(Continuação da semana passada)
Mas também não é fácil dirigir em cidades medievais tão estreitas. Em York vimos um carro parar antes de entrar numa rua, fechar os dois retrovisores externos, engatar a primeira marcha e então entrar na rua tirando fina, literalmente, dos dois lados. E era um sedã médio. Daí nossa opção por um suve não muito grande. Se não, não teríamos sequer conseguido estacionar em metade dos lugares onde paramos. Por sinal, deixar o carro no estacionamento ao lado do hotel em Nottingham só mesmo meu marido. Um prédio de estacionamentos com entrada de rampa em curva tão estreito e de ângulos tão fechados que eu simplesmente teria deixado o carro na rua se fosse permitido. Não sem razão você vê todas as laterais dos estacionamentos raladas e com restos de tinta de tudo quanto é cor de carro.
Por falar nisso, exceto algum pequeno ralado, pequeno mesmo, não vimos em toda a viagem nenhum, nenhum mesmo, veículo de nenhum tipo, fosse carro de passeio, caminhão, moto ou mesmo bicicleta sem cumprir absolutamente todas as condições de circulação. Nenhuma lanterna quebrada, nenhuma luz queimada, nenhum para-choque amarrado com arame, nenhum pneu careca, nadinha de nada. Todos simplesmente impecáveis. É incrível que isto seja possível? Não, basta querer e exigir que assim seja.
Eu, como adoro ser navegadora e, modéstia à parte sou muito boa, ficava a cargo do Waze. E do computador de bordo do carro. E das placas. E da câmera fotográfica. E do outro celular. E da filmadora. E da garrafa d´água. E das balinhas. E das bolachinhas. E de tudo. Já pensei em criar uma espécie de mesinha para o navegador, com entrada USB, encaixe para a água, bolso para o pacote de bolachas, os folhetos e tudo o que preciso para encaixar, apoiar ou sustentar toda a tranqueirada necessária à funções que desempenho com louvor…
O Waze me dava os limites em km/h e o computador do carro em milhas/hora, assim como o painel do carro, o que gerava uma certa confusão. Fora que era muita gente falando ao mesmo tempo dentro do carro e em dois idiomas, então resolvemos silenciar o computador do carro e eu “narrava” os limites para o meu marido que em pouco tempo já fazia as conversões mentalmente. Descobrimos também um sinal que aparecia no painel quando havia uma discrepância entre o que o computador de bordo lia nas placas na estrada e o que o GPS acusava que deveria ser — como quando havia uma placa provisória. Tudo isso só aumentava a confusão. Ou seja: é fundamental ter um navegador. Ou, pelo menos, isso é o que eu disse ao meu marido. Afinal de contas, desde o surgimento do Waze minha função tem sido consideravelmente diminuída nas viagens e não vou pactuar com isso, certo? Agora, sério, é mesmo necessário. Achei muito complicado uma pessoa, especialmente que não conhece os caminhos, dirigir sozinha pelo Reino Unido sem a ajuda de um bom carona. Minha cara-metade também achou.
A sinalização rodoviária e nas ruas é bastante boa, mas as pistas mudam muito rapidamente. Você precisa estar na pista correta o tempo todo. Se está numa que vira à direita, deve virar à direita. E elas costumam ser curtas. Não há tempo para decidir em cima da hora. A sinalização é, principalmente, horizontal. Está tudo indicado no asfalto, mas há pouca ou quase nenhuma indicação de cidades ou destinos finais. Por exemplo, mesmo quando estávamos a caminho de lugares extremamente visitados como Stonehenge, não havia placas nas estradas que indicassem o lugar a não ser a, sei lá, talvez 2 quilômetros antes de chegar. Você percorre às vezes 50 quilômetros sem ter certeza se está no caminho certo — novamente, a não ser que tenha um bom navegador a seu lado. Da mesma forma, há poucas placas que indicam a distância para as próximas cidades.
Na Inglaterra, como na maioria dos países onde o trânsito é bem organizado, o uso de rotatórias é muito comum, inclusive nas estradas. Tem lugares em que elas estão a cada 200 metros, praticamente. Funcionam superbem e são sempre respeitadas. Quem está na rotatória tem sempre preferência e as faixas estão pintadas e tem a indicação de para qual acesso cada uma se dirige, logo é fácil você se posicionar corretamente. Encontramos algumas em cruzamentos tão grandes que havia sinal para organizar o trânsito na rotatória, pois seria impossível para quem não está na preferência entrar em menos de 15 minutos.
Por falar nisso, outra coisa que me chamou a atenção em todo o Reino Unido: os sinais de trânsito são sempre bastante curtos, seja nos tempos para os carros, seja para os pedestres. Você começa a atravessar a pé e eles já mudam de verde para amarelo e para vermelho. Ou seja, nada de dar bobeira. Tem de ser rápido, mesmo. A vantagem é que ninguém fica parado muito tempo, nem pedestre nem carro e os botões para que os pedestres peçam passagem funcionam. Vi um único com uma plaquinha de que não funcionava, mas os carros pararam para dar passagem para nós, os pedestres.
Encontramos alguns pedágios e pagamos com cartão de crédito sem nenhum problema. Tanto que na locadora nem nos ofereceram tag para isso. São poucos os pedágios, os valores são baixos e o pagamento é muito, muito simples. Aliás, meu marido tem a carteira de habilitação internacional, mas apresentou a brasileira para alugar o carro só para ver se era suficiente, e foi. Como já está em inglês no verso nem foi necessário mostrar a internacional e não fomos parados em nenhum momento em toda a viagem, embora tenhamos visto alguns carros de polícia ao longo das rodovias — em todo o Reino Unido as carros de polícia são pintadas com listras fosforescentes e os policiais usam coletes fosforescentes bem visíveis. Às vezes os carros ficam parados atrás de árvores, mas outras apenas no acostamento, em pontes ou qualquer passagem superior (foto). E não apenas nós não fomos parados. Não vimos ninguém sem parado, mas também não vimos ninguém cometer nenhuma infração.
Outro detalhe: o Sul da Inglaterra é realmente muito bonito para viajar de carro, mas em muitos trechos você praticamente não vê nada à sua volta. A estrada fica totalmente “afundada”, como se tivesse sido construída num vale. Não apenas no Sul, vimos isso em outro lugares, mas lá foi mais notável, especialmente em algumas partes de Dorset. Os ingleses chamam isso de “holloways”, uma palavra específica para designar esse tipo de via. Parece um pouco uma trincheira. São caminhos criados há milhares de anos, feitos de lama e pedras moles que com o uso humano e por animais (e posteriormente carroças) foi afundando. O terreno dos lados permaneceu no nível original, assim como a vegetação e hoje as árvores fazem com que muitas vezes dê a impressão de que se está dirigindo dentro de um grande e verde túnel. É uma sensação bem interessante e única, mas não permite que se veja a paisagem em volta e a estrada é tão estreita e sem recuos que é impossível parar para ver qualquer coisa. E quando digo desnível é desnível mesmo, coisa de até 4 metros.
Em resumo, gostei da Inglaterra? Muito, muitíssimo. Recomendo ir? Sim, e especialmente de carro se for para sair de Londres onde de fato não há necessidade. Sei que eles são os grandes divulgadores e implementadores dos trens mas, vá por mim, invista no aluguel de um carro (sim, também é caro) e aproveite as boas estradas e as lindíssimas paisagens, parando várias vezes para curtir cada momento. É complicado dirigir na mão inglesa? Um pouco, mas, sinceramente, quem consegue dirigir, e sobreviver, no trânsito do Brasil consegue dirigir em qualquer lugar civilizado. Dá um pouco de trabalho, precisa de um bom navegador e um celular com chip local para usar o Waze, mas vale a pena. Como eu disse, não recomendo um carro muito grande pela dificuldade em estacionar e especialmente em circular nas cidades mais antigas e amuralhadas, mas mesmo um suve médio como o que alugamos é manobrável.
Mudando de assunto: corro o sério risco de me tornar repetitiva com os vídeos de crianças fofas na Fórmula 1, mas não resisti a mais um. Desta vez, a linda filhinha do Kevin Magnussen chama a atenção do pai. Algo assim como: esqueceu de dar autógrafo! Volta! E depois ainda acena à/ao fã como dizendo “foi nada, não” . Sensacional!
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NG
A coluna “Visão feminina” é de exclusiva responsabilidade de sua autora.