Independente de preferências pessoais ou interpretações sobre a razão da eletrificação, não podemos negar que ela está acontecendo e continuará a crescer, mesmo que com uma curva de adoção mais lenta do que o previsto, por uma série de fatores.
Massivos investimentos já foram realizados e continuam sendo direcionados para pesquisa e desenvolvimento de novas plataformas, eficiência de sistemas motrizes,, baterias e integração de software nos chamados software-defined vehicles ou veículos definidos pelo software. Em questão de meses ou poucos anos, já se espera que os custos de um carro elétrico se equiparem aos de um carro com motor térmico. É uma realidade.
A diferença de custos, hoje, talvez seja um dos maiores contrapontos dos elétricos, junto com a falta de uma estrutura de carregamento apropriada, o custo de manutenção, a durabilidade das baterias e o valor de revenda.
Além disso, percebo uma certa resistência de muitos consumidores mais conservadores pelo simples fato de ser uma novidade. Essa resistência, somada às críticas devido aos fatores mencionados, cria uma barreira à experimentação ou a um entendimento mais amplo.
Embora ainda haja pontos a serem melhorados, como os citados acima, o carro elétrico traz algumas vantagens muito interessantes, a meu ver. Já tive uma boa experiência com eles. Para mim, o desempenho — sentido na aceleração, retomada e precisão —, o nível de ruídos bem baixo ou silêncio, não ter que parar em postos de gasolina, podendo “abastecer” durante a noite, e os recursos tecnológicos integrados são alguns pontos muito positivos.
Existe outro ponto que é até polêmico: a sustentabilidade. Muito se fala sobre a sustentabilidade do “poço à roda”. Essa expressão é usada para destacar a análise de eficiência ou impacto ambiental em toda a cadeia produtiva e de consumo de energia.
Essa análise do poço à roda é importante para avaliar o impacto ambiental real e a eficiência energética de diferentes tipos de veículos:
No contexto de combustíveis fósseis: refere-se ao ciclo completo, da extração de petróleo (o “poço”) até o consumo no motor do carro (a “roda”).
No contexto de veículos elétricos: aborda desde a mineração de lítio para baterias, a geração de eletricidade (seja renovável ou não), até o uso final da energia para movimentar o carro.
Acho muito pertinente essa análise mais abrangente, pois de nada adianta termos uma tecnologia “limpa” se, para ser produzida, ela gera um impacto ambiental maior. Esse tema ainda tem muito que evoluir, e acredito que continuará a evoluir, com soluções sendo implementadas em toda a cadeia.
Muito se fala que a questão da sustentabilidade é uma demanda do consumidor. Eu, porém, ainda não consigo perceber bem essa demanda, exceto entre os consumidores mais jovens. Ainda que eu ache que cada um de nós tem que ser parte da solução ou do cuidado com a sustentabilidade a partir de escolhas individuais, eu conheço pouquíssimas pessoas que se dispõem a aumentar seus gastos em nome da sustentabilidade. Por isso, a equiparação de preços entre produtos sustentáveis e não sustentáveis é vital para o avanço da sustentabilidade.
Gosto muito de observar a direção dos movimentos. Mesmo que ainda haja muito a ser discutido sobre toda a cadeia produtiva dos carros elétricos, me parece que a direção para a redução das emissões de carbono é mais inteligente para a humanidade. Quanto mais observo o que está acontecendo com a temperatura no nosso planeta e os recentes acontecimentos climáticos, mais me sensibilizo de que uma economia baseada no carbono não é algo adequado para o nosso futuro. E o que consumimos faz toda a diferença.
No caso dos carros elétricos, simplifico um pouco o raciocínio. Quando usamos um carro a combustão, nós, os usuários, somos os responsáveis pelas emissões, pois escolhemos o tipo de energia, e o carbono é emitido durante o uso. Em um carro elétrico, durante o uso, não há emissões de carbono. Ou seja, durante o uso, não estamos contribuindo para agravar a crise climática. Se na cadeia produtiva ou na geração de energia ainda há emissões de carbono, a responsabilidade é do fabricante e do gerador da energia. A pressão recai sobre eles e, no fim, sobre os governos, que são corresponsáveis e obrigados a encontrar soluções regulatórias. É meio que jogar o macaquinho para outro ombro, eu sei.
Outro ponto que me intriga é a adoção dos híbridos — inevitável neste momento de transição. Mas fico imaginando se todo o esforço para desenvolver e lançar os híbridos pudesse ser canalizado para um grande consórcio que criasse uma rede de carregamento apropriada. Não vejo os híbridos como lógicos, devido à sua complexidade e custos. Não há como um híbrido ser mais barato que um elétrico quando o custo das baterias diminuir. E os híbridos leves (MHEV), acho que nem deveriam ser considerados híbridos.
Acredito que muitos dos nossos leitores, autoentusiastas como eu, talvez ainda tenham resistência aos carros elétricos pela nossa conexão emocional e sensorial com o som do escapamento, trocas de marcha, cheiro de gasolina, apreço pela mecânica, etc. Até gostaria de saber sua opinião nos comentários.
Mas, tirando a questão do carregamento, como já tive a oportunidade de experimentar muitos modelos e me interesso genuinamente pela sustentabilidade, venci os preconceitos e gosto muito dos elétricos. Acredito que existe sim prazer em dirigir um bom carro elétrico. E também acredito que os fabricantes não têm muita escolha, independentemente do que alguns governos priorizem, simplesmente porque as novas gerações e as futuras levam o tema da sustentabilidade muito a sério e fazem escolhas com base nesse fator. E alguns fabricantes estão se empenhando muito no quesito prazer de dirigir e melhoria da experiência sensorial.
Para mim, esse tema, além de importante, é fascinante. Poderia ficar o dia inteiro escrevendo sobre isso. Mas, na verdade, me empolguei nesta longa introdução para compartilhar uma pesquisa que recebi recentemente da GMKT Soluções e Diferencial Pesquisa de Mercado, que uniram forças para apresentar o estudo EcoDrivers. Trata-se de uma análise profunda que mapeia tendências, perfis e padrões de consumo no mercado de veículos elétricos no país.
Achei muito interessante apresentar aqui, não apenas como dados reais, mas também para estimular a reflexão e debate sobre o tema. E, ao contrário da minha percepção, o estudo aponta que a sustentabilidade é bastante importante na consideração dos consumidores.
Panorama do Estudo
Conduzido em agosto de 2024, o estudo envolveu 400 entrevistas online realizadas por meio do Painel TAP — uma ferramenta com mais de 19 milhões de participantes. O público-alvo incluiu consumidores das classes A e B, localizados nas regiões Sudeste, Sul e Nordeste, e proprietários de veículos fabricados a partir de 2022. O objetivo central foi compreender atitudes relacionadas à sustentabilidade e avaliar a disposição para a adoção de carros elétricos.
O estudo é bem extenso e o material tem 58 slides. Selecionei alguns para mostrar aqui. Vale a pena baixar o estudo completo neste link: https://wr5.com.br/dev/ecodriver/.
E depois dos slides, apresento um sumário com as principais conclusões apontadas pelo estudo.
As Conclusões
Os veículos elétricos estão cada vez mais presentes na consciência do consumidor brasileiro. Segundo o estudo EcoDrivers, o interesse por esses automóveis é crescente, acompanhado pela confiança de que essa tecnologia será predominante nos próximos anos. Contudo, o que mais se destaca é a percepção de que a migração para carros elétricos é inevitável. Seja pela necessidade de alinhar-se a valores pessoais ou pela transformação do mercado, os consumidores enxergam essa transição como uma realidade iminente.
Tendências e Perfis de Aderência
Como esperado, o maior interesse se concentra em segmentos pioneiros na adoção de novas tecnologias: consumidores mais jovens, pertencentes às classes A e B, e moradores de capitais. Entretanto, há outros fatores que impulsionam a aproximação dos brasileiros com os veículos elétricos, sendo a sustentabilidade um dos mais relevantes.
Além disso, enquanto a economia de combustível é um argumento importante para a mudança, o estudo revela que os benefícios ambientais – como a redução de emissões, o uso de energias renováveis e a diminuição da poluição sonora – são os verdadeiros catalisadores para a adesão à categoria. Consumidores com comportamentos sustentáveis no cotidiano demonstram maior propensão a adotar veículos elétricos, reforçando a conexão entre estilo de vida e escolha automotiva.
Segmentos em Destaque
Dois grupos específicos chamam a atenção pelo alto nível de interesse:
- Mulheres: Apresentam maior adesão à categoria em comparação aos homens, o que pode ser atribuído à maior exposição cultural a práticas sustentáveis, como redução no uso de sacolas plásticas, reciclagem e economia de água.
- Moradores de casas: Demonstram maior facilidade para adotar atitudes sustentáveis, como instalar painéis solares ou cisternas, e também possuem vantagens práticas, como a possibilidade de instalar carregadores em suas garagens, o que simplifica a transição para os carros elétricos.
Oportunidades e Desafios para as Marcas
No cenário competitivo, marcas dedicadas exclusivamente à categoria elétrica, como a BYD e Tesla, lideram o reconhecimento entre os consumidores. A BYD, em especial, ganha destaque por sua presença consolidada no mercado nacional. Entretanto, existe espaço para que marcas tradicionais, como Toyota e Chevrolet, ampliem sua relevância ao alinhar sua reputação a estratégias que fortaleçam sua posição no segmento elétrico.
Por outro lado, as marcas enfrentam desafios. Enquanto especializadas como a BYD focam na disseminação da tecnologia, as fabricantes tradicionais equilibram suas operações entre os veículos a combustão e os modelos elétricos. Essa transição gradual exige uma abordagem equilibrada, de modo a não comprometer o retorno sobre o investimento e preservar a imagem da marca.
Considerações Finais
A transição para os veículos elétricos é uma realidade inevitável, especialmente se considerarmos as gerações futuras e o impacto ambiental que não pode mais ser ignorado. O estudo EcoDrivers traz uma visão clara da tendência crescente de adoção, impulsionada pelo desejo dos consumidores de alinhar sua mobilidade às suas escolhas de vida sustentáveis.
A adaptação da indústria automobilística a essas demandas será crucial para que as marcas se posicionem de maneira relevante e consciente. Estar atento a essas mudanças e agir de forma inovadora será fundamental para captar e fidelizar o consumidor que já enxerga a sustentabilidade como um critério determinante na escolha de seus veículos.
Sobre os Realizadores da pesquisa
Com mais de 30 anos de expertise, a Diferencial Pesquisa é uma referência em pesquisas de mercado e inteligência estratégica. A GMKT Soluções, por sua vez, é especializada em planejamento estratégico de comunicação e análise mercadológica. Juntas, oferecem insights inovadores e soluções personalizadas para empresas que buscam compreender as dinâmicas de seus consumidores e as tendências emergentes.
Para mais informações sobre o estudo “EcoDrivers” ou para agendar entrevistas, entre em contato:
GMKT Soluções
Gislayne Muraro
Telefone: 41 – 98737-1333
E-mail: comercial@gmktsoluoces.com.br
Diferencial Pesquisa de mercado
Gustavo Bizelli
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E-mail: Gustavo@diferencialpesquisa.com.br
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