O rali de regularidade, como o Rally Clássicos de São Paulo, é realizado em estradas públicas do estado e nos leva por caminhos muitas vezes desconhecidos, a menos que você more nas proximidades. A 2ª etapa passou por Campinas, perto de casa, já nesta 3ª etapa, realizada no sábado, 14 de setembro, nos levou à região de Ibiúna, uma área parcialmente desconhecida para mim e meu navegador.
As velocidades médias estabelecidas são sempre abaixo do limite da via, ou muito próximas a ele, de modo que todos os carros, desde modelos pré-guerra, como o Buick Seagrave V-12 1926 do nosso amigo Guilherme Malacarne e seu filho Felipe, até Porsche ou Corvette, competem em condições de igualdade. O vencedor é aquele que melhor consegue lidar com as adversidades do trânsito e as condições das vias, mantendo as médias estabelecidas. É uma competição entre você, seu navegador e seu carro, contra o ambiente. Porém, nem sempre este último colabora.
Neste sábado, enfrentamos dificuldades e até animosidades com outros motoristas devido à baixa velocidade em alguns trechos. Em uma descida de serra, o limite da rodovia era de 40 km/h, e os organizadores estabeleceram a média em 38 km/h, o que está correto conforme a premissa de que a média não pode exceder o limite da via. Contudo, esse limite é irreal, muito abaixo da velocidade natural daquele trecho, colocando todos em perigo.
Enquanto descia a serra a 38 km/h, segurando o carro no freio, tive a incômoda presença de um caminhão colado ao meu para-choque traseiro. No entanto, graças ao adesivo “Velocidade Controlada” posicionada na traseira do carro, o caminhoneiro compreendeu a situação e aguardou para nos ultrapassar com segurança. Se o limite da via, estabelecido pelo DER-SP, levasse em conta a velocidade natural da estrada, esse tipo de situação não ocorreria, e certamente não comprometeria a segurança da via.
Infelizmente, nem todos os motoristas demonstram a mesma paciência. Em outro momento, um motorista em um Fiat Fiorino não entendeu ou não leu o adesivo e, ao nos ver a 55 km/h em uma via com limite de 60 km/h, realizou uma ultrapassagem perigosa. Inicialmente, pensei “Vá com Deus”, mas logo à frente, em uma subida, ele reduziu a velocidade, bloqueando nossa passagem a menos de 35 km/h. Após ultrapassá-lo com segurança, ele novamente acelerou, realizou outra ultrapassagem desnecessária e perigosa, chegando a jogar o próprio veículo contra o nosso, exigindo habilidade para evitar uma colisão.
A situação continuou a escalar, e o comportamento desse motorista passou a se assemelhar ao de um marginal. Ele bloqueou nossa passagem e a dos veículos no sentido oposto, criando um impasse de longos segundos, em que não sabíamos se seríamos jogados no barranco ou se algo pior aconteceria. Infelizmente, não tínhamos uma câmera de bordo para registrar o incidente, e não fomos rápidos o suficiente para anotar a placa do veículo.
Esse relato é um desabafo para ilustrar como nosso país está se tornando um território sem leis no trânsito, pois além do que passamos nesta etapa, há relatos de outros participantes que passaram por situações similares, mas nenhuma chegou ao absurdo deste motorista da Fiorino.
As autoridades viárias estabelecem limites de velocidade de forma displicente, dentro de salas refrigeradas, sem ir a campo para entender a realidade. A preocupação com o controle de velocidade parece se limitar à instalação de radares, sem uma vigilância efetiva e móvel. enquanto a certeza da impunidade permite que delinquentes continuem dirigindo irresponsavelmente. Enquanto isso, motoristas que cometem pequenas infrações, como um leve excesso de velocidade em uma descida, são multados.
Em várias regiões, vemos cada município decidir de forma arbitrária seus próprios limites de velocidade, instalando lombadas e, recentemente, adotando a moda das faixas de pedestre elevadas, que obrigam os motoristas a reduzir a velocidade, mesmo quando não há pedestres atravessando. As interseções e trevos, por sua vez, poderiam render um capítulo à parte, dada a falta de planejamento coerente e a utilização de tachões e faixas de sinalização de péssima qualidade, que somem em poucos meses.
Conclusão
O Brasil vive uma crise nas suas estradas. A falta de critério na definição de limites de velocidade, o comportamento agressivo de motoristas e a ineficiência das autoridades em fiscalizar adequada e presencialmente o trânsito resultam em um cenário de caos. Em vez de priorizarem a segurança real, muitos órgãos públicos parecem mais preocupados com soluções paliativas, como a multiplicação de radares e lombadas, que não atacam a raiz do problema: a falta de educação no trânsito e a impunidade. É fundamental uma revisão das políticas de trânsito no Brasil, para que as estradas deixem de ser armadilhas perigosas e voltem a ser lugares de convivência pacífica e segura.
GB