PORSCHE 718 BOXSTER, LIBERDADE COM DNA DE CORRIDA

–O céu azul se abriu assim que girei a chave à esquerda do volante – um ritual clássico da Porsche – e o motor 4-cilindros 2,0 turbo do Boxster despertou com um ronco contido, mas promissor. Em segundos, a capota de tecido se recolheu atrás dos bancos dianteiros e a estrada se tornou uma promessa de liberdade. Durante uma semana, o 718 Boxster me acompanhou por avenidas movimentadas, estradas sinuosas e caminhos vazios. E o que ficou claro desde os primeiros quilômetros é que, mesmo sendo o modelo de entrada da marca de Stuttgart, ele carrega toda a essência de um verdadeiro Porsche.

Design com propósito

Há algo de mágico na silhueta de um roadster bem desenhado. O 718 Boxster equilibra proporções perfeitas: frente baixa, traseira imponente, entradas de ar funcionais e um perfil que já parece estar em movimento mesmo parado. Os faróis integrados e a traseira larga evocam esportividade sem exageros. Nada aqui é gratuito, cada linha tem função aerodinâmica, cada elemento contribui para o desempenho.

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A posição de dirigir é baixa e envolvente, com bancos de 14 vias de ajustes elétricos e memória, e que acomodam bem o corpo. O painel é limpo, com instrumentos analógicos que agradam os puristas. O volante tem empunhadura perfeita, e os comandos são acessíveis, sem distrações desnecessárias. Tudo aqui é voltado para o ato de dirigir.

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Motor turbo, emoção real

Alguns puristas torcem o nariz para o motor quatro-cilindros 2,0 turbo, especialmente quando comparado ao boxer 6-cilindros de aspiração atmosférica dos GTS. Mas na prática, esse motor entrega mais do que o necessário para emocionar. São 300 cv a 6.500 rpm e 38,7 m·kgf de torque entre 1.950 e 4.500 rpm, suficientes para levar o Boxster de 0 a 100 km/h em 4,9 segundos com o câmbio PDK de sete marchas, como era o caso do carro avaliado.

Na condução urbana, o alto torque em baixas rotações proporciona respostas rápidas e suaves. O turbolag é discreto, perceptível apenas em acelerações muito suaves, mas desaparece completamente quando se adota um ritmo mais entusiasta. O câmbio automático robotizado por dupla embreagem brilha com trocas rápidas e praticamente imperceptíveis, especialmente nos modos Sport e Sport Plus, onde o carro revela seu caráter mais esportivo.

Comportamento dinâmico exemplar

O que realmente diferencia o 718 de outros esportivos é sua dinâmica. A posição central-traseira do motor, combinada com a distribuição de peso quase perfeita e um chassi extremamente rígido, proporciona um comportamento neutro, preciso e instintivo. Em curvas rápidas, o Boxster gruda no asfalto com impressionante estabilidade. A direção com assistência elétrica é firme, rápida e comunicativa, um dos pontos altos da experiência dada sua boa definição de centro.

A suspensão equilibra bem firmeza e conforto com suas duas curvas de amortecimento selecionáveis através de interruptor no console central, ou ao selecionar modo de condução Sport e Sport Plus. Em vias urbanas esburacadas, o rodar é mais seco, como esperado, mas nunca desconfortável. Já em estradas lisas e curvas, o carro mostra toda sua vocação para a tocada esportiva. A traseira se mantém previsível mesmo em trocas rápidas de apoio, e os freios respondem com precisão alemã.

Capota aberta: outro mundo

A experiência de dirigir com a capota baixada transforma completamente o carro. A conexão com o ambiente se intensifica: o som do motor ganha presença, o vento toca o rosto e cada cheiro da estrada se torna parte do momento. Não é só dirigir, é estar presente no trajeto.

Mesmo em velocidades de cruzeiro, o isolamento acústico é razoável, e a estrutura do carro não apresenta flexões perceptíveis, e muito menos ruído de vento pelas frestas entre capota e carroceria. A Porsche acertou ao construir o Boxster como conversível desde o início, o que garante rigidez torcional invejável.

Interior funcional e bem-acabado

O interior segue a linha funcional da Porsche. Nada de firulas ou telas imensas: há o suficiente para entreter e informar, sem desviar a atenção da pista. A central multimídia de 7 polegadas com Apple CarPlay e navegador é simples, mas eficaz. Os materiais são de qualidade superior: couro, alumínio escovado e plásticos agradáveis ao toque dominam a cabine.

Apesar das dimensões compactas, o 718 surpreende com dois porta-malas — um dianteiro de150 litros e outro traseiro com 122 litros — que permitem pequenas viagens com tranquilidade. Há também porta-objetos bem distribuídos na cabine, o que o torna mais prático do que aparenta.

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Consumo e usabilidade

Durante a semana de testes, rodando em uso misto (cidade, estrada e trecho esportivo), a média de consumo ficou entre 9 e 10?km/l, números bastante razoáveis para um carro com desempenho acima de 250 km/h. Em modo de condução mais relaxada, é possível até superar os 12 km/l, embora esse definitivamente não seja o foco de quem compra um Porsche.

No dia a dia, o Boxster se mostrou perfeitamente utilizável: visibilidade boa com a capota aberta ou fechada, comandos leves e dimensões que facilitam manobras urbanas. Em garagens apertadas, os sensores e a câmera de ré ajudam bastante.

Conclusão: um Porsche acessível, mas autêntico

O Porsche 718 Boxster 2,0 pode ser a porta de entrada para o universo da marca com preço a partir de R$ 555 mil e uma lista de equipamentos e opções que pode acrescentar facilmente mais R$ 100 mil. Mas não é um carro que entrega menos do que se espera. A dirigibilidade precisa, o equilíbrio dinâmico, o prazer de guiar a céu aberto e a solidez construtiva tornam este carro um verdadeiro Porsche, com tudo o que isso representa em termos de legado, esportividade e emoção.

Sim, o som não é o mesmo do flat-six. Mas o 2,0 turbo tem sua própria carronalidade e oferece desempenho mais do que suficiente para encantar qualquer entusiasta. E com a vantagem de ser mais eficiente, leve e menos custoso que os irmãos mais potentes.

Mais do que um carro, o Boxster é uma experiência. E depois de uma semana ao volante, fica claro que há algo profundamente especial num conversível com o coração e a alma de um verdadeiro esportivo. Ele não precisa gritar para ser notado — basta acelerar.

GB