Como tantas que envolvem escolha, esta é um longa, ou interminável, discussão. e quero falar um pouco sobre essa questão.
É um assunto relativamente simples, já que não se trata do veículo autopropelido que conhecemos pelo nome de automóvel, mas apenas do tipo de sua propulsão. Como nos aviões,, com ou sem hélices? Motor de combustão interna de movimento recíproco ou de combustão interna contínua e rotativa das turbinas a gás? Mas o fato é ser tudo avião, cada solução atendendo melhor determinado propósito.
O automóvel requer um meio de propulsão e desde sua alvorada a partir da metade dos anos 1850 veio a dúvida sobre que tipo de motor para propulsioná-lo, a combustão de movimento recíproco — cilindros, pistões, sistema biela-manivela — ou elétrico? E havia também o motor de combustão externa, em que o calor era utilizado para produzir vapor d’água e este movimentar pistões: o motor a vapor.
Os automóveis, durante bom tempo, que vai do início do século 20 até meados dos anos 1930, tinham um desses três tipos de motor, mas acabou prevalecendo o motor de combustão interna até os dias de hoje por uma simples razão: praticidade.
O motora a vapor não pode produzir trabalho instantaneamente por requerer pressão na caldeira e isso demora de 20 a trinta minutos, como nos americanos Stanley. O motor elétrico precisa da energia elétrica fornecida por bateria, esta demorando para ser carregada e ser volumosa e pesada. além da sua carga se esvair rapidamente restringindo o alcance do veículo. Por isso o motor a combustão foi vitorioso, razão de ser o padrão no restante do século 20 e chegando ao século 21.
Após várias tentativas, incluindo o GM EV1 em 1996, o primeiro carro elétrico de produção em série mas que não foi muito longe e tampouco era comercializado normalmente — eram somente arrendados —, a partir da década 2010 começaram a surgir carros de motor elétrico graças ao desenvolvimento das baterias, notadamente as de íons de lítio em substituição às de chumbo-ácido e de hidreto metálico, por sua superior capacidade de armazenar energia com menores volume e peso.
Paralelamente a isso intensificou-se à luta contra o novo inimigo público nº 1, o aquecimento do planeta e as mudanças climáticas devido ao CO2 resultante da combustão. Com isso, a União Europeia decidiu banir os carros de motor a combustão a partir de 2035, levando a indústria automobilística da região, com reflexos na mundial, a entrar em pânico diante da necessidade de alterar seus planos atabalhoadamente. Em outras palavras, bagunçou completamente este importante setor industrial. Mas depois desta longa introdução, falemos da pergunta-título desta matéria.
O carro elétrico
O carro elétrico é como um carro qualquer de motor a combustão. É como um avião para voos intercontinentais, que em vez de motores a pistão têm motor a reação, Tanto um avião (ou carro) quanto o outro prestam o serviço de transporte, seja de passageiros ou de carga.
O carro elétrico tem algumas vantagens incontestáveis sobre o a combustão. Não precisa de câmbio, o trabalho do motor — o torque — passa praticamente direto às rodas motrizes, requerendo apenas um redutor face às elevadas rotações dos motores elétricos. Com isso são apenas dois pedais, atendendo aos “odiadores” de câmbios manuais. Por não haver câmbio, a marcha à ré é feita pela inversão da rotação do motor. da mesma forma que no pequeno Messerchmitt KR 200, cujo motor por ser 2-temos funciona em outro sentido. No carro elétrico o comando de marcha é uma pequena alavanca tipo joy stick e, claro, a troca à frente/ré é feita de maneira direta e sem precisar parar o veículo, nada mais fácil e cômodo.
O motor elétrico não precisa ser ligado, no sentido estrito, basta ser energizado (botão Start ou quando a porta do motorista é aberta, como nos Volvo). Ele só “liga” quando se movimente o pedal do acelerador. E como o motor elétrico não tem funcionamento em marcha-lenta como o motor a combustão, a cada parada em semáforo motor desliga. A função desliga/liga motor nessas paradas é inerente ao tipo de motor, não precisa de “sistema” para isso como nos motores a combustão.
Ao dirigir um carro elétrico logo se nota como ele ganha velocidade instantânea e rapidamente a partir da imobilidade, o que dá imenso prazer e também sensação de segurança pessoal nesses sombrios tempos de abordagens criminosas. Não há absolutamente nenhuma demora (lag) no carro elétrico.
O carro elétrico não rem, obviamente, sistema de escapamento e nem catalisador, itens que futuramente poderão dar problema e custo de reparação, além de ser um peso morto inevitável. Falando de peso, inexiste o peso a bordo variável com o combustível, significando que o comportamento dinâmico do carro elétrico nunca muda em função da quantidade de combustível no tanque.
Outra vantagem do motor elétrico é não precisar de ar para funcionar, que por isso é insensível à altitude. Como é sabido, motores a combustão de aspiração atmosférica perdem 1% de potência a cada 100 metros de altitude. Em Campos do Jordão, a 1.600 metros acima do nível do mar, os motores de aspiração atmosférica perdem 16% da potência.
Muito importante em terras tupiniquins, a energia elétrica não pode ser adulterada, restando apenas a preocupação de se estar sendo o roubado caso o medido de energia fornecida num posto de recarga seja alterado para indicar mais carga do que a real.
Realmente, o elenco de vantagens do carro elétrico é atraente não fosse o tendão de Aquiles chamado bateria Ela é responsável por tirar a liberdade de se ir a algum lugar quando se quiser, a qualquer hora, pela questão de alcance, É preciso ficar atento o tempo praticamente todo ao medidor de carga da bateira e ao alcance indicado no quadro de instrumentos. Mais do que isso, é necessário planejar qualquer saída mais longa e certificar-se de que as estações de recarga esteja operacionais ao chegar a elas. E torcer para que não estejam ocupadas e, pior, com fila (foto de abertura, em Portugal), A liberdade do carro elétrico não chega aos pés do carro a combustão.
“No carro a combustão alcance é apenas informação; no elétrico, preocupação.”, frase que cunhei
Não é preciso falar dos preços dos carros elétricos, nem das baterias, e do peso excessivo delas, por si sós exemplos de irracionalidade. Por isso, apregoar que “o futuro é elétrico” é uma afirmação equivocada, e precipitada, já que o carro elétrico já teve seu lugar no passado — nas duas primeiras décadas do século 20 — só sucumbindo ao carro a combustão por este ter usabilidade inegavelmente superior.
Por tudo isso, o carro elétrico deve ser opção, nunca imposição. E se é bom, como de fato é, não precisa de estímulos nem de incentivos fiscais.
BS
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