Hamilton vence e abre nova temporada. Bottas parte em busca do vice. Novatos famintos.
Decidida em favor de Lewis Hamilton, a F-1 2017 começa nova temporada condensada em duas provas, Brasil e Abu Dhabi. O alemão Sebastian Vettel não teve êxito em prorrogar a disputa do título para Interlagos, mas nem por isso pode relaxar: com apenas 15 pontos à frente do finlandês Valtteri Bottas 277 contra 26, e 50 em jogo, a Mercedes deverá centrar suas atenções para que o companheiro de Hamilton supere o piloto líder da Scuderia e consiga o vice-campeonato. No outro lado da tabela, os novatos com chance de efetivação nas vagas em aberto vão aproveitar toda e qualquer chance de mostrar que podem entregar mais que nomes na ativa. Neste campo, a temporada de Super Fórmula com um carro dotado de motor Honda é o grande trunfo do francês Pierre Gasly.
O quarto título de Lewis Hamilton o equipara a Alain Prost e Sebastian Vettel e foi conquistado na segunda metade da temporada. Na primeira ele mostrou inconstância, foi batido por Valtteri Bottas em algumas oportunidades e sucumbiu à maior competitividade da Ferrari, o que ajudou Sebastian Vettel a abrir vantagem que chegou a 25 pontos. A virada aconteceu no GP da Grã-Bretanha (GP da Inglaterra para nós, brasileiros) e em meio a circunstâncias que provocaram críticas ao seu compartimento.
Enquanto todos os pilotos prestigiaram o grande evento que a Liberty Media promoveu em Trafalgar Square, o inglês, ídolo da casa, preferiu viajar com seus amigos e curtir a praia, ausência que foi criticada, com razão. Dias depois ele respondeu com uma bela atuação em Silverstone, palco da primeira grande decepção da Ferrari no ano: na fase final da prova os carros italianos foram derrotados por pneus que não suportaram o ritmo de Vettel e Räikkönen.
Erros estratégicos e falhas técnicas a partir de então contribuíram para que Hamilton se impusesse frente a um Vettel que ganhou notoriedade por seus lamentos, o mais sonoro deles ocorrido no circuito de rua de Baku. Mestre em criar uma situação em que explorava melhor as relargadas ao final de intervenções do safety car, Hamilton exagerou na dose e o alemão, que vinha sua cola, não foi teutônico o suficiente para se controlar. Ao bater rodas com o carro do rival, propositalmente, o ferrarista anulou qualquer chance de reprimenda da FIA ao inglês e amargou prejuízo moral com seus próprios fãs.
Daí para frente, em particular em Cingapura e no Japão, dois abandonos por problemas mecânicos ajudaram a esfriar muito o que restava de ânimo à brigada da Scuderia. Enquanto isso Hamilton colecionava vitórias, exibia a atitude típica de quem sabe que a vida lhe sorri e seguia marcando pontos em todas as etapas. Mais do que uma presença comum no pódio, ele triunfou em cinco provas praticamente seguidas: Bélgica, Itália, Cingapura, Japão e Estados Unidos.
Na outra, Malásia (entre Cingapura e Japão), o inglês foi segundo atrás de outro grande personagem do ano, o holandês Max Verstappen. A prova de Sepang encerrou, ao menos por enquanto, a presença da Malásia na temporada de F-1 e também a fase de menino travesso que acompanhava Verstappen desde o início da temporada. Se Hamilton mostrou maturidade crescente ao longo da temporada, seu rival da Red Bull caminha a passos largos para se firmar como o novo padrão de arrojo da categoria. Com manobras e personalidade que lembram Ayrton Senna, o filho de Jos e Sophie conquistou mais que duas vitórias em 18 largadas deste ano: seu contrato foi estendido para 2020 sem que Daniel Ricciardo se desse conta.
A maneira como isso aconteceu deixou claro duas coisas: o australiano já não é mais o queridinho na equipe que divide com o holandês — e que a equipe aposta na juventude do rebento, cidadão nascido na belga vila de Hasselt, mas que espalha a cor laranja pelas arquibancadas do mundo. Não é demais lembrar que as distâncias entre muitas cidades da Holanda e Bélgica podem ser cobertas em muito menos tempo que o que se gasta entre os extremos da cidade de São Paulo.
Voltando ao tema desta coluna: é bem provável que Ricciardo seja o substituto de Valteri Bottas em 2019. Há poucos meses ele declarou que não iria para a Ferrari pois não quer ser segundo piloto para Sebastian Vettel e na semana passada Hamilton elogiou Daniel de maneira a pavimentar um futuro bom relacionamento com quem deve ser seu companheiro de time num futuro próximo.
Nem por isso Valtteri Bottas está triste: tudo indica que com os títulos de construtores e de pilotos garantidos pela quarta temporada consecutiva chegou a vez da equipe trabalhar em prol do finlandês. Considerando a fase da Ferrari e o poderio da Mercedes, os 15 pontos de vantagem de Vettel sobre Bottas podem ser invertidos nas duas próximas corridas e garantir o vice-campeonato ao ex-companheiro de equipe de Felipe Massa. Nada mau para quem se sujeitou a fazer um trabalho de desenvolvimento enquanto Hamilton usava o equipamento testado, comprovado e mais eficiente.
Se Bottas tem o respaldo de uma grande estrutura, o que poderá lhe direcionar a uma equipe de ponta em 2019, há uma turma de jovens que está ávida por uma chance em times menos privilegiados. Alfonso Celis Jr, Antonio Giovinazzi, Charles Leclerc, Pierre Gasly, Sean Gelael, e mais discretamente Sergey Sirotkin, são nomes que tentam conquistar espaço seja como titular, seja como reserva. De todos, Gasly (na futura aliança Toro Rosso-Honda) e Charles Leclerc (na Sauber-Ferrari) estão praticamente garantidos em alinhar em todas as provas da temporada 2018.
Giovinazzi depende da Ferrari para achar uma vaga, possivelmente na Sauber ou na Haas. Apesar de já confirmados para 2018, Romain Grosjean e Kevin Magnussen não têm correspondido à confiança que o time americano lhe dedica e uma mudança não seria de todo surpreendente. A briga por vagas, porém, tem nomes mais experientes: Daniil Kvyat, Robert Kubica, Paul Di Resta, Brendon Hartley…
Destes, o neozelandês Hartley já assinou com a Toro Rosso, onde fará par com o francês Gasly, dupla que termina a temporada esquentando o banco na escuderia que sucedeu à saudosa e querida Minardi. Kvyat provavelmente vai alinhar em outras paragens. Di Resta sonha (e bem alto) com a vaga de Felipe Massa na Williams e Robert Kubica pode muito bem acabar disputando o campeonato alemão de GT. Quem está cuidando da carreira do polonês é Nico Rosberg, que é sócio do Team Rosberg junto com seu pai e em 2018 inscreverá dois Lamborghini Huracán nesse torneio.
WG