O GP de Mônaco (foto de abertura) tem a capacidade de provocar idiossincrasias em doses nada homeopáticas. Desde as características do circuito nas ruas de Monte Carlo até o apelo de exuberância em iates atracados e pequenos navios fundeados nesse enlace mediterrâneo, passando pelo clima de ver-e-ser-visto ostentado por milionários e plebeus, tudo gera antagonismos numa F-1 que cada vez mais busca espaços maiores. Insumo básico de baixíssima oferta no principado comandado pela família Grimaldi, espaço é a possível saída para tornar as corridas locais mais atraentes em termos de disputa e menos susceptíveis em termos de propostas mal formuladas e táticas criticadas pelas próprias equipes que usufruíram, ou não, desse expediente.

Lando Norris deve muito de sua vitória no último domingo ao fato de ter conquistado a pole position no sábado. Ter garantido alguns metros de vantagem sobre Charles Leclerc, segundo mais rápido na prova de classificação, exacerba o problema de espaço no principado. Essa vantagem foi suficiente para ele chegar primeiro na curva Saint Devote e seguir firme rumo à sua segunda vitória da temporada. A partir daí, quem vinha atrás amenizava como podia a falta de espaço para completar raras ultrapassagens seguras e legítimas.

As características de Mônaco impõem soluções técnicas específicas para o acerto dos carros aos atuais 3.337 metros que compõem cada uma das 78 voltas da prova. Os pneus, por exemplo, são os mais macios disponíveis, algo que é possível porque o asfalto recebe manutenção anual e a velocidade média é baixa: na melhor volta da prova Lando Norris levou 1’13”221 para percorrer esse circuito a 164,07 km/h, a menor média de todas as etapas da temporada. Contribuem para isso asas mais inclinadas e uma caixa de direção que permite maior esterço das rodas dianteiras para compensar a falta de espaço em curvas fechadas como o grampo onde o Hotel Fairmont ocupa o espaço antes identificado como Hotel Loews.

Este ano a regra de uma troca de pneus obrigatória foi alterada para duas paradas para esse fim, tentativa de compensar a crônica falta de ultrapassagem num circuito superestreito que fica ainda mais estreito em função do tamanho exacerbado pelos 5,6 metros de comprimento e 2 metros de largura de um F-1 atual. O que não se levou em conta para aplicar essa novidade foi a criatividade humana na busca para tirar proveito de uma situação inusitada. Assim, várias equipes determinaram que um de seus pilotos andasse deliberadamente devagar para criar a vantagem necessária para que o outro fizesse sua parada sem perder posições. A situação foi crítica a ponto de anular a fleugma do inglês George Russell: o piloto da Mercedes optou por receber uma punição por superar Alex Albon cortando caminho na chicane da saída do túnel.

Recentemente, o austríaco Alexander Wurz, ex-piloto de F-1 e atualmente trabalhando como consultor para projetar e reformar autódromos, apresentou três sugestões que contribuem para criar possibilidades de ultrapassagem. Elas estão situadas na curva do hotel Fairmont, na chicane na saída do túnel e na curva Rascasse e apenas uma demanda obras de engenharia mais amplas.


No ano que vem os carros estarão ligeiramente mais estreitos, mas ainda assim grandes demais para o apertado circuito monegasco. Enquanto isso prossegue o xadrez para resolver a falta de espaço e justificar a permanência de Mônaco numa época que a sofisticação local terá que concorrer com a popularidade de Las Vegas e da Disney, que terá um GP em 2026
O resultado completo do GP de Mônaco você encontra aqui.
WG
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