A 93ª edição da 24 Horas de Le Mans, disputada nos dias 14 e 15 de junho últimos, foi mais uma vez um espetáculo à parte. Com um grid altamente competitivo, apenas uma intervenção do Safety Car e um final eletrizante, a prova entrou para a história — tanto pelos números que impressionam quanto pela atmosfera única de quem, como eu, esteve no Circuit de la Sarthe. Com a divulgação dos números oficiais pela organização da prova, destacamos os pontos mais importantes da terceira vitória consecutiva da Ferrari, deste vez com a equipe cliente, a AF Corsa.

O público, o clima e a festa
Foram mais de 330 mil pessoas no circuito, transformando a região em uma verdadeira cidade efêmera, vibrante e apaixonada por automobilismo. A preparação para a largada é um show à parte: os carros alinham no grid no estilo tradicional de Le Mans — no lado direito da pista, em ângulo — com mais de duas horas de antecedência, o que permite uma rara interação entre máquinas, pilotos e centenas de convidados, personalidades e autoridades — um desfile informal que mescla informalidade e solenidade. O supercampeão de tênis, Roger Federer, foi o convidado para agitar a bandeira da França na largada às 4 horas tarde.

Ao final da corrida, os portões se abrem para a tradicional invasão de pista. Milhares de fãs caminham pela reta de chegada rumo ao pódio para celebrar os vencedores com um entusiasmo quase tribal — uma conexão direta entre público e protagonistas raramente vista em outros esportes.

E não é só na pista que o espetáculo acontece. As áreas VIP e de recepção espalhadas pelo circuito funcionam como vitrines do futuro da mobilidade: as principais marcas exibem lançamentos e conceitos, como num salão do automóvel a céu aberto, com foco em esportividade, inovação e performance.
Telões, zonas de descanso e praças de alimentação estrategicamente distribuídas garantem conforto a todos os públicos, e a experiência é complementada por um aplicativo oficial com classificação em tempo real, para que ninguém perca um detalhe sequer.

Os números da resistência
- A Ferrari chegou à terceira vitória consecutiva em Le Mans na era Hypercar, juntando-se à Audi, Porsche e Toyota nesse feito histórico.
- O carro nº 83 da AF Corse largou em 13º lugar e venceu a prova — a primeira vitória de um carro WEC partindo de fora dos top 10.
- 166 voltas foram pilotadas por Robert Kubica, com 59 delas em um único turno final, muitas delas sem hidratação por falha no sistema da garrafa.
- Foram 5.273 km percorridos — cerca de 250 km a mais que uma travessia de Manaus a Montevidéu no Uruguai — em 24h02min53s, a corrida mais longa da história do WEC em tempo contínuo.
- A Ferrari agora soma 12 vitórias gerais em Le Mans, uma a menos que a Audi.
- O Porsche chegou à sua 57ª presença no pódio da categoria principal, igualando a marca da Audi.
- Na LMGT3, o time Manthey 1st Phorm Racing manteve a invencibilidade, garantindo também a 50ª vitória da Porsche em GTs no WEC.
- Richard Lietz, com o Porsche nº 92, chegou à sua 14ª vitória no WEC, a sexta em Le Mans.
- A Inter Europol Competition venceu pela segunda vez a LMP2 em três anos, enquanto o britânico Nick Yelloly tornou-se o 13º piloto do Reino Unido a vencer na categoria desde 2012.
- O francês Tom Dillmann (LMP2 nº 43) encerrou um jejum de 3.514 dias sem vitórias no WEC, o maior intervalo da história da categoria.

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Tecnologia e precisão em cada detalhe
Se a disputa na pista exige tudo dos pilotos, fora dela o desafio é igualmente complexo. Com os carros modernos repletos de sensores e sistemas eletrônicos avançados, cada equipe mobiliza engenheiros e técnicos altamente especializados, monitorando dados em tempo real e ajustando estratégias a cada segundo. Foram mais de 30 pit stops por carro, em que cada fração de segundo pode significar posições no resultado final.

A vitória em Le Mans não acontece por acaso. É o reflexo direto da integração perfeita entre engenharia de ponta, preparo humano e trabalho coletivo. A cada edição, a prova se renova, mas mantém viva a essência que a tornou o maior palco do automobilismo mundial.
