Nos últimos meses, muitos motoristas atentos têm percebido que a gasolina brasileira parece estar diferente. Ao abastecer em diferentes postos e realizar a leitura da porcentagem de álcool na mistura, um padrão tem se repetido: a presença de aproximadamente 30% de álcool, e não os 27% regulamentados pelo governo. Pode parecer um detalhe pequeno, mas esse aumento na proporção do biocombustível traz impactos significativos para o consumo, o desempenho e a durabilidade dos veículos.
Maior consumo, menor eficiência
A gasolina vendida no Brasil já é misturada com álcool anidro, em uma proporção definida por regulamentação federal. O limite atual é de 27%, mas na prática, a realidade tem sido outra. Com 30% ou mais de álcool na composição, o consumo dos veículos inevitavelmente aumenta. Isso ocorre porque o álcool tem um poder calorífico menor do que a gasolina pura, exigindo mais combustível para gerar a mesma quantidade de energia. Na prática, os motoristas acabam gastando mais para rodar a mesma quilometragem.
Além disso, veículos não flex, projetados para rodar apenas com gasolina, sofrem ainda mais. Motores que não foram desenvolvidos para lidar com esse nível elevado de álcool podem apresentar dificuldades na partida a frio, desgaste prematuro de componentes e até mesmo falhas operacionais em longo prazo. É um prejuízo invisível que os consumidores estão absorvendo sem sequer perceber.
Outro fator que agrava essa situação é que os testes de homologação de consumo e emissões realizados pela Ceteab e pelo Immetro são feitos com gasolina E22, ou seja, contendo apenas 22% de álcool. Isso significa que os números de consumo divulgados para os veículos novos já partem de uma referência diferente da gasolina disponível nas bombas, criando uma discrepância entre os valores oficiais e o que os motoristas realmente experimentam no dia a dia.
Cadê a fiscalização?
Se há um percentual máximo regulamentado de álcool na gasolina, por que tantos postos estão vendendo combustível com teor superior ao permitido? Essa deveria ser uma questão de fiscalização rigorosa por parte da Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP). No entanto, a sensação é de que essa fiscalização não tem sido eficiente, permitindo que distribuidoras e postos operem sem qualquer controle efetivo.
Os testes que detectam o percentual de álcool na gasolina são relativamente simples de realizar. Qualquer motorista pode verificar em casa, misturando gasolina com água e observando a separação das fases. Se um consumidor comum consegue perceber que há algo errado, por que os órgãos reguladores não estão agindo?

Prejuízo coletivo
Além do impacto direto no bolso dos motoristas, há um efeito cascata que pode prejudicar toda a cadeia automobilística. Um combustível adulterado ou fora das especificações regulamentares pode levar a problemas mecânicos mais frequentes, aumentar os custos de manutenção e até mesmo reduzir a vida útil dos veículos. Para os fabricantes, isso pode significar uma elevação no número de reclamações e acionamentos de garantia, comprometendo a confiabilidade das marcas no mercado.
A situação torna-se ainda mais preocupante quando consideramos que o Brasil já pratica um dos preços de combustíveis mais altos da região. O consumidor paga caro por um produto que, muitas vezes, não entrega o que deveria. E, sem fiscalização eficiente, a tendência é que essa prática continue impune.
O que pode ser feito?
O primeiro passo para enfrentar esse problema é aumentar a conscientização dos consumidores. Motoristas podem e devem questionar a procedência e a qualidade do combustível que estão comprando, além de exigir notas fiscais e procurar postos de confiança. Outra medida importante é cobrar dos órgãos fiscalizadores uma atuação mais presente e eficaz, denunciando casos suspeitos e exigindo mais transparência na composição da gasolina vendida.
Se o Brasil pretende manter sua frota eficiente e reduzir os custos operacionais para os consumidores, é essencial garantir que o combustível vendido atenda rigorosamente às especificações determinadas. No momento, infelizmente, o que se vê é um cenário de descaso e prejuízo generalizado para quem depende do carro no dia a dia.
GB