Fato consumado, crises existem em todas as atividades humanas. Ocorre que em alguns casos elas acontecem em maior profusão e com efeitos pirotécnicos. No último fim de semana a F-1 vivenciou uma dessas situações: Fred Vasseur, responsável da Ferrari para a F-1, retornou inesperadamente à França, horas antes da largada do GP da Áustria, em Spielberg (foto de abertura). A Scuderia anunciou que o motivo para isso era “estritamente pessoal”, algo só confirmado extra-Maranello: a ausência foi em consequência da morte de sua mãe no dia 27 de junho. Fatos diversos, porém, tornam a atmosfera de Maranello ainda mais conturbada e implicam na presença de Vasseur, ainda não confirmada, no GP da Grã-Bretanha, evento programado para o próximo domingo, em Silverstone, na Inglaterra. Mais: os nomes de Jérôme D’Ambrosio e Antonello Coletta já pipocam com possível substituto.

Há motivos para se acreditar que a participação incompleta no GP da Áustria tenha sido o início do fim no que diz respeito à permanência de Vasseur à frente da Ferrari. Primeiro motivo: sua ausência só foi concretizada no intervalo entre a noite sábado e a manhã de domingo, embora sua mãe tenha falecido na sexta-feira. Segundo: até agora não foi feito nenhuma comunicado sobre um possível retorno de Vasseur ao seu posto na prova de Silverstone. Terceiro: a importância da Ferrari e o poderio da Fiat – hoje uma das marcas mais importantes do grupo Stellantis -, sobre os jornais diários da Itália foi notada pela ausência de notícias sobre o assunto. Quarto: muito antes do “retorno à casa por motivos estritamente pessoais” ser anunciado a batata de Vasseur já estava assando. Quinto: o site da revista Autosprint, outrora uma referência suprema no universo da F-1 por suas manchetes clamorosas, foi um dos raros veículos de competição italianos a apostar que a mais vermelha das equipes de F-1 já deu o bilhete azul ao dirigente francês.

É perfeitamente compreensível que o silêncio da mídia diária italiana frente ao caso tenha sido uma demonstração de respeito à privacidade de Vasseur. Ocorre, porém, que os motivos da excursão de Vasseur à frigideira que determinou seu futuro na F-1 vão além disso e precedem ao falecimento de sua mãe. São muitos os que apontam para o fato de imputar os problemas da equipe a outros e não ao responsável pela equipe, no caso ele próprio, e a falta de resultados e competitividade frente aos seus adversários. A seu favor consta o apoio de Lewis Hamilton e a desfocar essa imagem o fato de o monegasco Charles Leclerc há tempos ter sido escolhido para ser o novo campeão da Ferrari.

Por tudo isso não se pode dizer que o assunto está resolvido e os nomes de Jérôme D’Ambrosio e Antonello Colleta são os favoritos para ocupar a vaga de Vasseur. O belga D’Ambrosio já competiu na F-1 – conseguiu resultados medíocres a bordo dos poucos competitivos carros da Marussia em 2011 e da Lotus em 2012; além disso foi o segundo de Toto Wolff, na Mercedes, até ser contratado pela Ferrari para ser o segundo de Vasseur. De família aristocrata, ele é casado com Eleonore von Habsburg-Lothringen, tataraneta de Charles I, o último ocupante do trono de imperador da Áustria e rei da Hungria (1916-1918).
Colletta é um economista graduado na Universidade Sapienza, de Roma, onde nasceu há 58 anos. Sua experiência no automobilismo inclui passagens como diretor esportivo da Forti Corse, Peugeot Itália e Alfa Romeo antes de assumir o cargo de administrador do departamento de competições-Clientes da Ferrari em 1997. Seu nome foi mencionado para substituir Mattia Binotto (atualmente líder da Audi/Sauber), mas a vaga foi ocupada por Vasseur. Entre suas conquistas mais recentes estão as três vitórias consecutivas da Ferrari nas 24 Horas de Le Mans em 2023/24/25.
Os primeiros pontos de Bortoleto

Para os brasileiros a importante vitória de Lando Norris no GP da Áustria foi menos interessante que oitavo lugar de Gabriel Bortoleto, que pela primeira vez em sua curta carreira na F-1 marcou pontos. Competitivo durante todo o final de semana, Bortoleto chegou a disputar a Q3 – a terceira fase da prova de classificação de um GP onde os 10 mais rápidos disputam as vagas das cinco primeiras filas do grid, onde o brasileiro, coincidentemente, ficou com o oitavo lugar. Sua atuação foi reconhecida pelos fãs da categoria, que o escolheram como o piloto do dia em votação pela internet realizada durante as voltas finais da competição.
O retorno de Bernie

Surpresa maior na cerimônia do pódio em Spielberg foi a presença de Bernie Ecclestone representando o presidente da Federação Internacional do Automóvel (FIA), Mohammed bin Sulayem. O gesto de Ecclestone entregar a medalha de vencedor a Lando Norris vai muito além de cumprir uma formalidade protocolar. Num momento em que a imprensa inglesa acusa bin Sulayem de praticar uma gestão autoritária à frente a entidade e com mandato a expirar no final do ano, ninguém melhor do que o ex-manda-chuva da F-1 para auxiliar na campanha de reeleição. Visionários que enxergam nisso a pavimentação da candidatura de Fabia Ecclestone, brasileira casada com o inglês, para se tornar a primeira mulher a comandar a FIA.
O resultado completo do GP da Áustria de F-1 você encontra aqui.
WG
A coluna “Conversa de pista” é de exclusiva responsabilidade do seu autor.
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