CAOA CHERY ARRIZO 5, CARRONALIDADE IRRELEVANTE (COM VÍDEO)

Não sei quantos leitores e leitoras conhecem o termo ‘carronalidade’ empregado no título. Foi criado pelo editor associado Juvenal Jorge para substituir ‘personalidade’, já que automóvel não é pessoa (embora seja mais querido de nós do que muita gente). Brincadeira à parte, é exatamente o que se sente ao entrar e dirigir esse chinês fabricado em Jacareí, região do Vale do Paraíba, no interior paulista. Nada deixa a entender que é um carro chinês.

Talvez seja, ou certamente é, aquilo que o colunista Alexander Gromow me explicou um tempo atrás, a semelhança de produtos mundo afora, usando para isso uma expressão alemã: Zeitgeist [tzait’gaist]}, espírito do tempo. O desenho deste sedã, com seu terceiro volume — o porta-malas — bem curto, é praticamente um padrão hoje. E é assim pelo carro todo, estilo frontal, inclinação do para-brisa. Um “cidadão” do mundo.

Não admira que seja assim. As cabeças pensantes em geral mudam de emprego, mais precisamente de empregador, como o designer alemão Peter Schreyer, que de Munique se mudou para Seul e hoje é um dos três presidentes da Hyundai-Kia. E há também os maiores fornecedores, como Bosch e, ZF, que estão nos quatro cantos do mundo e vendem (e desenvolvem) produtos para os fabricantes, onde quer que estejam. É por isso a sensação de se estar ao volante do Arrizo 5 ou ao fechar uma porta, que em nada difere um carro do Trio de Aço alemão.

Duas versões

O Caoa Chery Arrizo 5, lançado há pouco mais de dois anos na China, está no Brasil desde novembro em duas versões de igual trem motriz, motor de quatro cilindros 1,5-litro turbo e câmbio automático CVT: RX e RXT, de R$ 66.990 e R$ 73.990, respectivamente, já ano-modelo 2019. A CAOA Chery diz ter unidades ano-modelo 18/19 por mil reais menos cada

As principais diferenças do RXT para RX, são teto solar, bancos de couro, bolsas infláveis laterais.e rodas de 17 polegadas (16 polegadas no RX), embora os pneus sejam de mesma seção transversal, 205 mm. O que muda é o RX vir com rodas de 16″ com pneus 205/55R16V, enquanto no RXT são 205/50R17W.  A diferença de R$ 7.000 entre elas é perfeitamente justificável, uma vez que teto solar normalmente é um item caro. E não há nenhum opcional, o que é ótimo. Portanto, o RX não é exatamente a versão de entrada, até o multimídia é o mesmo nos dois. Ambas as versões são oferecidas em cinco cores: branca e preta (sólidas) e as metálicas azul, marrom e prata, que custam R$ 1.190.

O que não tem

Já adianto o que Arrizo 5 RXT não tem, para que o leitor ou leitora não precise ficar em dúvida ou supondo. O carro não traz desliga/liga (start/stop) motor nas paradas, faróis de neblina, espelho no para-sol do motorista, iluminação no espelho do para-sol do passageiro, controle de neutro do câmbio, borboletas para trocas de marcha,, ajuste de distância do volante, faixa degradê no para-brisa, encosto do banco traseiro bipartido, iluminação no porta-luvas, saída de climatização para o banco traseiro, luz de leitura traseira, porta-óculos, espelho interno eletrocrômico, e presilhas para os sobretapetes,.

Mas uma olhada na lista de equipamentos no final servirá para se conhecer a farta dotação de itens importantes, como luz traseira de nevoeiro, câmera traseira, ajuste de altura de ancoragem dos cintos dianteiros nas colunas, volante revestido de couro, e vários outros.

O Arrizo 5 mede 4..532 mm de comprimento com entre-eixos de 2.650 mm, 1.814 mm de largura sem espelhos e 1.487 mm de altura, dimensões que permitem classificá-lo mais como médio do que médio-compacto. Como resultado, o espaço interno, como no banco traseiro é muito bom.

O porta-malas, que tem iluminação, é de 430 litros. Uns 20 litros ou 30 litros seriam bem-vindos. O estepe é temporário estreito com roda de aço. O vão de abertura do porta-malas é de 1,08 metro por 0.48 metro, conveniente, com dobradiças “pescoço de ganso”. A fechadura é elétrica e conta tem destravamento externo por interruptor, além do controle remoto pela chave.

O motor 4-cilindros de 1,5 litro é turbo com duplo comando e 4 válvulas por cilindro, flex, de 147/150 cv e 19,4 m·kgf a .4.000 rpm independente de combustível. A potência é compatível, mas o torque é algo baixo para a cilindrada — torque específico de 12,9 m·kgf/L;o normal seria em torno de 15 m·kgf/L Uma explicação pode estar  na injeção ser no duto, e não direta.

Embora a rotação de pico de torque seja alta comparativamente ao que se vê hoje, nota-se boa entrega de potência em baixos regimes apesar de não ser possível senti-la na íntegra por o câmbio não ser manual. O comando de admissão de fase variável sempre ajuda na elasticidade. Talvez haja uma discrepância nos números fornecidos, uma vez que, com álcool, o torque na potência máxima (um simples cálculo) é maior que o torque máximo, o que é impossível. Com gasolina esse torque calculado é de 19,1 m·kgf, menor que o torque máximo,, mas com álcool temos 19,5 m·kgf, 0,1 m·kgf mais.

Seja como for, o motor movimenta bem o carro de 1.348 kg. Não há dado oficial de aceleração e de velocidade máxima, mas estimo 11,5 a 12 segundos e em torno de 190 km/h, respectivamente, uma vez que a relação peso-potência é 9,2/9,0 kg/cv. Por falar em relação, a r/l do motor é boa, 0,29.

O câmbio automático CVT acopla-se ao motor por conversor de torque. Percebe-se bem as marchas programadas com qualquer dos modos, Sport e Eco, selecionáveis por botão no console ao lado da alavanca seletora. Além das universais posições P-R-N-D há a L (low, faixa de relações mais reduzida) para freio-motor.

A relação mais longa é 0,427:1, que combinada com a relação de diferencial 5,141:1 e os pneus 205/50R17W resulta numa v/1000 de 53,1 km/h, ou 2.260 rpm a 120 km/h. O conversor de torque bloqueia cedo. O rodar é silencioso e notei um detalhe interessante ao ir de casa à Estrada dos Romeiros: chovia bastante e os espelhos externos se mantinham secos, com a água escorrendo bem pelos vidros das janelas permitindo boa visibilidade lateral.

A suspensão é o habitual binômio McPherson-eixo de torção e sua calibração é bem à brasileira atual, firme sem ser desconfortável e proporcionando comportamento preciso nas curvas, com subesterço discreto. Além da ausência de rumorosidade de seu funcionamento, nada de pancadas ao transpor lombadas, sinal de haver batente hidráulico de distensão nos amortecedores.

Há controle de estabilidade e tração, que é desligável. A direção eletroassistida deveria prover mais assistência em velocidades de manobra, mas à medida que a velocidade aumenta fica perfeita, em especial em velocidades de autoestrada, quando deixa o volante com peso exato, além de ter centro definido.

O volante de 370 mm de diâmetro só tem ajuste de altura e a amplitude de ajuste é bem restrita. Não tive dificuldade de encontrar a posição de dirigir ideal, mas o volante precisou ficar na posição inferior máxima. Os bancos dianteiros são particularmente bons e confortáveis e há lugar para o pé esquerdo.

O freio a disco nas quatro rodas, com o dianteiro ventilado, denota bom cálculo, detendo ou desacelerando o veículo como deve, sem críticas. Os pneus são nacionais, já que o Arrizo 5 é produzido aqui, e no carro testado eram  Michelin Primacy 4 205/50R17W, escolha da medida acertada também.

Em consumo, o Inmetro aponta 9,0/6,7 km/l na cidade e 12,1/8,4 km/l, na estrada. O carro nos foi entregue com álcool e rodando na cidade consumo ficou entre 6,5 km/l e 7 km/l. Na estrada, fui com ele ao campo de provas da GM, em indaiatuba, e o consumo médio foi 9,2 km/, melhor até do que o oficial. Mas chegando à marginal do Tietê, pela Rodovia dos Bandeirantes,o tanque estava quase zero e abasteci num posto logo no começo da Rodovia Anhanguera que eu sabia haver. Coloquei apenas 15 litros de gasolina, pois me sirvo de um posto em Moema em que confio.

Saí do posto e o computador de bordo indicou, em todo o trajeto do resto da marginal do Tieté e grande parte da do Pinheiros, cerca de pouco mais que 10 km/l. Havia tempo e distância mais que suficiente para detectar o novo combustível, mas estabilizou-se daí para menos.

Quando fui à Estrada dos Romeiros, no meu percurso habitual, ainda com a mesma gasolina cheguei ao posto Vitório no km 44 com o computador indicando 10,2 km/l. Consumo exagerado, pensei. Abasteci então nesse posto 20 litros por desconfiar da gasolina que estava no tanque e fui para o ponto na Estrada dos Romeiros onde habitualmente usamos como base para fotos e gravação de vídeo, a Maison Blanche. Cheguei a falar isso no vídeo.

Na volta para casa o computador estabilizou em 14,6 km/l, consumo médio. Conclusão, a tal gasolina do posto da Anhanguera devia ser altamente “alcoolizada”. O Arrizo 5 consome conforme o dado oficial.

Portanto, a despeito de ser marca relativamente nova no nosso mercado, bem como ser um modelo totalmente novo, ficou a certeza de que o Arrizo 5 merece atenção por parte de quem está racionalmente à procura de um sedã.

Assista ao vídeo:

BS

Atualizado em 23/04/19 às 9h40, correção do perfil dos pneus, é 50 e não 55 como citado antes. Texto corrigido de acordo com essa mudança)