia de tudo sobre o assunto, mas o tempo e a vida me mostraram que não era bem assim: eu estava apenas no início do aprendizado, até porque a tecnologia automobilística nos ensina algo novo dia após dia.
Para ficar mais perto dos carros, além do curso de máquinas e motores que fiz no “GV”, cursei também um ano e meio de mecânica de automóveis no Senai, sendo um insaciável buscador de informações nas bibliotecas. Claro, queria livros sobre carros, mecânica e afins, nada além. Depois vieram mais três anos de engenharia mecânica na FEI (Faculdade de Engenharia Industrial) e no IEP (Instituto de Engenharia Paulista) e quatro de Jornalismo na Faculdade Cásper Líbero, me graduando, quando, em maio de 1974, fui convidado por um professor para responder dúvidas técnicas de leitores da revista Oficina (posteriormente Oficina Quatro Rodas). De “respondedor de cartas” logo passei para auxiliar de testes, ajudando nas avaliações que a revista fazia.
E, claro, quem gosta de carros e mecânica, quer saber também como prepará-los, para deixar tudo mais rápido, veloz e esportivo. Por isso, comecei a trabalhar em uma oficina de preparação no Cambuci, tendo como chefe o preparador italiano Rafaelle Cecere, que me adotou como aprendiz e começou a me ensinar todos os segredos de uma preparação, ou “envenenamento”, como se chamava na época. Passei, a partir daí, a frequentar o Autódromo de Interlagos, como auxiliar de pista do italiano, que fazia carros de todas as categorias do automobilismo nacional, como Divisão 1, Divisão 3, Fórmula Vê, Super Vê, protótipos e outros. Todas essas riquezas, ensinadas pelo “professor” Rafaelle, me fizeram gostar ainda mais do assunto, descobrindo que aquele moleque de anos antes, na verdade ainda não sabia nada sobre automóveis.
Na área jornalística, fiquei na revista Oficina/Oficina Quatro Rodas até 1978, quando extinguiram a publicação. Ali, fui convidado a começar um novo projeto: a Oficina Fiat, que era distribuída gratuitamente às oficinas mecânicas do país, servindo para ensinar e treinar os mecânicos sobre a nova marca e seu pequeno novo carro, o 147. A Oficina Fiat era feita inteiramente por mim até meados dos anos 1980, e lá conheci grandes amigos do meio, como o saudoso Josias Silveira, então coproprietário e diretor de redação da revista Oficina Mecânica.
Ainda nos anos 1980, mais precisamente em maio de 1981, comecei na revista Quatro Rodas, primeiro com matérias simples, que depois foram aumentando de tamanho e importância dentro do pacote editorial da revista, até me iniciar na área técnica de testes.
Uma curiosidade que nunca contei de forma “oficial” é que fiz muita matéria como freelancer para o Jornal Folha de S. Paulo e para a própria Oficina Mecânica, do Josias. Mas, por questões de burocracias da Editora Abril, não podia assinar matérias de outros lugares com meu próprio nome, aí criei um pseudônimo: E. Dutra.
Logo que comecei a ficar mais atarefado e relevante dentro da Quatro Rodas, fui obrigado a abandonar os trabalhos paralelos, “matando” o E. Dutra. Na mesma toada, cheguei a fazer alguns materiais de lançamento para a Fiat, com releases e ficha técnica do Uno em 1984, e da camioneta Elba em 1986.
Juntamente com Luiz Bartolomais Júnior, iniciamos a modernização dos testes da Quatro Rodas em relação ao que era feito anteriormente: tornamos digitais todas as medições: distância, velocidade e consumo, que até então eram mecânicas (com a 5ª roda de bicicleta, mostrador de precisão no painel e bureta). Na segunda metade dos anos 1980 tínhamos uma aparelhagem semelhante à dos fabricantes da época, que eram utilizados no desenvolvimento dos novos carros, ou seja, conseguíamos resultados mais precisos nos testes. Tudo era impresso em fitas, que guardávamos, no caso de alguma contestação por parte das fabricantes ou dos leitores.
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Fiquei na Quatro Rodas por uma década, até 1994. Depois de alguns meses como assessor de imprensa (inclusive da Mitsubishi, ainda em sua época como importadora), queria voltar para “o outro lado do balcão”: escrever sobre carros, e testá-los. Recebi um convite irrecusável, do próprio Luiz Bartolomais, para uma nova revista automobilística que estava nascendo, a Motor Show, publicada pela Editora Três. De bate e pronto, aceitei o desafio e fiquei na publicação que ajudei a criar por cerca de 24 anos, dos quais quase dez como diretor de redação.
Segui na Motor Show como colunista do site por mais algum tempo e logo comecei também a minha coluna “Perfume de carro” no AUTOentusiastas, que depois se estendeu para outros sites (AutoPapo, Carros com Camanzi, Auto & Técnica e SportMotor). Sem dúvida, nesse meio de caminho muitas coisas aconteceram: perdi minha visão no começo de 2012, mas cheguei a dirigir em duas ocasiões mesmo sem enxergar. Uma, com um Fiat Palio de corrida em 2015, quando dei três voltas em Interlagos (confira o vídeo aqui, nesta outra matéria), e outra, em 2019, chegando a quase 240 km/h com um Ford Mustang Black Shadow numa pista de aeroporto (clique aqui para assistir).
Viagens? Ao longo desses 50 anos como jornalista automobilístico cheguei a conhecer mais de 25 países para dirigir, pilotar ou conhecer veículos dos mais diferentes estilos nas mais diversas pistas e regiões. Quanto aos carros avaliados, estimo mais de 1.300, em ruas, pistas ou fora delas, mundo afora. Vi e avaliei muitas tecnologias e novidades nesse meio século, desde híbridos no meio dos anos 1990, até momentos únicos com um Fórmula 3000 no Autódromo de Curitiba, ou guiando um Audi R8 a 315 km/h debaixo de uma chuva fina.
Dos carros mais legais que já testei, pelo menos dos que eu me lembro, falo na próxima semana…
DM
A coluna “Perfume de carro” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.