A ainda recente decisão de Michael Andretti de abrir mão do comando da Andretti Global (foto de abertura) ressuscitou os planos, até agora frustrados, de ver o sobrenome da família americana batizando uma equipe de Fórmula 1, que vive um recesso inédito de um mês entre os GPs de Singapura, disputado dia 22 de setembro, e do GP dos EUA, dia 20 de outubro, em Austin, no estado do Texas. Filho de um dos pilotos mais conhecidos do automobilismo internacional, Mario Andretti, Michael construiu para si a imagem de “outspoken”, adjetivo que em inglês indica uma pessoa que expressas suas opiniões abertamente sem se preocupar se isso ofende alguém.
O fato de ter liderado a construção de um verdadeiro império de equipes altamente competitivas em diferentes categorias, porém, não foi suficiente para intimidar a comunidade da F-1, que recusou seu ingresso como construtor apesar do apoio oficial da GM como fornecedora de motores. Sua saída da Andretti Global pode ser vista como uma forma de mitigar essas diferenças.
A categoria mais importante do automobilismo mundial é uma irmandade onde se sabe de todos, muito se comenta e nem tudo se concretiza. A contratação de Lewis Hamilton pela Ferrari anunciada no início do ano é um raro exemplo de segredo bem guardado. Os afastamentos de Logan Sargeant e Daniel Ricciardo foram confirmados quando a decisão era fato consumado há algum tempo. Agora voltam os rumores da venda da Alpine, equipe que atravessa um período dos mais difíceis e frustrantes, especialmente quando comparado ao histórico vitorioso da Renault, marca que controla a escuderia na F-1.
Dois fatos corroboram para reforçar o tema e ligar o nome Andretti à categoria via marca Alpine. O primeiro é uma entrevista que Otmar Szafnauer concedeu ao portal High Performance. Afastado da F-1 desde que foi desligado da equipe francesa durante o GP da Bélgica de 2023, o romeno naturalizado estadunidense declarou que uma das causas do fracasso da Alpine é a cultura corporativa adotada, opção comprovadamente ineficiente num ambiente dinâmico e proativo como a categoria. Entre outras coisas, Szafnauer revelou ter recebido instruções para demitir funcionários eficientes e com longo tempo de casa e adotar outros valores de meritocracia.
Outro ponto é que a decisão de interromper o desenvolvimento de seus próprios motores e adotar os da Mercedes-Benz a partir de 2026, circula há tempos e se não é confirmada, ninguém se preocupa em negar. A recente contratação de Flavio Briatore como consultor executivo é vista como forma de preparar o ambiente para a venda. Em uma entrevista exclusiva quando assumiu o comando da então Benetton — embrião do que é a Alpine atualmente — o italiano me confidenciou que “cortar custos e aumentar receita” é sua forma de reorganizar e tornar um time mais eficiente. É sabido que arrendar motores é uma opção muito mais barata do que projetar, desenvolver e construir esse equipamento.
Sem dúvida, melhorar o balanço da equipe Alpine e torná-la mais competitiva aumentará seu valor de mercado. A Renault não está sozinha nesse grupo: em junho de 2023 um grupo formado pela Otro Capital, Red Bird Capital Partners e Maximum Effort Investments compraram 24% do capital do time por € 200 milhões, algo em torno de R$ 1,2 bilhão ao câmbio atual. Não resta dúvida que essa atitude visa lucros futuros, algo que pode acontecer quando a equipe é vitoriosa e pode conquistar patrocínios maiores… Ou quando existe o interesse de vende-la num momento propício.
WG
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