Testei a versão mais cara da atual linha Ford Ranger, a Limited V-6 Diesel 4WD AT (câmbio automático) com kit opcional, durante uma viagem de ida e volta de 590 quilômetros entre São Paulo e Santa Rita do Passa Quatro. Da fazenda onde me hospedei fui de carona para o Agrishow. Peguei trânsito urbano pesado, longos trechos de rodovias lisas como tapete e algumas estradas de terra. Uma avaliação rápida e direta. O carro testado estava com 28.600 km rodados.
Sobre a versão avaliada
O motor um V-6 de 3 litros que entrega 250 cv e 61,2 m·kgf de torque, sempre acoplado a uma caixa automática epicíclica de 10 marchas e sistema de tração 4WD com seletor eletrônico (2H, 4H, 4L e 4A) mais vários modos de condução. A aceleração de 0 a 100 km/h é feita em cerca de 9,2 segundos, e a velocidade máxima chega a 187 km/h.
Com peso em ordem de marcha superior a 2.280 kg, ela ainda oferece capacidade de carga de 1.054 kg e caçamba com 1.250 litros de volume. O tanque de 80 litros ajuda a compensar o consumo: segundo dados de fábrica, faz até 10,2 km/l na estrada, o que representa um alcance pouco maior que 800 km (veja mais sobre isso adiante), importante para uma picape que faz viagens longas com frequência e muitas vezes roda em locais distantes com abastecimento escasso.

O kit opcional inclui rodas de 20″, painel digital de 12,4″, câmera 360°, controle de cruzeiro adaptativo com estratégia para e anda, assistente de permanência e centralização em faixa, sistema de manobras evasivas, alerta de tráfego transversal à retaguarda e monitoramento de ponto cego. O preço sugerido com o pacote completo passa de R$ 366 mil.
Minhas impressões
O design exterior impressiona. A Ranger passa robustez logo no primeiro olhar. Os novos faróis com assinatura visual da Ford, a tampa traseira com o logotipo grande e os retrovisores panorâmicos enormes reforçam o estilo imponente. As barras longitudinais no teto, exclusivas da versão Limited, completam o visual parrudo de uma picape de origem americana (mas feita na Argentina).
Por dentro, o painel digital é completo, e o sistema multimídia tem bom tamanho e operação simples. A conexão com Android Auto sem fio funciona perfeitamente. Há ainda carregador de celular por indução, e o pareamento com o dispositivo foi rápido e direto.

O apoio dos braços nas portas e no descansa-braço central são macios e confortáveis — detalhe que não passa despercebido nem pelos durões do campo. Apesar do uso generoso de plásticos, o interior tem um desenho simples, elegante e coerente com a proposta da picape. Fácil de limpar e com aparência resistente, parece pronto para encarar poeira, barro e desgaste sem drama.
Os comandos do ar-condicionado são físicos, o que facilita o uso em movimento. O volume do áudio também tem botão próprio, algo que valorizo muito. Há dois porta-luvas — um superior e um inferior — que oferecem bom espaço. O sistema de áudio, num primeiro momento, pareceu apenas razoável para um carro topo de linha. Para um modelo voltado a longas distâncias, esperava algo mais refinado. Com o tempo, ele se mostrou melhor do que aparentava.
A interface da central multimídia é bastante intuitiva. Um detalhe que gostei: ao lado de cada função, há um ícone de informação que explica claramente a utilidade do recurso. Isso torna a operação mais fluida e dispensa manual. Outro ponto positivo é a chave presencial com botão de abertura na porta. O banco do motorista tem apoio lombar ajustável, o que ajuda bastante no conforto em viagens. Faltam apenas ventilação e aquecimento — o que faria diferença em regiões agrícolas de frio intenso pela manhã e calor forte ao longo do dia.

Na estrada, a estabilidade impressiona. A Ranger se mantém firme em velocidades elevadas, e a cabine é muito silenciosa. Mesmo equipada com as barras de teto, o ruído de vento é quase imperceptível. O consumo, considerando o tamanho e peso do veículo, foi bastante satisfatório: entre 10,8 e 11,2 km/l em ritmo normal, e entre 8,5 e 8,9 km/l com tocada mais forte. Na melhor condição, isso representa um alcance próximo de 900 km com um tanque — número importante para uma picape. Nada mau para um tijolão com aerodinâmica pouco favoável.
O motor V-6 turbodiesel entrega suavidade e silêncio, como convém a um V-6 a 60°, beneficiado por seu balanceamento natural de segunda ordem. Ele entrega potência de forma progressiva, mas com presença constante e cheia. Para uma picape, acho esse comportamento adequado: não é feita para arrancadas esportivas, e sim para respostas sólidas e confiáveis nas retomadas.

A suspensão, mesmo com eixo rígido e feixes de molas na traseira, é surpreendentemente confortável. Claro que ela pula — toda picape pula —, mas de forma mais suave. Sem trancos, sem maltratar o corpo. Em terrenos irregulares, não notei o quicar típico de picapes descarregadas. A calibração está realmente muito bem acertada.
O sistema 4×4 com caixa de transferência e bloqueio do diferencial central, com distribuição de torque sob demanda e vários modos, incluindo automático, é eficiente e bem-vindo. Há vários modos de condução que se combinam automaticamente com os modos 4×4. Não esperava nada menos que isso numa Ford.
A tela da central tem orientação vertical. Os comandos de ar-condicionado aparecem tanto físicos quanto digitais, uma redundância. O painel de instrumentos é totalmente digital, com leitura clara e boa organização. A configuração é única, mas bem montada: traz temperatura do óleo e do líquido de arrefecimento, pressão do turbo, temperatura do óleo do câmbio e alcance. Não senti falta de nenhum instrumento e equipamento, mas o conta-giros de leitura digital é muito estranho. Deve ser analógico ou de escala horizontal.
Os faróis são excelentes. Os bancos dianteiros são confortáveis e contam com bom apoio lateral. O encosto de cabeça tem posicionamento eficiente — próximo ao pescoço, sem encostar na cabeça. Mesmo após horas de viagem, o conforto permaneceu.

O câmbio automático de 10 marchas merece elogios: trocas suaves, quase imperceptíveis, e a possibilidade de trocas manuais por botões na própria alavanca. Simples e eficiente.
A suspensão reforça a sensação de controle: firme, estável e suave na medida, mesmo com feixes de molas na traseira. Para fechar, um detalhe funcional: gostei do degrau nas bordas do para-choque traseiro, que facilita subir na caçamba pela lateral. Mas não gostei da ausência de iluminação — há até o botão, mas a luz não está presente. Um pequeno vacilo.

No geral, a Ranger Limite com o kit opcional entrega o que promete: robustez, tecnologia e conforto em um pacote pronto para o trabalho e para a estrada. Um produto maduro, refinado e fiel à essência das picapes Ford.
Notas
Aqui estão as transcrições de todas as minhas notas feitas ao logo do uso.
5 km
- O design exterior é muito bacana. Passa robustez. Os novos faróis têm uma assinatura visual marcante da Ford. A tampa traseira tem um logotipo grande, os retrovisores têm visão panorâmica e são enormes. As barras no teto são da versão Limited. Enfim, só de olhar já dá para ver que é uma picape robusta, pronta para o tranco.
- Painel digital bem completo, sistema multimídia de bom tamanho e muito fácil de operar. Conexão direta e perfeita.
- Start/stop — por alguma razão, não esperava isso nesse carro.
- Posição de dirigir boa, bancos bons.
- Carregador de celular por indução.
- Conexão do celular com o sistema multimídia bem fácil e rápida com Android Auto e Apple CarPlay sem fio.
50 km
- O apoio dos braços nas portas e descansa-braço central são muito macios e confortáveis. Até os durões homens do campo gostam de carinho.
- No geral, o carro tem bastante plástico, mas com um design simples e elegante. Achei apropriado para uma picape robusta, que tem que enfrentar poeira, lama e todo tipo de terreno. Parece ser um interior fácil de limpar e, aparentemente, muito durável. Acho que está bem legal, mesmo.
- Comandos do ar-condicionado com botões físicos — muito conveniente numa picape. E volume do áudio também, com botão individual. Gostei disso.
- Dois porta-luvas, um superior e um inferior. Bom espaço.
- O sistema de áudio poderia ser um pouquinho melhor. É normal, sem grandes destaques, bem padrão. Esperava um pouco mais, especialmente considerando que é um carro de estrada, para longas viagens, e topo de linha. Sistemas de áudio nesse tipo de carro deveriam ser melhores. Mas está ok.
- A interface do multimídia é bacana, fácil de usar e intuitiva. Gostei bastante de um detalhe: ao lado de todas as possíveis configurações do carro há um símbolo de informação, e ao clicar nele o sistema explica exatamente o que cada função faz. Você não precisa adivinhar. Muito bem organizado.
- Chave presencial com botão de abertura na porta.
- Banco do motorista com apoio lombar ajustável. Mais conforto. Mas não tem aquecimento/resfriamento. Ambos seriam bem-vindos em locais de agropecuária com frio intenso de manhãzinha e calorão ao longo do dia.
500 km
- Estabilidade excelente em altas velocidades, gostei bastante.
- Muito silenciosa com pouquíssimo ruído de vento, mesmo nessa versão com barras longitudinais no teto.
- O consumo de combustível andando na boa, dentro dos limites, ficou entre 10,8 e 11,2 km/l. Andando mais chutado faz entre 8 e 9 km/l — ou mais precisamente entre 8,5 e 8,9. Achei bom para um carro pesadão desses. Um verdadeiro tijolão, com pouca aerodinâmica. E como disse, muito silencioso.
- Esse motor V-6 turbo é bem suave, muito lisinho, baixo ruído. Tem uma calibração voltada para suavidade. Não tem uma explosão de torque ou potência logo de cara, ele cresce de forma progressiva. O que acho bacana para uma picape. A gente não precisa dessa explosão em retomadas. Ele vai muito bem, sempre cheio. Mas talvez eu esperasse um pouco mais em arrancadas.
- Obviamente ela pula, mas com suavidade. Não dá aqueles trancos típicos de picapes com eixo rígido na traseira, não maltrata o corpo. A calibração de molas e amortecedores, especialmente na traseira, está excelente. E ela também não quica como outras. Normalmente, picapes com suspensão traseira mais rígida (para carregar 1 tonelada) quicam bastante em terrenos irregulares. Nesse carro, não senti isso. Interessante.
- A orientação da tela é vertical. Tem comandos do ar-condicionado tanto físicos quanto digitais. Há uma certa redundância aí, não entendi muito bem por quê — mas enfim, funciona. O sistema multimídia me agradou.
- O painel de instrumentos é totalmente digital, com boa organização e facilidade de leitura. Não tem muitas opções de personalização, mas a configuração de fábrica já é boa. Mostradores para temperatura do óleo, temperatura da água, pressão do turbo, temperatura da transmissão e autonomia. Um carro bem completo. Não senti falta de nenhum equipamento.
- Os faróis são muito bons, realmente bons.
- Banco dianteiro bem confortável. O posicionamento do encosto de cabeça é interessante: mais próximo do pescoço, mas sem encostar na cabeça. Fiz uma viagem longa e, em termos de banco, senti muito conforto.
- Depois de mais tempo ao volante achei sistema de áudio é melhor do que na primeira impressão.
- O câmbio de 10 marchas tem trocas muito suaves — mal sepercebe as mudanças. Também tem opção de trocas manuais por botões na alavanca. Nota 10 para esse câmbio.
- A suspensão, dentro das possibilidades de um eixo rígido com feixes de molas na traseira, tem um comportamento bem acertado e muita estabilidade na estrada, inspira confiança, além da suavidade.
- Gostei do degrau nas bordas do para-choque, que facilita subir na caçamba pela lateral. Mas não gostei da ausência de luz na caçamba — não custava nada colocar uma ali. Curiosamente há um botão para o acionamento de uma luz na caçamba.
Curiosidade
Em Santa Rita do Passa Quatro, ao lado do Parque Estadual Vassununga, resolvi entrar em um canavial para fazer algumas fotos da Ranger. Logo que desci do carro, notei umas pegadas interessantes na areia.

Uma das outras atividades que tenho é como conselheiro da instituição Onçafari, que trabalha para conservar a biodiversidade brasileira por meio da proteção de áreas naturais e do apoio ao desenvolvimento socioeconômico das comunidades locais. Por conta disso, já participei de diversos safáris de observação de onças-pintadas no Pantanal. Com o tempo, aprendi a reconhecer pegadas de onça.
E certamente as que vi ali eram de uma onça jovem. Foi uma surpresa e tanto. No dia seguinte, já de volta a São Paulo, o dono da fazenda onde fiquei me ligou dizendo que tinha acabado de avistar uma jovem onça preta ali por perto. Muito possivelmente a mesma que deixou as pegadas que eu encontrei.

Vale lembrar que, apesar de selvagens, onças não costumam atacar humanos em condições normais. Por isso, eu não senti medo. Apenas fiquei atento para que, caso a encontrasse, minha presença não representasse ameaça para ela.

Você pode saber mais sobre o Onçafari neste link: oncafari.org.
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PM
A coluna “Substance” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
Onde me encontrar: LinkedIn, Autoentusiastas, Substack, Jornal Roda e Instagram.
Paulo Manzano é engenheiro pela FEI, com pós-graduação em Marketing pela ESPM e MBA em Negócios pelo IBMEC. Com uma trajetória sólida e ampla na indústria automobilística, Paulo acumulou 30 anos de experiência em posições de liderança nas áreas de marketing, vendas, planejamento de produtos e relações públicas. Ele contribuiu para o crescimento e posicionamento de marcas renomadas como Jaguar Land Rover, PSA, BMW/MINI, Lexus, Toyota, GM e Mercedes-Benz, sempre com foco em inovação e excelência no mercado de luxo e automóveis premium. Em 2008, fundou o Autoentusiastas, um dos mais respeitados portais para apaixonados por automóveis, canalizando sua paixão e conhecimento para um público altamente engajado. Sua visão estratégica e capacidade de criar experiências memoráveis são marcas registradas de sua carreira, agora levadas à curadoria de experiências de luxo com a 88quatro8, seu novo projeto.